segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DEPUTADO FEDERAL JERÔNIMO GOERGEN AVISA, É CANDIDATO AO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL EM 2018

Jerônimo Goergen, candidato ao governo em 2018

Fui encontrar o deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS) no final de uma manhã de sexta-feira, em Porto Alegre. Ele estava se preparando para cair na estrada, para adicionar mais cerca de 2.000 quilômetros de estrada. É sempre assim, o carro, novo, já acumula mais de 170 mil quilômetros em um ano e meio. Ele conhece todos os lugares, mantém relacionamentos em todas as cidades, faz votos em quase todos os municípios, embora a sua região mais forte eleitoralmente seja a chamada Celeiro. Jerônimo Goergen já se considera preparado para dar o salto em sua vida. Vai concorrer novamente a um mandato de deputado federal, em 2014, mas avisa antecipamente: será seu último mandato de parlamentar. Depois disso ele quer disputar uma eleição majoritária, pretende ser candidato a governador do Rio Grande do Sul em 2018.
Videversus – Lê-se os jornais e se vê o seu nome sempre envolvido com reivindicações do setor primário. Não é uma atuação parlamentar muito concentrada sobre só uma temática?
Joerônimo Goergen – Eu sou um deputado identificado com o setor primário, já fui chefe de gabinete de ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. Você deve estar se referindo à notícia do crédito presumido, da monetização, como nós chamamos. Eu aproveitei a Medida Provisória 575, do governo Dilma, e contrabandeei uma emenda minha. O governo faz as compensações e não devolve o dinheiro para as empresas. Com a emenda estamos autorizando a empresa a pagar outros tipos de tributos com os créditos a que tem direito, já que ela não recebe, e como o governo deve, é uma forma de as empresas não quebrarem. No setor leiteiro tem cerca de 500 mil empregos em risco, se não acertarem o que as empresas têm pra receber. E olha que o Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de leite do Brasil.
Videversus – Qual a sua posição diante da progressão da falta de representatividade na atividade política?
Jerônimo Goergen - Elegemos sempre o menos pior, acabamos elegendo gente despreparada. No Rio Grande do Sul, do meu ponto de vista, acabamos tendo uma acefalia na política. O cidadão está enraivecido com a política, e ao mesmo tempo ele não se dá conta que o voto é a única forma de mudança. Hoje eu estava escutando na rádio sobre o custo das campanhas para vereador em Porto Alegre, e são contas surrealistas.
Videversus – Não lhe assusta o incrível nível de abstenção do eleitorado, já quase ultrapassando 30 por cento do eleitorado?
Jerônimo Goergen - Nós temos essa abstenção grande, e  temos também a hipocrisia daqueles que têm obrigação de formar opinião, e fazem de conta que não estão vendo os erros, e apóiam aqueles que estão errando. A ausência do eleitor no voto é um grave erro. Não se tem democracia sem o eleito, principalmente sem parlamento. Mas, esta abstenção é, sem duvida, motivada pelo descrédito na política.
Videversus – Essa é a questão. Esse nível de abstenção tão grande não deslegitima o poder político?
Jerônimo Goergen – Primeiro, o modelo que nós temos hoje já não representa mais o eleitorado. Eu tenho a bandeira do agronegócio, me identifico com o agricultor, então consigo manter uma certa representatividade, mas nós não representamos mais a sociedade. O modelo que nos elege é o modelo do voto pessoal, de um voto estrutural, é um modelo completamente errado.
Videversus – Então, qual a reação diante dessa situação crítica?
Jerônimo Goergen - Nós estamos discutindo lá no Congresso Nacional alguma mudança. Ainda não temos a leitura do que é o ideal, mas se encaminha para o seguinte modelo. A Assembléia Legislativa, a Câmara Municipal e o Congresso não representam a sociedade no modelo atual. Então nós estamos encaminhando uma questão. Primeiro: a unificação das eleições, isso já é um consenso, fazer todas de uma vez só. A próxima eleição de prefeito passará para dois anos.
Videversus – Mas, isso não é muito pouco?
