sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Polícia do Rio de Janeiro prende novamente tenente-coronel Djalma Beltrami

O tenente-coronel Djalma Beltrami, ex-juiz de futebol, foi preso novamente esta tarde pela Corregedoria Geral Unificada. A decisão da Justiça aconteceu a partir da denúncia feita por seis promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público estadual. Em dezembro, ele já havia sido detido na operação Dezembro Negro, que investigou homicídios praticados por traficantes em São Gonçalo e que baseou esta denúncia. Beltrami foi preso em casa e levado para a 64ª DP (Vilar dos Teles). As investigações que levaram Beltrami de volta à prisão foram conduzidas pela Delegacia de Homicídios de Niterói com o apoio do Gaeco. Elas identificaram um esquema de distribuição de drogas na Região dos Lagos do Rio de Janeiro que tem origem no Complexo da Maré, no Rio, passando por entrepostos nos municípios de São Gonçalo e de Niterói. De acordo com a denúncia, os homicídios relacionados ao tráfico em São Pedro da Aldeia se intensificaram após a tomada do Complexo do Alemão pelo Estado. Para a manutenção do esquema, os promotores e o delegado Alan Luxardo concluíram que seria necessário o auxílio de policiais militares. Foram identificados policiais do 7º BPM (São Gonçalo). Além do tenente-coronel Beltrami, outros 12 policiais militares foram denunciados. Ao longo da investigação, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, revelaram que os policiais militares negociavam propinas com traficantes para não coibir o tráfico de drogas. Sargentos, cabos e soldados, que integravam o Grupo de Ações Táticas (GAT), combinavam com o denunciado Maico dos Santos "Gaguinho" o pagamento de propina semanal no valor de R$ 20 mil, dos quais R$ 10 mil eram, de acordo com a denúncia, repassados ao então comandante da unidade, Djalma Beltrami. O tenente-coronel chegou a ser preso no dia 20 de dezembro após a decretação de sua prisão temporária, porém, obteve o benefício do habeas corpus, concedido durante o plantão judiciário, no dia 21 de dezembro Na ocasião, o Tribunal de Justiça considerou que não havia elementos para manter Beltrami preso. Na denúncia, os promotores afirmam que um policial informa que repassará a propina ao "01", ao "comandante", que seria Beltrami. Para os promotores está claro que se trata do policial. Em seu relatório, o delegado Alan Luxardo se utiliza da gravação na íntegra, além de notícias crimes baseadas em disque-denúncia que tratam da época em que o tenente-coronel comandava o 14º BPM (Bangu). As informações para informar que o esquema de corrupção não aconteceria sem a participação do tenente-coronel Beltrami. Luxardo também explica em seu relatório que ele "não produziria provas contra si" e que os PMs não reprimiram o tráfico no morro da Coruja de onde todos receberiam propinas. A seguir trechos de interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça, que basearam o mandado de prisão contra o tenente-coronel: Primeiro, uma conversa entre o traficante Gaguinho e um policial militar: GAGUINHO: ALÔ! PM: FALA AÍ, TÁ PODENDO FALAR AÍ PARCEIRO? GAGUINHO: OI? PM: TÁ OUVINDO AÍ? GAGUINHO: TÔ PM: ENTÃO AQUELA HORA EU TIVE QUE INTERROMPER QUE TAVA COM UM PROBLEMINHA PARA RESOLVER AQUI. GAGUINHO: HÃ! PM: ENTÃO! É EU FALEI COM O MAIS ALTO (Comandante do Batalhão) AQUI ENTENDEU DESENROLEI COM ELE MAIS OU MENOS O QUÊ A GENTE FALOU AQUELA HORA AQUI, É VOCÊ TINHA FALADO QUE CONSEGUE CHEGAR ATÉ UNS "DEZ" (dez mil reais) NO NOSSO DIA PARA MANTER O DO COMANDO (Comando do Batalhão) E O NOSSO? ALVO: NÃO RAPÁ NÃO TEM COMO NÃO MANDAR "10 MIL" (dez mil reais) NÃO, TÔ FALANDO PARCEIRO QUE TEM COMO EU AUMENTAR O DE VOCÊS "MIL" (mil reais) A MAIS E DAR "DEZ" (dez mil reais) POR SEMANA PARA O "NÚMERO 1" (Comandante do batalhão), COMANDANTE ENTENDEU? ARREGAR ELE TAMBÉM ISSO QUE EU QUERO FAZER ENTENDEU? PM: O NOSSO É DA SEGUINTE FORMA; O QUE VOCÊ MANDAR PRA MIM EU VOU TIRAR UM PEDAÇO DO MEU PRA MANDAR PRO MEU COMANDO (Comandante do Batalhão), PRA MANDAR PRO "01" (Comandante do Batalhão), ENTENDEU? POR ISSO QUE EU QUERO FECHAR UM VALOR SÓ JUNTO, MEU E DO COMANDO (Comandante