segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A BOA VIDA MICARLA


Afastada do cargo pela Justiça desde o dia 31 de outubro, a prefeita de Natal tinha gastos mensais que superavam seu salário anual. Folha salarial de dezenove funcio­nários domésticos, como motoris­ta, faxineira, governanta e secre­tária: 21500 reais. Gastos com roupas e relógios: 5800 reais. Viagens internacionais: 35000 reais. Reparos na casa: 11 600 reais. Esses são alguns dos gastos mensais de Micarla de Sou­sa (PV), afastada da prefeitura de Na­tal no mês passado sob acusação de desviar dinheiro de contratos públicos. A conta chegava a 180000 reais por mês - mais do que todo o ganho de­clarado por Micarla durante um ano, de 168000 reais (seu salário era de meros 14000 reais). A investigação do Ministério Públi­co do Rio Grande do Norte começou em 2011 e detectou problemas em vá­rias áreas da prefeitura. Os primeiros indícios de irregularidades surgiram em cuntratos da Secretaria de Saúde, que somavam 65 milhões de reais - e, segundo os promotores, eram superfatu­rados; O episódio alcançou, por acaso, a pasta da Educação. Em apreensões fei­tas nas casas de secretários municipais, foram encontradas planilhas sobre dis­tribuição de propina. Esses documentos informavam que Micarla ficava com 10% do valor total dos contratos de uniformes escolares e merenda. O marido da prefeita, Miguel Weber, levava 5% dos uniformes e 2% da merenda, de acordo com as planilhas. Só nesse caso, concluiu o Ministério Público, o casal amealhou 194000 reais. Foi nesses ar­quivos que os promotores localizaram as tabelas com os gastos pessoais da prefeita afastada de Natal, totalmente incompatíveis com os seus rendimentos - ao menos os oficiais. A irregularidade úpica do dinheiro sujo - que não cai todo mês na conta, como o salário dos funcionários hones­tos - ajuda a explicar o malabarismo que assessores de Micarla tinham de fa­zer para lidar com os problemas bancá­rios da chefe. Francisco de Assis, coor­denador da Secretaria de Saúde mas na prática secretário particular da prefeita, era um dos mais atarefados. Em uma das interceptações autorizadas pela Jus­tiça, Micarla lhe enviou a seguinte men­sagem de celular: "Assis, dá uma olhada na minha conta e nos meus cartões. Me diga quanto eu tenho disponível e veja se minha conta lá o.k. ou se voltou algum cheque". Em seguida, Assis respondeu: "Saldo devedor de 27 500 reais. Temos que resolver essa situação, pois os car­tões estão no momento bloqueados". Em outra, ele ligou para a gerente da prefei­ta no Banco do Brasil. Perguntou como estavam os saldos da conta-corrente e dos cartões de crédito de Micarlâ, por­que ela viajaria para Miami. A gerente informou: "Entrou um cheque hoje e faltaram 200 reais. O total do saldo de­vedor é 32900 reais. O cartão dela está com restrições". Em algum momento, pressupõe-se, a conta deixou o vermelho, já que Micarla continuou com cré­dito. Mas só no banco. Entre a popula­ção, não se pode dizer o mesmo: a rejeiçãO é de 92%. Descrédito total.

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