sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cachoeira buscou governadores de Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná

Emails e telefonemas mostram movimentação do bicheiro e de seus aliados para manter o jogo nos três Estados. Em Santa Catarina, ele diz ter tido a ajuda do governador de Goiás, Marconi Perillo. Na tentativa de emplacar prestação de serviços de loterias estaduais, o grupo do empresário de jogos de azar Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo, buscou contato com os governadores recém-eleitos de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB); de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD e ex-DEM), e do Paraná, Beto Richa (PSDB). Segundo telefonemas de Cachoeira interceptados pela Polícia Federal, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ajudou a evitar a extinção de uma estatal que controla loterias em Santa Catarina. Perillo nega e os demais governadores dizem que não negociaram nada com o bicheiro, que é o centro das investigações da CPI criada na quinta-feira no Congresso. No primeiro turno das eleições de 2010, Silval é reeleito em Mato Grosso. Beto Richa e Colombo ganham no Paraná e em Santa Catarina. Dois dias depois, em 5 de outubro, às 8h39, o ex-cunhado de Cachoeira, Adriano Aprígio de Souza, envia email ao argentino Roberto Coppola, consultor em jogos de azar. Ele comemora o resultado das urnas e pergunta como estão os contatos com os futuros governantes sobre as loterias estaduais. Questiona como teria sido a reunião de Coppola com Richa: “Roberto, viu o resultado no Mato Grosso? Foi reeleito o governador. E como ficou Santa Catarina agora? Paraná aquele encontro com foi bom (sic) com o governador eleito?” Em resposta, às 18h52, o argentino Roberto Coppola mistura português com espanhol para dizer que o grupo vai conseguir ver implantada a loteria no Mato Grosso e em Santa Catarina. Afirma ainda que se reuniu com Colombo e com Richa. No primeiro, o resultado teria sido “bom”, segundo ele porque o coordenador da campanha de Colombo é que seria designado para dirigir a loteria. Mas com Richa, porém, o problema era que seu antecessor, o hoje senador Roberto Requião (PMDB), extinguira a loteria estadual. “Em Santa Catarina también foi bon con Colombo porque o presidente da loteria era o jefe da campanha de Colombo. Em Paraná, fale com Beto Richa, o problema é que Requion por ler fecho a loteria e va a demorar, porque tein que facer uma nova lei. Esse filho da puta do Requion hasta que foi embora, incho o saco”, diz Copolla, no portunhol que usou no email. Em 9 março de 2011, o governador de Goiás, Marconi Perillo, encontrou-se com Colombo em Santa Catarina. Oficialmente, foi uma visita “de cortesia”, segundo assessores do catarinense, ou, segundo comunicado do governo goiano, uma reunião para falar sobre “parcerias público-privadas”, com a participação inclusive do ex-presidente da companhia de energia de Goiás, Ênio Branco, que hoje é secretário de Comunicação de Colombo. Mas, em diálogo de 10 de março, Cachoeira diz a um interlocutor não identificado pela Polícia Federal que Perillo, na verdade, foi convencer Colombo a não fechar a Companhia de Desenvolvimento de Santa Catarina, a Codesc, que administra a loteria inativa do Estado. “Inclusive tava com o governador de Goiás e levou o governador de Goiás pra falar com o governador de Santa Catarina”, explica Cachoeira, em telefonema grampeado às 15h41. Na conversa com o bicheiro, o interlocutor diz estar preocupado com a possibilidade de extinção da Codesc e, consequentemente, do negócio do jogo no sul do País. “Se acabar com a Codesc, acaba com a loteria”, alerta o homem não identificado. Essa mesma pessoa diz que Ênio Branco “estava tratando de tudo”. Branco admite ter sido procurado por pessoas interessadas na manutenção da Codesc, a empresa que controlava o jogo no Estado, mas não levou a questão adiante porque Colombo era contra o jogo. Perillo rejeitou qualquer reunião para favorecer os negócios de Cachoeira. “Nunca conversei sobre legalização do jogo com quem quer que seja”, disse ele na quinta-feira: “Não gosto de jogos, exceto os de natureza esportiva, e procuro sempre desestimular quem joga".

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