do Batalhão), PORQUE O QUE VOCÊ TIRAR PRA MIM, A PARTE DO COMANDO (Comandante do Batalhão) EU VOU TIRAR DAQUI PRA MANDAR, PORQUE CADA DIA É INDIVIDUAL, CADA DIA O CARA VAI PERDER UM PEDAÇO PRA LÁ, ENTENDEU? GAGUINHO: ENTÃO! E EU TAMBÉM, VOCÊ VAI PERDER UM PEDAÇO E ELE VAI FICAR TRANQUILÃO, QUE EU VOU MANDAR "DEZ" (dez mil reais) PRA ELE PRA ELE FICAR TRANQUILO, POR SEMANA, ENTENDEU? IGUAL AQUI ONDE EU TÔ, OS CARAS PAGA AS QUE RODA, ENTENDEU? E MANDA "DEZ" (dez mil reais) PRO "NÚMERO 1" (Comandante do Batalhão) ENTENDEU? PM: TÔ ENTENDENDO. GAGUINHO: O QUE ERA PRA ESSE QUE ASSUMIU AGORA QUE TAVA AÍ, MANDADÃO MANÉ, PORRA, TE FALAR HEIM! AQUILO ALI É UMA MULA. PM: EU VOU PASSAR A SITUAÇÃO PRO "01" (Comandante do Batalhão) AQUI E PRA GENTE VOCÊ MANDARIA "QUATRO" (quatro mil reais)? GAGUINHO: É! PÔ! MAS AÍ, E O QUE EU TÔ TE FALANDO, SE O OUTRO ENTRAR NUM ACORDO TAMBÉM, O COMANDANTE MAIOR (Comandante do Batalhão) TEM QUE ENTRAR NUM ACORDO. PM: POIS É! É O QUE EU VOU TENTAR FAZER AQUI. SÓ QUE POXA, O NOSSO PODE DAR UMA MELHORADINHA, SÓ O NOSSO, INDEPENDENTE DOS OUTROS DOIS DIAS, NÃO PODE? PRA FICAR LEGAL PRA TODO MUNDO. GAGUINHO: É O QUE EU TÔ FALANDO, POR CAUSA DE QUE EU VOU PODER TRABALHAR TRANQUILO E MELHORAR O DE VOCÊS, ENTENDEU? O DO CARA JÁ TÁ INDO, NÃO VAI ENTRAR MAIS NINGUÉM. PM: JUSTAMENTE ISSO, A INTENÇÃO É ESSA E QUEM TÁ ARTICULANDO TUDO É A GENTE, PORQUE A PRIMEIRA QUE FORMOU ESSE PAPO DE ACABAR COM ISSO TUDO E FICAR SÓ GENTE, FOI COM O NOSSO DIA, FOI COM O PLANTÃO DE HOJE. GAGUINHO: ENTÃO! VOCÊ VÊ AÍ SE CONSEGUE ENTRAR EM CONTATO COM O "01" (Comandante do Batalhão) DE VOCÊS, AÍ VOCÊ ME FALA O DIA, ME LIGA E MANDA ELE VIR AQUI AGORA E MARCA COM ELE ANTES, ME FALA UM DIA ANTES PRA EU MANDAR IR AÍ ENTENDEU? PM: TÁ! ENTÃO VAI MANDAR O NOSSO E "DEZ" (dez mil reais) POR SEMANA DO "01" (Comandante do Batalhão), É ISSO? GAGUINHO: É! PM: INDEPENDENTE DAS OUTRAS ALAS, AS OUTRAS ALAS É IGUAL AO NOSSO. GAGUINHO: AS OUTRAS EU DESENROLO. PM: BELEZA! EU VOU FALAR COM ELE AQUI. VAMOS FAZER O SEGUINTE, VOCÊ TEM COMO FAZER O NOSSO EM "CINCO" (cinco mil reais). GAGUINHO: ENTÃO! VAMOS VER, DEIXA EU VER COMO VAI FICAR ESSE DESENROLADO AÍ, PRA PODER O CARA, ELE ATÉ CONHECE O GRAVATA (advogado), O GRAVATA CONHECE ELE, MANDO O GRAVATA NA DIREÇÃO DELE E CONVERSA COM ELE, AÍ O GRAVATA VAI CONVERSAR COM ELE O QUE EU QUERO TAMBÉM, ENTENDEU? PM: JÁ É! TÁ FECHADO. VOU PASSAR PRA ELE AQUI E DAQUI A POUCO EU TE RETORNO. No dia 07 de outubro de 2011, às 20:03 hs, o traficante "Gaguinho" trava conversa com policial militar sobre a liberação de bailes funks na comunidade, destacando-se o trecho abaixo: Interlocutor: Ué, mas o bagulho da questão não é parar o arrego, não, o bagulho é vai lombrar o baile e se lombrar amanhã não enche" Gaguinho: Tá bom, pô, isso aí que tem que segurar é o Comandante, é com eles mesmo, muito dinheiro que eles estão levando, tá maluco" Interlocutor: Tem que ver Erick (presidente da Associação de Moradores do Morro da Coruja) para ver essa parada" Gaguinho: Só mandar ir lá pra ver, ué. Manda ele ligar lá pro Maior dele lá, fala pro Maior dele lá que esses caras do DPO quiser os R$ 500,00 vai parar o arrego se eles zoar, manda falar, assim mesmo a gente está dando o maior dinheirão, então ele tem que segurar esses caras aí" Interlocutor: Tá tranqüilo, vou ligar pra ele aqui agora" E, noutra ocasião, dentre tantas, no dia 10 de outubro de 2011, às 17:39 hs, há mais: Gaguinho: Fala aí, parceiro. O que que houve aí, cara. Tá quebrando o arrego (descumprindo o acordo para não reprimir o tráfico) PM: Não, eu não quebrei não. Gaguinho: Escuta! Olha só, deixa eu falar contigo. Eu anotei o número da sua viatura, vou mandar lá pro seu comandante maior, que ele leva 40 mil aí. Vai acabar o arrego por causa de tu e aí tu desenrola com ele. PM: Parceiro, olha só. O trato que temos contigo é não entrar no seu negócio. Nós pegamos o cara aqui na pista (fora da favela). Não entrei não. Não tenho trato com você na pista, não. O trato é não zoar (reprimir o tráfico) aí dentro. Agora tu vai me ameaçar? Então, tu liga pra quem tu quiser, parceiro".

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