quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Para relator, fatos derrubam tese de que petista José Dirceu não tinha nenhuma relação com Marcos Valério



O relator do processo do Mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, afirmou que os encontros do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, com altos dirigentes dos bancos Rural e BMG, com a presença de Marcos Valério e Delúbio Soares, contrariam as teses da defesa de que José Dirceu não tratava de questões financeiras relativas ao PT nem tinha relações próximas com Marcos Valério. Joaquim Barbosa iniciou o voto neste capítulo destacando trechos da acusação do Ministério Público. Na sequência, fez uma rápida abordagem da defesa de José Dirceu, mas já a desqualificou: "Tudo isso poderia gerar duvida, mas o conjunto probatório não permite que se acolham os argumentos". A partir daí, o relator começou a citar os encontros do ex-ministro com Marcos Valério e com as cúpulas dos bancos que realizaram os empréstimos usados no esquema do Mensalão do PT. Joaquim Barbosa citou a coincidência de datas de algumas dessas reuniões com os créditos concedidos às empresas de Marcos Valério para a realização de repasses a políticos por indicação de Delúbio Soares. O primeiro caso citado foi de uma audiência do presidente do BMG, Ricardo Guimarães. O encontro aconteceu no dia 20 de fevereiro e teve a presença de Marcos Valério e Delúbio Soares. Quatro dias depois, o BMG liberou um empréstimo de R$ 12 milhões para a SMP&B, uma das agências do publicitário. Na sequência, Joaquim Barbosa destacou três encontros de José Dirceu com integrantes da cúpula do Banco Rural, entre eles um com a presidente da instituição, Kátia Rabello, que já está condenada. Observou que uma dessas reuniões aconteceu, segundo a própria Kátia, no primeiro semestre de 2003. Em maio desse ano, o Banco Rural liberou R$ 19 milhões para a SMP&B. Outro encontro aconteceu em agosto de 2003. Mesmo sem a quitação dos débitos anteriores, Marcos Valério conseguiu mais R$ 10 milhões em crédito em dezembro do mesmo ano. "A questão é que, embora o dinheiro fosse repassado por pessoas indicadas pelo tesoureiro do PT para alegado pagamento de dívidas de campanha, não foi o presidente do PT quem se reuniu com a diretoria do banco Rural e BMG para essa finalidade. Foi o acusado José Dirceu que se reuniu com dirigentes dessas duas instituições antes das tomadas dos empréstimos", disse o relator. O ministro citou ainda um depoimento da esposa de Marcos Valério, Renilda Santiago, no qual ela afirma que José Dirceu sabia dos empréstimos, segundo o que ouviu do marido. No depoimento, Renilda disse que o tema foi discutido em uma reunião de Kátia Rabello, Marcos Valério e José Dirceu, em Belo Horizonte. A reunião foi confirmada, mas o tema negado. "Esse tema, sem dúvida, era de interesse do PT e também do governo porque os recursos obtidos através desse empréstimo permitiu que a SMP&B funcionasse como uma central de pagamento a parlamentares da base aliada", disse Joaquim Barbosa, destacando ainda que foi o Banco Rural que forneceu um mecanismo de lavagem de dinheiro para o esquema. O relator destacou que parte desses encontros foi negada inicialmente. "Os fatos já mostrados aqui derrubam de uma vez a tese sustentada inicialmente de que Dirceu não tinha nenhuma relação com Marcos Valério. Mostrei aqui a série de encontros que só vieram a conhecimento no curso da instrução", declarou ele.

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