terça-feira, 16 de outubro de 2012

JOSÉ ROBERTO ARRUDA DEPÕE NO MENSALÃO DE BRASÍLIA, DIZ TER SUA VIDA DESTRUÍDA, E AMEAÇA QUE NÃO APARECEU NEM METADE DO ESCÂNDALO


Dois anos e meio após ser preso e ter o mandato cassado, acusado de ser chefe do esquema do Mensalão de Brasília, o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, deu o primeiro depoimento nesta terça-feira à Justiça. Ele negou as acusações, disse que foi vítima de vingança de inimigos e, dando socos na mesa, ameaçou ir à forra: "Já que destruíram minha vida mesmo, não tenho pressa. Só digo uma coisa, ainda não apareceu nem metade da missa". Arruda está indiciado na ação penal 707, que corre no Superior Tribunal de Justiça, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, podendo pegar mais de 20 anos de prisão caso seja condenado. Ele foi ouvido no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por delegação do ministro Arnaldo Esteves Lima, relator da ação. A quadrilha, segundo as investigações da Polícia Federal, teria desviado mais de R$ 1 bilhão dos cofres públicos em seis anos. O delator do esquema, o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que também depôs nesta terça-feira, reafirmou a denúncia de que Arruda comandava a organização criminosa. Ele disse que pagava as contas do ex-governador com "dinheiro sujo", inclusive viagens internacionais. "Deixava dinheiro escondido para ele, dólares, em um banheiro", afirmou. Explicou que Arruda frequentava a casa dele e que teria deixado dinheiro de contratos de informática até com a sogra dele. Exaltado, Arruda negou as acusações e disse que todos os diálogos apresentados pelo delatar Durval Barbosa e periciados pela Polícia Federal foram editados e manipulados. "Acabaram com a minha vida pública porque eu não cedi às chantagens desses bandidos", garantiu. Mas entrou em contradição e admitiu que, após eleito, recebeu os empresários financiadores de sua campanha, que teriam lhe cobrado a fatura. "Financiamento privado de campanha é fonte de crise permanente", observou ele, citando como exemplo o Mensalão do PT do governo Lula. Um dos maiores esquemas de corrupção da política brasileira, o Mensalão de Brasília foi desmantelado em novembro de 2009 pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema consistia no desvio de recursos públicos em contratos "viciados", cobrança de propina de empresários que tinham negócios com o governo e rateio de caixa dois entre autoridades e políticos da base aliada. Entre 2000 e 2009, teriam sido desviados mais de R$ 1 bilhão dos cofres públicos. Além de José Roberto Arruda, figuram na lista de 37 denunciados pelo Ministério Público o vice-governador Paulo Octávio Pereira, dez deputados e ex-parlamentares, secretários de Estado e autoridades em geral. Em 20 de setembro, no último despacho sobre o caso, o ministro relator transformou o inquérito criminal 650 na ação penal 707, tornando os acusados formalmente em réus. Eles responderão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

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