sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Desaba obra do aeroporto de Cumbica que tinha inauguração marcada para o dia 20 de dezembro

O novo terminal remoto do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, cuja inauguração foi anunciada nesta sexta pela Infraero para o dia 20 de dezembro, sofreu um desabamento de estrutura da obra por volta das 14 horas. Segundo a Delta, responsável pelas obras, duas pessoas ficaram feridas sem gravidade. Com isso, a data da inauguração deverá ser reavaliada, segundo a empresa. Em nota, a Delta informou que “uma parte da estrutura auxiliar de sustentação dos dutos de ar condicionado cedeu na obra do novo terminal de passageiros domésticos do Aeroporto de Cumbica”. A data de inauguração do terminal no dia 20 foi anunciada também nesta sexta-feira pelo presidente da Infraero, Gustavo do Vale. Segundo ele, a previsão era de que o terminal fosse inaugurado ainda antes do término das obras, previsto para 23 de janeiro. Algumas companhias já iniciariam suas operações no local já no dia 20. “O terminal vai começando aos poucos a funcionar, como foi planejado”, disse Vale: “Esse terminal é um terminal de verdade. Só para vôos domésticos e a capacidade dele é de 5,5 milhões de pessoas por ano”. Construído onde ficava o antigo galpão de cargas da Vasp, o novo terminal é remoto, ou seja, desconectado do aeroporto. Fica a cerca de dois quilômetros de distância dos Terminais 1 e 2. Na prática, é o terceiro terminal de Cumbica, embora oficialmente o Terminal 3 propriamente dito ainda esteja em fase de terraplenagem. O Terminal 3 será uma obra da iniciativa privada, tocada pela empresa que ganhar a concessão de Cumbica. O leilão está marcado para o dia 22. Em setembro, as obras do terminal chegaram a ser paralisadas por determinação da Justiça Federal por “contratação sem licitação” da empresa responsável pelo serviço, a Delta Construções S/A. No dia 14 de setembro, entretanto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou a retomada das obras por entender que a construção tem caráter emergencial, o que justifica a dispensa de licitação. O dono da empresa Delta, Fernando Cavendish, é um homem que tem amigos poderosos. Dois dos mais destacados são Sérgio Cabral e José Dirceu. No Rio de Janeiro, a Delta toca obras de R$ 600 milhões. Pelo menos R$ 164 milhões desse total foram contratados sem licitação. Naquele trágico fim de semana de junho, em que um acidente de helicóptero matou sete pessoas no litoral baiano, incluindo a nora de Cabral, o governador integrava o grupo que estava na Bahia para comemorar o aniversário de Cavendish. Cabral viajou àquele estado no avião particular de outro potentado do setor privado: Eike Batista. Cavendish cresceu muito durante o governo petista. Teve um “consultor” de peso: José Dirceu. No começo de maio, a revista Veja publicou uma reportagem sobre a meteórica ascensão de Cavendish. Em entrevista à revista, dois empresários, José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado, acusam o ex-ministro e chefão petista de fazer tráfico de influência em favor da Delta. Segundo os dois, José Dirceu foi contratado por Cavendish para facilitar seus negócios com o governo federal. E como eles sabem? Eles eram donos da Sigma Engenharia, empresa que seria incorporada pela Delta em 2008; os três se tornariam sócios. O negócio emperrou e foi parar na Justiça. Oficialmente, a Delta contratou José Dirceu como consultor para negócios junto ao Mercosul. Receberia modestos R$ 20 mil mensais pelo trabalho. De fato, dizem os denunciantes, a Sigma passou a ser usada por Cavendish para fazer transferências bancárias a José Dirceu. Um trecho da reportagem informa o desempenho da empresa de Cavendish no governo petista. Seu grande salto se dá a partir de 2009, ano da contratação de José Dirceu. Durante o governo do ex-presidente Lula, a Delta passou de empresa de porte médio a sexta maior empreiteira do País. É, hoje, a que mais recebe dinheiro da União. Sua ascensão vertiginosa chamou a atenção dos concorrentes. Em 2008, a Delta já ocupava a quarta colocação no ranking das maiores fornecedoras oficiais. Em 2009, houve um salto ainda mais impressionante: a empresa dobrou seu faturamento junto ao governo federal. Em 2011, apesar das expectativas de redução da atividade econômica, o faturamento da Delta deve bater os 3 bilhões de reais, puxado por obras estaduais e do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento". Informa ainda a revista Veja: “Em reunião com os sócios, no fim de 2009, quando discutia exatamente as razões do litígio, o empresário Fernando Cavendish revelou o que pensa da política e dos políticos brasileiros de maneira geral: “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para ‘c…’. Pode ter certeza disso!”. E disse mais. Com alguns milhões, seria possível até comprar um senador para conseguir um bom contrato com o governo: “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado (para fazer obras). Senador fulano de tal, se (me) convidar, eu boto o dinheiro na tua mão!” Diz o empresário Romênio Marcelino Machado: "A consultoria do ex-ministro José Dirceu para o grupo Delta é tráfico de influência. Com certeza, é tráfico de influência. O trabalho era aproximar o Fernando Cavendish de pessoas influentes do governo do PT. Isso, é óbvio, com o objetivo de viabilizar a realização de negócios entre a empresa e o governo federal. Hoje, praticamente todo o faturamento do grupo Delta se concentra em obras e serviços prestados ao governo". Ele ainda esclarece: "A contratação foi feita por debaixo do pano, através da nossa empresa, sem o nosso conhecimento. Um dia apareceram notas fiscais de prestação de serviços da JD Consultoria. Como na ocasião não sabia do que se tratava, eu me recusei a autorizar o pagamento, o que acabou sendo feito por ordem do Cavendish". Ele acrescenta: "A Delta começou a receber convites de estatais para realizar obras sem ter a capacidade técnica para isso. A Petrobras é um exemplo. No Rio de Janeiro, a Delta integra um consórcio que está construindo o complexo petroquímico de Itaboraí, uma obra gigantesca. A empresa não tem histórico na área de óleo e gás, o que é uma exigência Ainda assim, conseguiu integrar o consórcio. Como? Influência política". O empresário assegura que a Delta usa da "influência política": "Usa. E usa em tudo. O caso da reforma do Maracanã é outro exemplo. A Delta está no consórcio que venceu a licitação por 705 milhões. A obra mal começou e já teve o preço elevado para mais de l bilhão de reais. Isso é uma vergonha. O TCU questionou a lisura do processo de licitação. E quem veio a público fazer a defesa da obra? O governador Sérgio Cabral. O Cavendish é amigo último do Sérgio Cabral. A promiscuidade é total". Depois de tudo, em julho, na inauguração do teleférico no Complexo do Alemão, na presença de Dilma, o vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, celebrou a obra e a “vitória sobre os Ministérios Públicos”, fazendo um agradecimento explícito à Delta. Em agosto, dois meses depois do acidente, o governador Sérgio Cabral voltou a celebrar acordos com a Delta sem licitação, no valor, desta vez, de R$ 37,6 milhões. Tudo para “obras emergenciais”. A Delta é mesmo a preferida do Rio de Janeiro e de Brasília. É a empresa que mais tem obras do PAC. Parte da obra de Cumbica, contratada sem licitação, desabou na tarde desta sexta-feira.

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