sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Laudo de 2009 alertou Receita Federal sobre importação de lixo hospitalar dos Estados Unidos

Um laudo da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) informou à alfândega da Receita Federal, em 2009, que tecidos hospitalares "rasgados", "bastante sujos" e com logomarcas de unidades de saúde dos Estados Unidos estavam sendo importados pela empresa têxtil NA Intimidade Ltda., de Santa Cruz do Capibaribe. O laudo foi solicitado pela própria Receita Federal ao proprietário da carga, que o apresentou aos fiscais. Apesar do laudo, o órgão liberou a carga. O documento, produzido pelo Laboratório de Experimentação e Análise de Alimentos do Departamento de Nutrição da universidade, é datado de 14 de dezembro de 2009 e foi elaborado para verificar o material de um contêiner que chegou ao Porto de Suape importado pela empresa pernambucana. "Localizamos logotipos de hospitais em amostra de conteúdo importado, tais como Saint Thomas Hospital, Vanderbitt University Medical Center, Department of Veteans Affairs”, diz o laudo. Apesar do laudo, a carga foi liberada pela Receita Federal. As amostras dos tecidos analisadas pela UFPE deram resultado "positivo" para a presença de “patógenos”: “Abrimos dois fardos e recolhemos amostras do tecido de algodão na cor branca, e com nomenclatura de hospitais estrangeiros, estampados nos tecidos". Todo o material foi analisado em um laboratório de microbiologia da UFPE. Apesar das análises laboratoriais e da indicação de material hospitalar, os fiscais aduaneiros liberaram a carga sem solicitar estudos mais aprofundados dos riscos que os microorganismos trariam. A liberação da carga foi atestada pelo engenheiro químico Jorge Campelo Cabral. O laudo da UFPE é assinado pela professora Margarida Angélica Vasconcelos, que coordenava o Laboratório de Experimentação e Análise de Alimentos do Departamento de Nutrição, e pela gerente técnica do setor de microbiologia da UFPE, Graciane da Nobre Cruz Ximenes. Segundo Margarida Angélica Vasconcelos, os laudos deixaram claro que os tecidos eram de hospitais norte-americanos e que eles estavam infectados com microorganismos que poderiam prejudicar a saúde humana. Ela explicou que as análises foram solicitadas para que fosse observada apenas a presença de patógenos, sem se aprofundar nas análises de grupo e classe. “O nosso trabalho é similar ao de um laboratório de análises hematológicas. Naquele caso, o pedido era para saber se tinha presença ou não de patógenos. Não podemos sugerir que outras análises detalhadas sejam feitas. O cliente é quem deve, dependendo do resultado, solicitar novos estudos mais aprofundados”, explicou Margarida, reforçando que o laudo informou que as amostras dos tecidos continham inscrições de hospitais norte-americanos. “A Receita Federal pediu ao dono da carga a análise. Eles é que deveriam ter solicitado outra investigação mais detalhada do que eram os patógenos, com classes e grupos, além dos riscos para saúde humana”, afirmou ela.

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