sábado, 10 de dezembro de 2011

Cubano amputado deserta para os Estados Unidos levando apenas medalhas do Parapan

O nadador cubano Rafael Castillo, de 25 anos, medalhista de ouro e prata no Parapan de Guadalajara, cruzou a fronteira entre o México e os Estados Unidos em busca de asilo apenas com uma troca de roupa e as medalhas que havia ganho. Castillo teve o braço e a perna amputados por negligência médica quando era bebê. O nadador desertou da equipe cubana em novembro. "Nunca planejei desertar. Me ocorreu um dia, após bater o recorde, ao meio-dia. Estava almoçando, sozinho, senti muita raiva de todas as coisas que me haviam feito em Cuba e que não queria voltar", relatou Castillo. O cubano ganhou o ouro na prova de 50 m estilo borboleta e marcou o melhor tempo do continente (33s), ele também conquistou a prata nos 100 m livre. "Tomei esta decisão porque pensei que, para mim, o esporte ia ser muito melhor aqui do que lá, e para ser mais livre do que era", comentou o esportista que chegou a Miami há 15 dias. Ele relatou que, em Cuba, se sentia limitado ao não poder estar em mais eventos esportivos internacionais. Ele não pode ir ao último Mundial: "Me proibiram, não me deixavam sair... Não sei por quê. Estava muito bem preparado para todas as competições. Estas proibições são comuns a muitos atletas de Cuba. Por isso acredito que desertam tanto". Outro problema comum a atletas paraolímpicos de Cuba, segundo Castillo, é em relação à alimentação que só é adequada quando eles estão em competições. "É o que chamam de reforço priorizado e que está reservado para os atletas convencionais, não para os deficientes", disse. Castillo é deficiente desde que, em um hospital do país, lhe aplicaram um "soro vencido porque ele estava desidratado". "Isso fez com que me amputassem a perna e o braço, tive uma gangrena", explicou. Para fazer a travessia do México para os EUA, Castillo recorreu a uma jovem mexicana, voluntária dos Jogos arapanamericanos, quem o levou em um veículo para fora da Vila Pan-Americana: "Peguei a mochila com várias coisinhas de roupa e sem papéis porque uma vez que chega ao país onde vai competir (as autoridades cubanas) nos pegam tudo. As medalhas eu trouxe comigo". Castillo viajou sozinho de ônibus desde Guadalajara até Matamorros e, ali, cruzou a fronteira através de Brownsville, no Texas. Para comprovar sua nacionalidade, ele mostrou às autoridades de imigração a credencial que usava dentro da Vila Pan-Americana e suas medalhas. Nos Estados Unidos, contatou um amigo jornalista que comunicou o caso a uma TV de Miami, que pagou ao nadador uma passagem de avião até a cidade. O advogado Wilfredo Allen disse que apresentará nas próximas semanas o pedido de asilo político do esportista. "Ao se apresentar na fronteira como cubano e pedir asilo político lhe deram um documento de identificação que lhe permite viver e trabalhar legalmente nos Estados Unidos", explicou o advogado. Ao se desertar de uma equipe esportiva cubana, os Estados Unidos consideram que ele é uma pessoa que possivelmente será perseguida se regressar a Cuba. O treinador Yand Martínez disse que a perspectiva que tem com Castillo é levá-lo à elite na natação americana. Martínez foi o criador do programa esportivo para deficientes em Cuba na década de 80 e desertou do país em 1992, rumo à Venezuela. Em 2002 foi para os Estados Unidos.

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