Jerônimo Goergen - Se nós tivéssemos o financiamento publico de campanha.... Você não tem financiamento público sem voto em lista. Nós teríamos um modelo de lista, e os partidos organizariam as posições, e nós iríamos para uma eleição na qual o eleitor votaria, por exemplo, no número 11, ou no 1133. A cada 200 mil votos, o partido colocado um nome da sua lista como deputado. Digamos que um determinado partido faz 850 mil votos. Então este elegeria quatro deputados, e os restantes 50 desapareceriam. Não se teria mais a sobra, que é exatamente o que motiva a ocorrência de aberrações nas eleições atuais. A escolha passaria a ser por voto nominal. Para você não ter um cara com 20 mil votos eleito, e uma Luciana Genro com cento e poucos mil votos sem mandato. Então tu vai no voto exato, usa os primeiros nomes da lista.
Videversus – Os votos descartados não seriam válidos?
Jerônimo Goergen – Não, não é assim. As legendas elegeriam candidatos a cada 200 mil votos redondos. As sobras elegeriam deputados pelo número de votos, fora das listas. Com isso se acabaria com essa nanicagem na política, hoje nós temos lá deputados federais com 17 mil votos, e outros com 77 mil votos. Assim se diminuiria o número de partidos. Com isso as campanhas seriam institucionais, e aí se teria uma mobilização nas eleições. Eu teria o interesse de ganhar eleição de diretório tal, por que aquele diretório poderia me jogar para dentro da lista. Resumindo este é o modelo que esta lá em discussão.
Videversus – E este não é um modelo que beneficiaria exatamente o maior interessado nele, o PT?
Jerônimo Goergen - Na lista sem isto o PT seria o grande beneficiado. O eleitor não vota no 11 porque é do PP, mas vota no 13 que é do PT. Mas, se acabar com o voto nominal, os nossos partidos, que não têm densidade, se igualariam. Hoje o candidato do PT é o cara que mais tem condições de renda, ou quem está no governo tem mais capacidade de arrecadação. O Henrique Fontana admitiu, disse que tem gente que oferece dinheiro para ele, porque é líder do governo e tem influência. As campanhas para nós são caríssimas. Eu gastei 1 milhão e 300 mil. Fiz um empréstimo e pago 8.500 reais por mês. Ganho um total liquido de 19.700 reais. E faltam 85 prestações da minha campanha até agora, porque eu não tinha “arrecadação”. Então esta estrutura tem que mudar, porque motiva, por sobrevivência, a que os políticos aceitem as ofertas espúrias.
Videversus – Não é muito dinheiro para manter uma representação político-partidária que cada vez tem menos poder de representação?
Jerônimo Goergen – De fato, tem uma parte do Congresso, composta por uns 50 ou 60 deputados federais, que são os que movimentam isso ai. Eu estou tentando entrar nesse grupo. Tem outros que ficam para marcha de manobras, para ganhar dinheiro. E os partidos pequenos não querem mudar, porque vão perder para os partidos maiores. Então esta é a dificuldade de uma mudança, que eu considero urgente. É a principal mudança para o Brasil, porque já está sucateado o modelo político nacional. No nosso caso de deputado federal, existe outro agravante, que são as emendas parlamentares. Isso para mim gera uma ditadura democrática. O sujeito vai para a Câmara dos Deputados, sabendo que vai enfrentar uma gigantesca estrutura financeira. Eu mesmo, só consegui me eleger porque meu partido fez coligação, de outro jeito eu também estaria fora. Em Brasília os caras entram para dentro das medidas provisórias, para votar de acordo  com aquilo que vão ganhar para aprovar ou não. São 15 milhões de reais de emendas que nós temos por ano. Se tu não apresentas emendas, tu aparece para o eleitor como não tendo feito coisa alguma. O parlamentar é medido pelo tamanho da emenda que apresentou. A menor emenda é 100 mil reais, e para obra a menor é de 250 mil reais. Hoje nós temos a venda de emendas como uma realidade. E pior, o dinheiro não é de execução obrigatória. Este dinheiro das emendas é apenas uma indicação, não significa que o governo vai liberar o dinheiro. E, quando chega o final de ano, o parlamentar enlouquece, como eu vou enlouquecer, para empenhar esses recursos, para eles não ficarem perdidos. Como tudo, é o governo que autoriza, e se eu brigar com o governo, o governo não vai empenhar a minha emenda. Se eu não empenhar minha emenda, o prefeito, que já publicou a notícia no jornal da sua cidade, já fez promessas aos seus munícipes, ele vai enlouquecer comigo. Então ele não vai mais votar em mim se eu não conseguir liberar as emendas. Aí, o resultado é que o parlamentar diz “amém” para o governo, o prefeito e o vereador nem se importam se é a Dilma ou Serra que é o presidente, porque eles querem é se reeleger. E assim se gerou o fim da oposição no Brasil.
