quarta-feira, 11 de julho de 2012

Justiça francesa culpa Airbus e Air France por desastre do vôo AF 447

Após uma decepção generalizada dos familiares das vítimas com o relatório final dos investigadores da queda do Airbus A330, feito pelo BEA (Escritório de Investigações e Análises), nesta terça-feira a Justiça francesa indicou que, não somente a Air France e seus pilotos, mas também a fabricante da aeronave, Airbus, dividem a responsabilidade pela queda do avião. As conclusões constam no relatório judicial elaborado por peritos independentes das empresas envolvidas e que foi apresentado nesta terça-feira às associações de familiares, em Paris, na França. No documento, de 356 páginas e entregue somente às partes envolvidas, os especialistas afirmam o que os familiares sempre suspeitaram: que a queda ocorreu devido a uma falha técnica da aeronave (o congelamento das sondas de velocidade), seguida do despreparo da tripulação em contornar o problema. Na última quinta-feira, durante coletiva de imprensa de apresentação do relatório do BEA, uma reviravolta na apuração do acidente quase passou despercebida, não fosse a interferência de um piloto que assessora uma das associações de familiares e dos próprios parentes. Os investigadores recalcularam informações do computador de bordo do Airbus A330 e constataram que o diretor de vôo, instrumento eletrônico de navegação que recomenda manobras para estabilizar o avião, havia dado sugestões incorretas aos pilotos no momento em que as informações sobre a velocidade pararam de ser transmitidas, provocando o desligamento do piloto automático. Ao invés de descer, o diretor de vôo mandou empinar o bico do avião, o que posteriormente resultou na perda da sustentação do vôo. Essa informação, um elemento novo até então (e crucial na visão de pilotos e familiares, por aumentar as dúvidas sobre falhas técnicas), havia sido fornecida aos parentes em privado, mas minimizada pelo BEA na hora do diálogo com a imprensa internacional. "O avião não caiu por causa do diretor de vôo", argumentou Alain Bouillard, chefe da investigação. O órgão é subordinado ao governo francês, que, por sua vez, é acionista da Airbus e da Air France. Na ocasião, os familiares haviam ficado revoltados com a excessiva responsabilização dos pilotos e a isenção da Airbus. "Se não tivesse havido problemas técnicos, não teriam ocorrido problemas humanos", protestou Danièle Lamy, mãe de uma das vítimas. Ela está convencida de que "70% do acidente se deve a defeitos técnicos". Em março de 2011, a Justiça indiciou a Airbus e a Air France por homicídio involuntário. "Está aparecendo uma responsabilização cada vez maior da fabricante, Airbus, além da companhia Air France. Os poucos pontos que poderiam incriminar os pilotos são consequências disso, e não a causa", declarou Alain Jakubowicz, advogado da Associação Ajuda Mútua e Solidariedade, de familiares franceses, na saída da reunião. Conforme o defensor, o documento judicial atesta que o congelamento das sondas desencadeou a sucessão de falhas técnicas e humanas. Afirma que "a falta de informações da tripulação sobre o congelamento das sondas de velocidade contribuiu para o efeito surpresa" quando a pane se iniciou, no meio do oceano Atlântico. Os peritos avaliam ainda que os procedimentos de urgência em caso de acionamento do alarme de perda de sustentação de vôo são inadequados, e também criticam a formação dos pilotos, especialmente o que assumiu o posto de comandante quando este foi descansar. Pierre Cédric Bonin, 32 anos, era o mais jovem e inexperiente dos três pilotos. Conforme as investigações, ele adotou sistematicamente manobras equivocadas assim que os problemas técnicos se iniciaram e "não teve uma reação apropriada" quando os alarmes começaram a soar na cabine. O texto ainda lamenta a falta de acompanhamento, pelas autoridades competentes, dos incidentes técnicos semelhantes aos ocorridos com o AF 447 e registrados desde 2004. "Hoje, passamos para um estágio claro de processo judicial. Acabam de nos explicar claramente a escala de responsabilidades e, na linha de frente, está a concepção do aparelho", comemorou outro advogado da associação francesa, Sébastien Busi. Outro ponto que interessou as famílias foi um relatório médico entregue junto ao de apuração do acidente, segundo o qual "os passageiros provavelmente não tiveram consciência da situação" e perderam a vida imediatamente após o impacto com o oceano. "Não houve chamados por aeromoças, não houve despressurização do avião, as máscaras de oxigênio não caíram e não havia sensações físicas que permitissem saber que a aeronave estava caindo", relatou Busi. O vôo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19 h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o vôo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.

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