sábado, 26 de maio de 2012

Professor que critica personalidades baianas acusa governo petista de censura

Autor de um livro que traz críticas a expoentes da cultura baiana, como o fotógrafo Pierre Verger (1902-1996) e o poeta Waly Salomão (1943-2003), o professor universitário e jornalista Fernando Conceição acusa o governo de Jaques Wagner (PT), na Bahia, de censura à obra. O apoio de R$ 30 mil para a edição do romance "Diáspora" - que, diz o autor, trata da disputa pelo poder político e das relações sociorraciais na Bahia -, foi aprovado em um edital de 2011 da Secretaria de Cultura do Estado. Mas a "análise técnica" da secretaria condicionou a liberação da verba a um parecer jurídico da Procuradoria-Geral do Estado, sob alegação de que trechos da obra poderiam "ser interpretados como ofensas à honra de personalidades públicas reais". Em nota, a secretaria destacou os trechos. Num deles, um personagem diz que "um francês como Verger nunca deu um centavo [...] às pessoas do povo fotografadas por ele" e "usurpou e escancarou para o mundo, por vezes sem autorização dos sacerdotes e sacerdotisas", as imagens dos rituais sagrados, "mantidos até então em segredo", dos terreiros nagôs baianos. Noutro, Verger e Waly são definidos como "bichas burguesas que recrutavam suas presas entre adolescentes cor de bronze nas periferias". Fernando Conceição, de 53 anos, declara que tudo é ficção. "Não sou eu quem penso o que ali se diz nesses trechos, que são uma invenção", afirmou ele. Conceição - que em 2008 recebera R$ 18,5 mil de um outro edital para criação do mesmo livro - não esperou pelo desfecho do caso. "Diáspora" (Casarão do Verbo, R$ 35,00 - 399 págs.) foi lançado semana passada em Salvador. O autor diz contar com a verba para ressarcir a editora. Doutor em comunicação pela USP e professor da UFBA (onde é desafeto do secretário de Cultura, Albino Rubim), Conceição prepara biografia do geógrafo Milton Santos (1926-2001) com patrocínio de R$ 500 mil da Petrobras.

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