Videversus – Então não adianta criar financiamento público de campanha, porque os parlamentares continuarão reféns do Poder Executivo?
Jerônimo Goergen - O financiamento é um grande problema, mas ao meu ver, com relação ao debate político, as emendas parlamentares é que acabaram com ele. O maior crime que existe é este negocio das emendas. Nós, do PP, estamos com uma emenda constitucional, tentando, no mínimo, transformar isso em execução obrigatória. O ideal é que isto acabasse e o dinheiro fosse repassado direto para o município. Minha expectativa é que este modelo aprimorado possa passar, com a unificação das eleições, o financiamento publico. Isso significaria um passo adiante.
Videversus – Por que não adotar logo o voto distrital?
Jerônimo Goergen - No meu ponto de vista, a imprensa tem que nós ajudar, porque em alguma coisa tem que se dar um passo. O voto distrital, para mim, é o melhor modelo. O meu eleitor é formador de opinião. Fui dirigente partidário, presidente da juventude. Eu tenho municípios aos quais não voltei depois da eleição, e já tenho dois anos de mandato nesta legislatura. Minha cidade de origem é Palmeira das Missões, embora eu sempre tenha morado em Santo Augusto. Eu fiz 10 mil votos na região Celeiro, 7 mil votos na Zona da Produção, 6 mil votos na grande Santa Rosa, 4 mil votos nas Missões, e ai veio pingando. Eu não um parlamentar tão presente nas bases como deveria. Mas, aí vem uma outra distorção, se nós não visitarmos a base, o eleitor cobra a nossa ausência. Entretanto, ele também quer nos ver lá no plenário da Câmara.
Videversus – Então, quando vai mudar esse quadro?
Jerônimo Goergen – Acho que na hora em que a nossa economia desandar um pouco. Todo o carisma do Lula e da Dilma está concentrado em cima do bolso do cidadão. A hora em que o povo se der conta do endividamento que nós estamos vivendo na economia nacional, da inflação que está subindo, talvez ele passe a se manifestar
Videversus – Quer dizer que, se não houver mudança na economia, não há esperança de mudar o cenário político dominante dos últimos dez anos?
Jerônimo Goergen – Depende muito do perfil de candidato. Você vê o Aécio Neves, tem toda tendência que eu dê apoio a ele para a Presidência da República. Mas, eu, como possível apoiador de sua candidatura, ainda não o vejo como alguém que está se postando como a candidato a presidente do meu País. O Eduardo Campos, quando teve a chance de crescer, usou a maquina do Estado para eleger a mãe ministra do Tribunal de Contas, e depois ela ficou morando em um apartamento funcional. Isso dá para ver para onde nós estamos indo...
Videversus – Mas a sociedade leva em conta aspectos como esses?
Jerônimo Goergen - A sociedade esquece isso tudo, chega na hora da eleição e não vai lembrar disso. A Dilma não tem gestão. Se tu não tem debate, o que pesa para o eleitor? O eleitor pensa assim: “São tudo ladrão, ou não votar, ou deixar como está”, e é por isso que o PT esta ai, conduzindo a Presidência. Temos uma economia aparentemente estável, ou seja, o cidadão compra um carro, um apartamento, compra tudo, sem colocar “um pila” na frente. Então..... não mexa com isso. Foi isso que banalizou a consciência cidadã do brasileiro. É minha leitura.
Videversus – Quer dizer que isso é que dita o comportamento do político?
Jerônimo Goergen - Os políticos sabem disse e sabem que precisam de recursos para manipular aquele voto descontente. E com esses recursos ele acaba tendo mais votos. Por que a maioria dos secretários se elege com campanhas milionárias? Porque usam a estrutura do poder para manter relacionamento, que compensa.
