segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Polícia Federal acusa Petrobras de poluir oceano com resíduos tóxicos

A Polícia Federal acusa a Petrobras de despejar no oceano toneladas de resíduos tóxicos resultantes da operação de extração de petróleo de plataformas marítimas sem nenhum tipo de tratamento. O inquérito da Divisão de Crimes Ambientais da Polícia Federal no Rio de Janeiro, que já foi concluído e enviado ao Ministério Público Federal, afirma que a empresa não respeita a legislação sobre o tratamento e o descarte da água tóxica, chamada de "água de produção" ou "água negra", que se mistura ao óleo prospectado nas unidades marítimas de produção. Segundo o delegado Fábio Scliar, responsável pelo inquérito, as investigações mostraram que a Petrobras é "leviana" no tratamento de resíduos da extração petroleira. A fiscalização a cargo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é ineficaz, segundo a Polícia Federal. "O impacto é 300 vezes maior do que o vazamento da Chevron no ano passado. O negócio vem desde que há exploração de petróleo no Brasil", destacou o delegado, completando ainda: "Essa água negra é descartada há décadas no oceano sem o tratamento adequado. E não há qualquer fiscalização". O inquérito já está no Ministério Público Federal, que pode denunciar por crime de poluição pelo menos dois gerentes da empresa pelas irregularidades constatadas na investigação. Outro inquérito civil está em andamento para responsabilizar, e multar, a Petrobrás. O procurador Renato Machado informou que vai enviar cópias de toda a documentação do caso para a Procuradoria-Geral da República em Brasília, onde será definida a abertura de novos inquéritos para apurar o despejo de água de produção nas plataformas marítimas espalhadas pelo País. As investigações da Polícia Federal começaram há 10 meses, por meio de operações que tinham a função de apurar suspeita de descarte de poluentes da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), a quarta maior da Petrobras, diretamente nas águas do Rio Iguaçu e na vegetação da região. Em todas foram confirmadas irregularidades. A Petrobras foi multada, segundo a Polícia Federal, e se comprometeu a erguer até 2017 uma nova unidade de tratamento de resíduos. No andamento do caso, porém, servidores públicos responsáveis pela fiscalização ineficiente da empresa comentaram com os agentes federais que pior do que os descartes de poluentes pela Reduc era o derrame da água de produção nas plataformas e refinarias. "Uma inconfidência de um servidor público da área de meio ambiente sobre o problema da água de formação nos chamou a atenção. Como aquilo não era o meu alvo no momento, eu captei e fiquei quieto. Depois que eu resolvi a questão da Reduc, resolvi investigar", disse o delegado Scliar: "Acabei desvendando essa história que, para mim, é um absurdo. É uma política absurda. Uma enganação ao povo brasileiro". A água negra é uma mistura de água do mar com óleo, graxa e inúmeras substâncias tóxicas, como os metais pesados bário, berílio, cádmio, cobre, ferro, e até radioativas, como estrôncio-90 e bismuto-214, entre outros. De acordo com as investigações da Polícia Federal, a Petrobras informou que 99% da água de produção extraída junto com o petróleo são tratadas nas próprias plataformas marítimas. O inquérito ressalta, no entanto, que nem todas essas unidades contam com estações de tratamento (apenas 29 das 110 plataformas têm capacidade de limpar o líquido tóxico antes de seu retorno ao mar). O 1% restante da água negra segue para refinarias da Petrobras, onde também deveria receber tratamento. Mas isso também não acontece, de acordo com a Polícia Federal. As unidades de tratamento estão desativadas. O líquido tóxico é embarcado em navios da empresa, "onde, sem tratamento algum, serão despejadas em alto mar", afirma o inquérito enviado pelo delegado Scliar à Procuradoria da República em São João de Meriti há dois meses.

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