terça-feira, 6 de março de 2012

Uruguai se responsabiliza por crimes da ditadura, mas não pede perdão

O Uruguai assumirá, em ato público, a responsabilidade pelas violações aos direitos humanos cometidas durante a última ditadura (1973-1985), mas não pedirá perdão por elas, anunciaram as autoridades. A admissão de culpa está de acordo com uma exigência da Corte Interamericana de Dereitos Humanos (Corte-IDH) que, em março de 2011, emitiu uma sentença obrigando o Estado a investigar, julgar os crimes da ditadura, conceder reparações a vítimas e a seus familiares e realizar um ato público no qual reconheça sua responsabilidade no chamado "caso Gelman". O ato será realizado no dia 21 de março, dirigido pelo presidente José Mujica, que pronunciará um discurso na Assembleia Geral para representantes de todos os poderes do Estado, convidados especiais do Exterior e organizações de direitos humanos. "Vou falar em nome do Estado, assumindo a responsabilidade", disse Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro que exerce há dois anos a segunda Presidência de esquerda da história do país. María Claudia García, nora do poeta argentino Juan Gelman, foi sequestrada em Buenos Aires em 1976 e levada grávida ao Uruguai; depois de dar à luz uma menina, foi assassinada em Montevidéu. A filha, Macarena, foi entregue ilegalmente à família de um policial uruguaio, e soube de sua origem só em 2000, mas o corpo de sua mãe nunca foi encontrado. Ambos, Macarena e Juan Gelman, entraram com uma demanda contra o Estado uruguaio na Corte-IDH. O presidente do Centro Militar, instituição que reúne oficiais da reserva, Guillermo Cedrez, disse que não aceita "em nenhuma hipótese que o Exército peça perdão. O Exército é uma instituição do Estado como o são a Força Aérea e a Armada e foram convocadas a atuar. Podemos cometer nesse caso algum delito e isso é julgado, como aconteceu". Cedrez acrescentou que "para fazer uma solicitação deste tipo (...) também deveriam começar a pedir perdão ele (Mujica) e os primeiros terroristas que impuseram a situação ao país", em referência à guerrilha tupamara. Dias atrás, familiares do coronel Artigas Alvarez, assassinado no Uruguai em 1972 e irmão do ex-ditador, general Gregorio Álvarez, atualmente na prisão e condenado por crimes contra os direitos humanos, apresentaram a primeira denúncia penal contra ex-guerrilheiros assinalados como autores do crime. Esta seria a primeira de uma série de denúncias contra ex-guerrilheiros.

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