Videversus – Isso quer dizer que as eleições são, de certa forma, pré-determinadas, para não se usar termo mais forte?
Jerônimo Goergen - As eleições são, de certa forma, compradas. Podem não ser compradas no bolso, mas na “estrutura”. Às vezes o eleitor vota naquele que fez uma janta, ou no que mais tem placas nas ruas, ou no que se vende. Tem denuncias de venda de votos em vários municípios do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Videversus – Esse quadro não reflete, também, a falta de lideranças na política, que sejam respeitadas, que imponham respeito ao eleitor?
Jerônimo Goergen - Hoje nós não temos mais lideres como antigamente. O eleitor ia em Santo Augusto, falava com meu pai, que é líder da comunidade, e ele falava com as pessoas, e conseguia voto. Hoje a liderança tá bem reduzida. O Facebook e o Twitter tornaram todo mundo líder. Você dá uma opinião no Twitter que pode parar na Folha de São Paulo. Hoje a nossa dificuldade de liderar alguém é enorme. O cidadão é capaz de não lembrar um nome de deputado, nome do ministro... nem a Dilma sabe.
Videversus – E está criando mais um ministério....
Jerônimo Goergen – Sim, está criando mais um. Na teoria é bom, para cuidar da micro e pequena empresa, que são 90% das empresas do Brasil. Mas, hoje, por exemplo, para discutir o biodiesel, nós temos o ministério de Minas e Energia, o ministério da Agricultura, mas somos obrigados a ir na Casa Civil para discutir. Quem governa o Brasil hoje é o Ministério da Fazenda, esses outros ministérios não têm poder nenhum.
Videversus – Nesse cenário, qual a sua projeção para o futuro político?
Jerônimo Goergen - Eu tenho uma meta. Não disputarei três eleições seguidas para deputado federal. Sou candidato a deputado federal, em 2014, mas em 2018 quero disputar a eleição majoritária. Meu plano é o Governo do Estado do Rio Grande Do Sul.
Videversus – Mas, agora, o seu partido tem a Ana Amélia Lemos?
Jerônimo Goergen – É verdade, hoje nós temos a Ana Amélia Lemos, que é nosso principal nome. Com a entrada da Ana Amélia no cenário, mudou o meu plano. Na eleição passada, quando estávamos discutindo a alternativa para a sucessão de Yeda Crusius, o partido chegou a aventar o meu nome, tanto para concorrer ao governo do Estado quanto para formar a chapa como vice. Meu nome aparecia até em pesquisa. Quer dizer, eu já tive meu nome especulado. De lá para hoje, eu só amadureci. Desistir de ser secretario do Estado porque eu quis, por causa do aumento de imposto. Esta é uma atitude rara, e infelizmente o eleitor esquece. E quase não me elegi por causa desta atitude. Poderia não ter sido eleito, por não ter ficado com a estrutura da secretaria a meu serviço. Eu estou me preparando para um dia ser cobrado. Naquele momento, entre várias questões, a palavra que eu dei, que jamais aumentaria imposto, poderia ser esquecida na minha próxima eleição, mas no meu futuro, não. Um dia irei a debate com alguém que já tenha aumentado imposto, e eu levarei isso como uma diferença. Meu projeto é em 2018 estar à disposição do meu partido para eleição majoritária. Quando começaram a discutir meu nome para ser vice da Yeda Crusius eu deixei arrastar por uns 40 dias, e perdi voto, porque muita gente imaginava que eu pudesse ser o vice e deu a palavra para outro candidato a deputado federal.
Videversus – Isso não significou um grande erro do partido?
Jerônimo Gorgen - Um erro do PP gaúcho ao longo do tempo é que nós temos um processo autofágico, ao invés de prestigiar alguém, nós engolimos todos. Por isso nós nunca temos um nome com consistência, e os nomes que podem, não vão, ou não se preparam com antecedência. Lá na frente, para ninguém dizer que foi de ultima hora, eu estou me preparando para estar à disposição. Estarei com 40 anos e acho que é uma idade boa.
Videversus – Diante de uma tão notória crise de representação política no País, porque os parlamentares não votam uma consulta ao povo, para saber o que ele está querendo?
