segunda-feira, 16 de julho de 2012

Rosane Collor revela que ex-presidente fazia rituais de magia negra na Casa da Dinda

Vinte anos depois do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, a ex-mulher dele decide abrir o jogo sobre esse período conturbado da história do Brasil. Rosane Collor diz que o ex-marido mentiu sobre as relações dele com Paulo Cesar Farias, o PC Farias, figura que comandava um esquema de corrupção dentro do governo. Rosane conta mais: confirma que para se defender de inimigos políticos, o então presidente Collor participava de sessões de magia negra nos porões da Casa da Dinda, a residência oficial do casal em Brasília. A reportagem foi divulgada pelo programa Fantástico, da Rede Globo, neste domingo à noite. Fernando Collor e Rosane ficaram casados por 22 anos. Há sete anos se separaram. Agora brigam na Justiça em um processo litigioso. Na entrevista, Rosane fala pela primeira vez sobre o que viu e viveu na presidência do ex-marido, hoje senador. São revelações inéditas, que confirmam boa parte do que Pedro Collor, irmão já falecido do ex-presidente, disse há 20 anos, detonando o processo de impeachment, o afastamento de Fernando Collor do poder. A versão de Rosane estará também num livro que ela escreve com o jornalista Fábio Fabretti. “Eu me considero um arquivo vivo. E eu digo em todas as entrevistas, e inclusive já disse na Justiça, que se algo acontecer na minha vida, o responsável maior será Fernando Collor de Mello”, diz a ex-primeira-dama. Rosane conta que chegou a ser ameaçada ao decidir ir à casa de uma pastora chamada Maria Cecília, da Igreja Resgatando Vidas para Deus. Cecília era amiga do casal Collor, e antes de se converter à Igreja, se dedicava ao que Rosane chama de magia negra. Nesse encontro, a pastora distribuiu uma gravação em que revelava trabalhos de magia feitos por encomenda do presidente na Casa da Dinda, a mansão da família Collor em Brasília. Rosane - Eu recebi um telefonema dizendo que eu não fosse a esse evento porque, se eu fosse, eu iria, mas eu não voltaria. E eu repreendi, disse que não tinha medo. Fantástico - E você acha que foi ele? Ou foi ele que te ameaçou? Rosane - Foi ele que ameaçou. Fantástico - Ele te ligou e pessoalmente te disse isso? Rosane - Um telefonema anônimo. Eu não sei se era ele que estava no telefone. Eu sei que eram pessoas que falavam dizendo que ele tinha mandado ligar, dizendo que eu não fosse para aquele culto, porque se eu fosse eu não voltaria. Em maio de 1992 estourou a bomba: em entrevista à revista Veja, o próprio irmão do presidente, Pedro Collor, afirmou que PC Farias era testa-de-ferro de Fernando Collor. O presidente, segundo as declarações do irmão, sabia das atividades criminosas de seu ex-tesoureiro. Dez meses depois, Pedro foi além. Em entrevista ao Jornal do Brasil, disse que Collor e Rosane faziam o que ele chamou de rituais de magia negra. E na própria Casa da Dinda, que era a mansão da família Collor, em Brasília. Hoje, Rosane conta detalhes sobre esses rituais. E relata como foi o encontro com Maria Cecília, no dia em que teria sido ameaçada por telefone. Rosane - Já tem bastante tempo que ela aceitou Jesus, ela hoje é pastora, e ela estava fazendo lançamento de um novo CD, onde ela contava todas as experiências. Fantástico - Inclusive os rituais de magia negra que aconteciam. Rosane - Inclusive os rituais de magia negra que eles faziam, mas não com a minha participação, porque algumas coisas eu participei, mas a grande maioria eu não aceitava participar. Nesse CD a que Rosane se refere, Maria Cecília relata duas fases desse trabalho com Fernando Collor. Uma para ele chegar à Presidência: “Foi um trabalho muito sério. Foi um trabalho muito imundo, podre, nojento, para que se colocasse ali, na Presidência da República, aquele homem para administrar o Brasil”. Outra, com ele já presidente, nos porões da Casa da Dinda. Nesse trecho, Maria Cecília fala dela mesma como se falasse de outra pessoa: “E ela teve que ir para Brasília, improvisar na Casa da Dinda, lá nos porões da Casa da Dinda, um lugar que fosse para o atendimento do marido e da esposa que estavam na Presidência da República. E ela deu continuidade àquele trabalho por um longo tempo”. Fantástico - Nesse livro, você vai contar justamente sobre esses rituais que ele não gostaria que fossem contados. Rosane - Com certeza. Fantástico - Que rituais são esses? Rosane - Trabalhos em cemitérios, trabalhos muito fortes. Fantástico - E com animais, o que acontecia? Rosane - Com animais era matança mesmo. Mata galinhas, mata boi, vaca. São animais que são sacrificados. Uma imagem mostra a proximidade de Maria Cecília com Fernando Collor: em 1991, ela subiu a rampa ao lado do presidente, e trocando sorrisos. A cor branca do terno teria sido uma orientação de Cecília. Também por orientação dela, segundo Rosane, Collor fazia rituais