sábado, 7 de abril de 2012

A marcha dos vigaristas – Não basta a derrocada de Demóstenes; esquerdistas agora querem declarar a ilegitimidade da moral

Reinaldo Azevedo
Artigo do jornalista Reinaldo Azevedo - "Está em curso, muito especialmente em áreas da crônica política, uma esperada, mas nem por isso menos asquerosa, operação que consiste em atribuir aos valores ideológicos que o senador Demóstenes Torres (GO) professava a causa de sua desgraça. Mais: ex post (isto é, depois de tudo o que se sabe de suas relações com Carlinhos Cachoeira) vê-se o que se chama agora seu “excesso de moralismo” como uma evidência de que algo realmente não estava muito certo na sua atuação. Tem-se, pois, por consequência, que o prudente, a partir de agora, será desconfiar daqueles que apontam desmandos ou arroubos autoritários do governo, como Demóstenes amiúde fazia. Doravante, o mais seguro é confiar mesmo nos sabujos, nos submissos, na turma que vive de joelhos para o Planalto. E, claro, nos ladrões que não fazem “discurso moralista”. Essa seria a sua grande honestidade. Pessoas e grupos da sociedade que têm os mesmos valores gerais que Demóstenes vocalizava — a “direita”, como chamam os patrulheiros, com grande desdém — estariam de algum modo comprometidas com sua secreta atuação deletéria. No Globo, Ilimar Franco, por exemplo, publicou uma nota verdadeiramente abjeta, cujo evidente propósito é difamar a chapa que venceu no ano passado a disputa pelo DCE da UnB — a primeira não-esquerdista da história da universidade. Eu a relembro: A queda do senador Demóstenes Torres (GO), alvejado pelas ligações com Carlinhos Cachoeira, é um golpe no trabalho do DEM entre a Juventude. Ele era uma espécie de ícone da nova direita e vinha percorrendo o Brasil organizando a juventude em torno das ideias conservadoras do DEM. Crítico das cotas, ele tinha relação estreita com professores e a atual diretoria do DCE UnB Honestino Guimarães e participava de um movimento de oposição ao reitor José Geraldo de Souza Junior. No seu Twitter, Demóstenes chegou a escrever: “O que há na UnB é uma espécie de bullying ideológico, e estou aguardando relatos de outras universidades”. Demóstenes e a Juventude do DEM Não há uma só informação objetiva no que vai acima. É texto de militância política. Para recorrer à palavra, trata-se apenas de bullying jornalístico contra a direção do DCE e contra um grupo não-nomeado de professores. Ainda que fosse verdade — mas não é —, e o DEM e Demóstenes tivessem mesmo atuado em favor da chapa que venceu a disputa na UnB, estariam eles fazendo algo muito diferente do que fazem o PT e o PCdoB, partido que Ilimar conhece muito bem? Ainda que o senador estivesse atuando num movimento de oposição ao reitor José Geraldo de Souza Junior, seria apenas uma espécie de contraponto ao Magnífico do petismo. Ocorre que se está diante de uma chance de ouro de esmagar de vez o que os “progressistas” chamam “conservadores”, tentando reduzir os valores que Demóstenes vocalizava — mais identificados com o liberalismo — a suas relações com Carlinhos Cachoeira. Essa seria, então, a verdadeira face da direita. Já a verdadeira face do PCdoB, partido de Ilimar conhece muito bem, não é a roubalheira das ONGs dos esportes por exemplo. Aquilo teria sido apenas um “malfeito”, como diria Dilma; um desvio. Esquerdistas não precisam responder por Zé Dirceu e pelos mensaleiros. Esquerdistas não precisam responder pelos aloprados; Esquerdistas não precisam responder pelo Ministério da Piaba. Mas os conservadores, os “direitistas”, ah, esses estariam obrigados a explicar o caso Demóstenes. Uma ova!!! Aliás, são eles os primeiros a lastimar a derrocada do senador e a não perdoá-lo. Seus antigos admiradores estão é decepcionados com ele. Já os “amigos do Zé Dirceu” se orgulham enormemente de seus métodos. Demóstenes teve de sair do DEM para não ser expulso. Dirceu vai montar a equipe de campanha de Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Está em curso uma espécie de “caça às bruxas”. Voltem ao texto de Ilimar. O que faz lá a questão das cotas raciais nas universidades, por exemplo? O que a opinião do senador, que é contrário a medida — a exemplo de milhões de pessoas — tem a ver com suas relações secretas com Carlinhos Cachoeira? Todos aqueles que pensam o mesmo devem ser perseguidos, reduzidos a uma caricatura? Estariam conspurcados? Demóstenes foi o relator da Lei da Ficha Limpa no Senado, dando-lhe amplo acolhimento. Os que defendem essa lei devem também se sentir tisnados pelas relações do senador com o bicheiro? O debate político está se tornando algo bastante insalubre no País. Basta que se faça a defesa do óbvio no caso da Lei da Anistia, por exemplo — óbvio sustentando pelo Supremo, pela Advocacia Geral da União, pelo Ministério da Defesa e por uma multidão de juristas —, e os truculentos logo se apressam em acusar o oponente de flertar com a tortura, como se pudesse haver democracia e Estado de Direito sem o império da lei. Nada disso me surpreende. Passei “por lá” e sei como funciona a cabeça dessa gente. Eu posso lhes apresentar um pilha de títulos que evidenciam que o apanágio do liberalismo é a tolerância. Mas me apresentem um só teórico de esquerda, dos clássicos, cujo horizonte não fosse a eliminação dos adversários. Os conservadores devem é se orgulhar de não se sentir moralmente obrigados a justificar intimidade com bicheiros — que, de resto, reitero, está ficando claro, era um culto ecumênico. Vergonha devem sentir os que precisam agasalhar seus mensaleiros. Não serão os aduladores de crimes a decidir, agora, quem é e quem não é decente".

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