domingo, 6 de novembro de 2011

Dilma quer usar crise para baixar juro

A presidente Dilma Rousseff tem chances de marcar sua gestão com o ataque a um dos maiores problemas da economia brasileira: as mais altas taxas de juros do mundo. Ela prometeu, na campanha eleitoral, que ao final de sua administração o Brasil estaria no mesmo clube das economias mais desenvolvidas, com uma taxa de juro real na casa dos 2%. A crise que engolfa a Europa e os Estados Unidos é vista pela presidente como "oportunidade imperdível", uma "janela" que ela está determinada a aproveitar ao máximo. Com a economia brasileira e mundial crescendo em ritmo mais lento, o processo inflacionário tende a dar um descanso. Com isso, o Banco Central poderá reduzir mais as taxas de juros sem correr risco de descumprir as metas de inflação. Em praticamente todas as conversas a presidente bate na mesma tecla: é preciso evitar aumento de gastos, para permitir a redução do endividamento público. Assim, são criadas condições para a reduzir os juros. O fortalecimento da política fiscal é tratado como obsessão no Planalto. Dilma tem pedido colaboração aos parlamentares para evitar a aprovação de medidas como o reajuste do Judiciário ou a proposta de emenda constitucional que cria um piso salarial para as polícias, a chamada PEC 300. Trata-se de uma despesa que cabe aos governos estaduais, mas esses pedem socorro federal para financiá-la. Ela também já convocou os líderes para uma reunião no Planalto para mostrar que não abre mão da aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), mecanismo fiscal que retira R$ 62 bilhões dos gastos constitucionais obrigatórios e libera o governo para usar esse dinheiro a seu critério. Dentro do governo, a ordem é segurar os gastos, mas sem deixar de investir e sem prejudicar o crescimento. Para isso, Dilma chamou a si as decisões sobre os programas de governo, provocando reclamações quanto à paralisia da máquina e excessiva centralização. Um auxiliar próximo cita como exemplo um ambicioso plano de saneamento, de cerca de R$ 15 bilhões, elaborado pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP). A presidente não pretende nem discuti-lo. Ela entende que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já contempla a área, mas vem funcionando mal. Ou seja, não é hora de criar programa novo. A centralização das decisões tem outro objetivo: conter os ímpetos de ministérios que ela considera "descontrolados". Pastas como Esportes e Turismo, que estiveram no centro das denúncias de corrupção, tiveram verbas liberadas a conta-gotas. Mesmo com toda essa disposição, economistas de fora do governo põem em dúvida a capacidade de o governo cumprir a meta de superávit primário no próximo ano. O economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, por exemplo, aposta que será necessário elevar os juros no fim do ano que vem, dado que a meta de resultado fiscal, um saldo equivalente a 3,1% do PIB, não será atingida.

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