sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Na favela da Rocinha, o líder comunitário era negociante de armas

A vereadora carioca Andréa Gouvêa Vieira certamente não tinha conhecimento do outro lado de William. Nem ela nem o vice-governador Luiz Fernando Pezão; o governador Sérgio Cabral; o senador Marcello Crivella (PRB); o apresentador de TV Luciano Huck; a presidente Dilma Rousseff; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o tenista Gustavo Kuerten, o ator americano Ashton Kutcher e uma infinidade de pessoas que, em algum momento, abraçaram William À mesa, com o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, dois homens conversam, um deles exibe um fuzil AK-47 - uma arma de guerra, comumente vista nas cenas de conflitos no Afeganistão. É um armamento cobiçado por traficantes das favelas cariocas, pelo qual os criminosos pagam bem. Ao fundo, crianças brincam em uma quadra. Os dois interlocutores do traficante Nem são William de Oliveira, o William da Rocinha, lotado no gabinete da vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), e Alexandre Leopoldino Pereira da Silva, o ‘Perninha’ - lotado na Casa Civil do Governo do Estado, como segurança do Palácio Guanabara, sede do governo. Um quarto homem, tesoureiro de Nem, ainda não identificado, organiza bolos de dinheiro. Os quadros do vídeo, exibidos pela Polícia Civil, mostram que, em certo momento, Nem confere a soma, passa o elástico e entrega uma bolada a Perninha. Outra bolada vai para William, que se põe a contar as cédulas. O vídeo, obtido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, levou à prisão, na manhã desta sexta-feira, o homem que, na Rocinha, era tão famoso quanto o bandido Nem. A diferença é que William também era conhecido fora dos limites da favela. E, a julgar pelas imagens que ele próprio exibe em sua página no Facebook, o conceito de líder comunitário comprometido com as causas da população da Rocinha convencia autoridades e famosos de diferentes segmentos. William foi preso em sua casa, na Rocinha, por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Na casa foram encontrados, entre outros itens, 10 telefones celulares. Documentos e arquivos de computador foram recolhidos para perícia. Na apresentação do caso e do próprio William, na manhã desta sexta-feira, a chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegada Martha Rocha, fez um agradecimento às mulheres da Rocinha. Além da prisão de William e de Perninha, ainda procurado, o vídeo permitiu que a Polícia Civil obtivesse outra vitória importante. A prova representa mais um indiciamento contra o traficante Nem, e, para o delegado Márcio Mendonça, é prova “forte e segura” de que Nem comandava o tráfico no local. Na prática, isso representa chance de uma condenação mais dura contra o traficante, e dificulta uma tentativa da defesa de tirá-lo da cadeia, antes do julgamento. “Deu para perceber que ele, William, estava negociando a arma e recebendo o pagamento. Instauramos o inquérito e a prisão temporária dele está expedida. Os três foram indiciados por venda de armas e associação para o tráfico de drogas”, explicou Mendonça. Contra William, o que se tem é um vídeo que parece ser indefensável: ainda que não estivesse vendendo o fuzil para o bandido, ele terá que explicar como aceitou receber um maço de dinheiro e sentou, longamente, à mesa com o criminoso armado. A vereadora Andrea Gouvêa Vieira saiu em defesa de William no início da manhã. Pôs em dúvida a investigação da polícia. A partir da exibição de quadros do vídeo, Andréa mudou de discurso. Afirmou estar “absolutamente estupefata” e sentindo-se traída. Andréa, certamente, não tinha conhecimento do outro lado de William. Nem ela nem o vice-governador Luiz Fernando Pezão; o governador Sérgio Cabral; o senador Marcello Crivella (PRB); o apresentador de TV Luciano Huck; a presidente Dilma Rousseff; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o tenista Gustavo Kuerten; o ator americano Ashton Kutcher e uma infinidade de pessoas que, em algum momento, abraçaram William. Crime e política andam juntos.

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