com a intenção de se proteger de inimigos políticos. Tentando fazer com que fossem atingidos pelo mal que desejassem contra ele. Rosane - O Fernando fez ritual de ficar isolado, na Casa da Dinda ele ficou. Tem um porão e ele ficou durante três dias isolado mesmo, como se fosse se consagrando. Fantástico - Com animal morto? Rosane - Mas não no mesmo local. Dormindo numa esteira, ficando ali vestido com roupa branca. Fantástico - E ele fazia isso pedindo o quê? Rosane - Porque ele acreditava que pessoas que desejavam mal pra ele, fazendo isso, o mal que as pessoas mandavam pra ele, voltava. Fantástico - Durante quanto tempo vocês fizeram esse tipo de ritual? Rosane - Quando eu conheci o Fernando ele já frequentava esses ambientes. Enquanto a gente esteve casado, ele praticava. Rosane afirma acreditar que esses rituais deram origem ao que ela chama de "Maldição do Collor", e que ela e Maria Cecília só escaparam por terem aceitado Jesus. Rosane - Eu e a Cecília somos duas pessoas que estamos vivas. Eu não acredito em coincidência, eu acredito em jesuscidência. E somos duas pessoas que estamos vivas por ter aceitado Jesus. Fantástico - O que você chama de "Maldição do Collor"? Rosane - De as pessoas que tentaram prejudicá-lo. Vários exemplos morreram de morte estranha. Eu acredito na maldição, de aquilo que quando você deseja o mal para alguém, isso pode acontecer. Fantástico - Quantas pessoas morreram de maneira estranha? Rosane - Eu não sei quantas pessoas foram Fantástico - Quais foram as que você atribui a maldição? A mulher do PC Farias? Rosane - É que é uma pessoa que não tinha muito carinho pelo Fernando. Ela não gostava do Fernando. Agora jamais vou afirmar que o Fernando fez algum trabalho para que ela fosse morta. Fantástico - Quem você acha que está temendo hoje pelo lançamento do seu livro? Rosane - Eu prefiro acreditar que tem pessoas que estão receosas. Fantástico - Quem? Rosane - O próprio Fernando, né? Porque eu acredito que eu vou contar coisas que ele não gostaria de ser contada. Fantástico - Por exemplo? Rosane - Vou dar um exemplo forte. O PC continuava, ele tomava café da manhã na Casa da Dinda. E ele disse que não, e acontecia. Uma vez por semana, ele tomava café na Casa da Dinda com Fernando, presidente da República. Agora, depois que começaram a sair as notícias ruins, aí ele nunca mais foi tomar café na nossa casa. Até porque o PC era tesoureiro do Fernando na época da campanha. Ele é quem fez toda a arrecadação, isso todo mundo sabe. Fantástico - E depois da campanha, depois de eleito, qual era a relação de Fernando Collor de Mello com PC Farias? Rosane - De amizade, eles eram amigos. Fantástico - Mas no governo? Rosane - Eu acredito que ele tinha influência. Eu acredito não, eu tenho certeza absoluta que o PC teve influência no governo. Tanto que ele tinha irmão que foi ser da Saúde. Fantástico - Mas o Fernando Collor der Mello negou essa informação na época, dizendo que ele não tinha contato com o PC Farias. Por que ele negou? Rosane - Não sei por que ele negou. Fantástico - Você perguntou pra ele? Rosane - Perguntei, ele disse que preferia que fosse assim. Fantástico - Quem tinha mais influência sobre Fernando Collor de Mello. Rosane Collor ou PC Farias? Rosane - Nossa, eu acredito que o PC Farias. Rosane Collor lembra que em 1993, quando foi decretada a prisão de PC Farias, a mulher dele, Elma, saiu em defesa do marido: “O Paulo César não agiu sozinho, ele teve alguém que mandou. O chefe maior foi quem mandou ele fazer isso.”, disse na época. Fantástico - E o chefe era o Fernando Collor? Rosane - Eu acredito que, quando ela falou nessa entrevista, eu acredito que ela tenha falado do Fernando. Rosane revela que, quando foi presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), teve problemas com PC Farias. Rosane - Uma certa manhã, nós estávamos tomando café da manhã na Casa da Dinda, eu era presidente da LBA de fato, e no café da manhã eu fui conversar com o Fernando e o PC estava lá, e eu disse que eu não gostaria que o PC viesse interferir na LBA. Fantástico - Que tipo de interferência ele queria fazer? Rosane - Colocando muitas pessoas pra trabalhar em cargos importantes. Fantástico - Pessoas dele? Rosane - Pessoas ligadas a ele. Eu disse que eu não ia permitir. Fantástico - Isso coincidiu com a primeira crise do casal, no final de 1991? Rosane - Exatamente. Foi aí a grande crise que nós tivemos no casamento. Fantástico: Onde você e o Collor estavam quando o PC Farias morreu? Rosane - Nós estávamos no Taiti. Fantástico - Como que vocês receberam essa notícia? Rosane - Ele ficou preocupado. Agradeceu por não estar lá, porque poderia passar na cabeça das pessoas que ele poderia estar envolvido. Fantástico - Você achou? Rosane - Não, em nenhum momento. Como acredito que ele não está envolvido na morte do PC.

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