quinta-feira, 31 de maio de 2012

A pornográfica disputa no PT de Recife

Do jornalista Reinaldo Azevedo - Escrevi um post na sexta passada sobre o confronto no PT de Recife. A direção nacional e estadual do partido e o governador Eduardo Campos, que é do PSB, querem o atual prefeito, João da Costa, fora da disputa. Ele venceu as prévias disputadas contra Maurício Rands, mas a Executiva Nacional do PT anulou o processo, embora tenha negado ter havido fraude. Anulou, então, por quê? João começou a se indispor com o establishment petista de Pernambuco por causa do contrato milionário de coleta de lixo. O primeiro a puxar o seu tapete foi o antecessor, João Paulo, que o fez candidato. Observei, então, que não é raro que os confrontos nesse partido comecem no lixo - e quase sempre acabam lá também. Muito bem! Ao anular as prévias, é claro que João foi vítima de um golpe, desfechado pela direção nacional, com o endosso de Lula — curiosamente, a coisa tem franjas até em São Paulo, já digo como. Mas o imbróglio ainda não estava completo. Depois de um encontro com o Babalorixá de Banânia, Rands decidiu renunciar à pré-candidatura. O pressuposto era que o prefeito fizesse o mesmo — e tal intenção chegou a ser anunciada à sua revelia — em benefício de outro Costa, o Humberto. O golpe completo, então, é este: os dois postulantes caem fora em benefício do senador Humberto Costa, que surgiria como um tertius — um estranho tertius, já que sempre esteve ao lado de Rands. O senador é um que sempre atuou contra o prefeito de seu próprio partido. Como é bastante influente no Estado e tem “contatos” na imprensa local, a vida do prefeito, que já não faz uma administração brilhante, virou um inferno. Isso é o que o PT faz com aliados incômodos. Dá uma medida de como costuma tratar adversários. Não tenho a menor simpatia pelo atual prefeito. Embora seja certamente uma falha, confesso saber pouco da política recifense em particular. Mas entendo que um prefeito, no exercício do mandato, havendo reeleição, tem a prerrogativa de disputar o cargo novamente, a menos que pese contra ele uma séria acusação ou de desvio de conduta ou de desvio dos objetivos partidários. O PT não acusa o atual prefeito nem de uma coisa nem de outra. A sua gestão, diga-se, é uma das financiadoras de uma página que abre seus comentários para os ataques mais abjetos contra mim — é o chorume do lixo. Não estou nessa atividade para praticar vinganças pessoais. Interessam-me os procedimentos institucionais. O PT está associado ao PSB do governador Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco e em muitos outros estados e cidades. Campos não aceita apoiar o atual prefeito. Queria Rands, que foi seu secretário e com quem tem alguns laços familiares. A intervenção em Recife era uma das exigências para o PSB apoiar Fernando Haddad em São Paulo. Lula entrou na parada com a delicadeza habitual, com aquela mesma com que esmagou a pré-candidatura de Marta, que agora, pelo menos, vai ter tempo de ler Maquiavel… Faz algum tempo, ironizei alguns “politicólogos” supostamente independentes, mas que, na verdade, são petistas. Sustentavam esses valentes que o PT é mais moderno que os outros partidos porque aposta na renovação e na novidade. O método empregado em São Paulo e em Recife, na base do dedaço, indica bem que modernidade é essa. A direção nacional do PT, saibam, tem a prerrogativa de referendar ou vetar as candidaturas em cidades com mais de 200 mil habitantes. É uma herança, ainda, do “Centralismo Democrático” leninista, esse delicioso oximoro, dos antigos partidos comunistas. Segundo o centralismo, “a base” pode decidir o que bem entender, desde que o Comitê Central do partido concorde. Convenham: não dá para ser sério e esquerdista ao mesmo tempo. O que não quer dizer, é claro, que todos os direitistas liberais sejam sérios. Quer dizer apenas que eles têm, ao menos, alguma chance!

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