terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Proibição de propaganda opõe indústria do cigarro a médicos

Audiência pública chamada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para discutir a propaganda de cigarros em maços e pontos de venda colocou a indústria tabagista e produtores de fumo de um lado e médicos e associações contra o cigarro de outro. Mais de 50 pessoas se manifestaram sobre o tema nesta terça-feira, nas quatro horas de duração da audiência. Ônibus trouxeram produtores de fumo do Sul do País para o evento. A proposta em discussão é a consulta pública 117 de 2010, da Anvisa, que pretende, por exemplo, acabar com a exposição dos maços de cigarro nos pontos de venda, aumentar a área das advertência à saúde nos pontos de venda e proibir abordagens promocionais e pesquisa de mercado no setor. Por uma decisão judicial que adiou a realização da audiência, a Anvisa teve que garantir espaço físico para mil pessoas. Escolheu fazer o evento no ginásio Nilson Nelson, garantindo a presença de até 14 mil pessoas. Compareceram cerca de 500. Os médicos que se manifestaram foram todos favoráveis à medida proposta pela agência. "A saúde pública não pode ficar refém dos interesses da indústria", disse Alberto Araújo, representando a Sociedade Brasileira de Pneumologia. Ele classificou de "tabacocídio" as mortes provocadas pelo fumo. Roberto Gil, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e dono de um consultório, disse que se via nas duas posições: médico, tendendo a lutar contra o tabaco, e empresário, tendendo a defender a liberdade do setor. "Essa é a discussão. Alguém aqui acharia ético eu dizer para meu paciente 'você tem que fumar bastante, porque tenho meus filhos para criar e funcionários para pagar?'. Se eu não tiver que atender mais câncer, me darei por satisfeito", disse. A favor da medida ainda falaram representantes da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da OPAS, do CFM (Conselho Federal de Medicina), do Inca (Instituto Nacional de Câncer), da Aliança de Controle do Tabagismo e do Congresso Nacional, entre outros. "A indústria é cara de pau, quer jogar o produtor contra o médico e a ciência. A propaganda deve ser zero", disse o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), presidente da frente parlamentar da Saúde. O lado contrário à proposta argumentou que ela vai prejudicar produtores e setores do comércio, evocou a liberdade de decisão das pessoas e questionou a competência da Anvisa para fazer esse tipo de regulamentação e a existência de comprovação científica sobre os malefícios do tabaco. Um dos diretores da Anvisa e supervisor do assunto, Agenor Álvares afirmou que a agência vai recolher todas as contribuições e tomar uma decisão em colegiado. Segundo ele, isso pode ocorrer já no início do ano e ser concretizada em uma resolução.

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