quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mudança na poupança pode se limitar a novas aplicações

O governo deve anunciar nesta quinta-feira mudanças na regra de correção das cadernetas de poupança para facilitar a queda dos juros. O novo modelo poderá valer apenas para novos depósitos nas cadernetas, evitando assim a crítica de que haverá quebra de contratos já estabelecidos. O assunto foi discutido ontem pela presidente Dilma Rousseff com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Dilma convocou para hoje reuniões com sindicalistas, líderes da base aliada e empresários para debater medidas econômicas e buscar apoio à mudança. No encontro, a presidente também deve anunciar uma estratégia do governo para redução do spread bancário -diferença entre os juros que os bancos cobram dos clientes e o que eles pagam para captar recursos. Na reunião de ontem, várias ideias foram apresentadas. Entre elas, a que prevê que a remuneração da poupança será equivalente a um percentual da Selic, a taxa básica de juros da economia. Esse percentual poderia ser único ou escalonado, dependendo do nível da Selic. Outra possibilidade, que neste caso valeria para aplicações velhas e novas, é a cobrança de Imposto de Renda. Hoje o ganho das cadernetas é isento. Em 2009, o governo tentou taxar a aplicação, mas recuou diante da repercussão negativa da medida. Também foi proposta a correção com base num índice de preços. Determinada a criar uma marca para sua gestão, a presidente definiu que entrará em campanha para atingir o que chama de "juros de Primeiro Mundo" - ou seja, na casa dos 2% reais (descontada a inflação). Para tanto, a politicamente difícil mudança na poupança é necessária. Com remuneração fixada em lei, a aplicação mais popular do país passou a ser um piso para a Selic, que serve de base para definir o custo dos empréstimos e o rendimento das demais aplicações financeiras. Com a Selic muito baixa, quem investe em fundo de investimento ou títulos públicos poderia migrar para a poupança - gerando problemas para o governo se financiar, por exemplo. Assim, Dilma iniciou uma ofensiva contra os juros elevados praticados pelos bancos privados ao determinar que os públicos baixassem suas taxas. Subiu mais o tom em pronunciamento na segunda-feira, quando atacou diretamente os banqueiros. O anúncio deve ser hoje, mas haveria uma última avaliação política ainda na noite de ontem: Dilma pode apresentar a decisão da mudança ou um modelo fechado. De qualquer forma, a mudança sairá por meio de medida provisória. Depois de adiar para hoje a reunião com os líderes de partidos governistas, marcada inicialmente para ontem, Dilma decidiu também convocar 30 empresários de vários setores para conversa em Brasília. Segundo interlocutores, um dos objetivos é atrair o setor produtivo à cruzada contra os juros altos dos bancos privados. Dilma parece ter vislumbrado que o grande gargalo da economia brasileira é a dívida interna. Ela entende que é preciso mudar as regras da caderneta de poupança para que não fujam recursos das aplicações nos fundos. São estes fundos que compram os títulos da dívida publica e assim financiam o setor público. O serviço da dívida (apenas pagamento de juros devidos nas rolagens dos títulos) ultrapassa 200 bilhões de dólares. Com os juros altos, essa dívida não pára de crescer. É preciso conter esse crescimento e diminuir drasticamente o tamanho dessa dívida. Com a dívida e o serviço da dívida caindo, a economia passará paulatinamente, mas de forma meio acelerada, a se tornar autosuficiente. É certa a medida que Dilma Rousseff está tomando, e ela está demonstrando uma grande coragem política e capacidade de iniciativa político-econômica. Com a diminuição dos juros praticados no mercado, forçosamente os recursos disponíveis no mercado financeiro precisarão começar um movimento em direção à produção. Se tudo der certo, Dilma Rousseff poderá conduzir o Brasil ao salto econômico tão esperado há décadas. Isso aliado a outras medidas que ela já está tomando, como a criação do fundo de previdência dos novos servidores públicos, que sustentará suas aposentadorias no futuro, servirão para desonerar os custos suportados pelo Estado nacional.

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