Jerônimo Goergen - Na proposta inteira, da comissão que é comandada e relatada pelo Henrique Fontana, é previsto um referendo. Nós não votaremos uma reforma política. Sabe por que? Vamos votar alguns itens para que seja criado um ambiente para que a reforma política exista. O Brasil não sabe qual o melhor modelo. Pode ser que a gente vote três itens, que resulte em uma grande porcaria, mas vai fazer com que tenha que ser consertada a porcaria. Deixar como esta é que não dá, porque tudo que falei até agora, como o financiamento, vai continuar piorando, apodrecendo.
Videversus – E a atividade política, enquanto isso, vai minguando?
Jerônimo Goergen - Lá no congresso só se aprova o que o governo quer. Pode ter um projeto de lei consistente, mas se o governo achar que não é, então não passa. Por isso os deputados acabam legislando por meio das medidas provisórias. Às vezes, essas emendas provisórias têm um artigo original, e acabam com 50. Isso demonstra a falta de gestão, o erro do processo legislativo. Paralelo a isso tem a força incomum do presidente da Câmara e do presidente do Senado, que pautam votações, independente do que os lideres querem. Veto não é analisado no Congresso há 10 anos. Então a Presidência da República veta uma matéria e por decreto preenche. Foi o caso do Código Florestal. E outro grande exemplo disso veremos agora no caso dos royalties. Tem ainda a força do lideres de bancadas, que é muito menor que a do presidente da Câmara, mas o líder às vezes vota em nome de uma bancada inteira. Essa força enterra o processo de debate.
Videversus – Este não é um quadro desolador para a cidadania?
Jerônimo Goergen - Ética não deveria ser plano de governo, mas virou.  Tivemos líderes respeitáveis aqui no Rio Grande do Sul que apoiaram gente que estava indiciada na Policia Federal nos episódios da Operação Solidária..... Tu precisas ter o Supremo Tribunal Federal para dizer que o cara é ladrão? Tem gente que sabe que o cara é ladrão e endossa a ladroagem. Ao mesmo tempo que o Parlamento não representa a sociedade, lá dentro está a sociedade. O que é um esquema no Brasil? É aquilo para o que tu não fostes convidado para entrar, porque se tu fosses convidado, então não era esquema, era um negocio. Hoje você tem que tentar ser pragmático, e muitas vezes não sabe o que é certo o que é errado. Nessas muitas viagens que eu fiz aqui, na campanha eleitoral, quantas vezes eu dormi em um hotel pago pela Câmara, fiz uma reunião no sindicato rural e depois fui a um comício? Como se separa isso?
Videversus – Na sua opinião, ainda dá para dizer que o Rio Grande do Sul é um Estado altamente politizado?
Jerônimo Goergen - Nós temos na nossa formação uma tese estilo dupla Grenal, PMDB vs. Arena. Se a idéia é tua, eu não gosto, quero te derrotar. Eu percebo claramente em Brasília que os nordestinos se unem, que os paulistas são pragmáticos, que os cariocas sabem para onde querem ir, que  o Nordeste trabalha para tentar crescer. Nós aqui, se eu estou mal, e o outro está bem, é porque um está rico porque o outro está mal. No Rio Grande do Sul, por ser o Estado mais antigo, nós chegamos a um esgotamento de espaço, de competitividade. O Brasil cresceu, e nós gaúchos demos esta competitividade para outros Estados. Fomos nós que colonizamos o Norte, parte do Nordeste. Nós produzíamos porco para o Brasil comer, hoje o Brasil produz porco, tem maquina agrícola igual. Isso nós perdemos pelo crescimento do Pais, é uma realidade. Há quantos anos nós não escolhemos um governador pelo preparo dele? Vou pegar do Britto pra cá... Elegemos Antonio Britto elegemos governador pela morte do Tancredo. Eu considero que o Britto foi um baita governador, só que não fez gestão, e teve um governo com muitas dúvidas no ponto de vista ético, mas, tirando estas duas coisas, era um governo que sabia o rumo. Privatizou, mas tinha um rumo. Depois o Rio Grande do Sul se assustou, pela arrogância que dizem que ele tem. Efetivamente, não é um cara muito simpático mesmo. Se assustou e elegeu o Olívio Dutra, também pelo carisma dele, não pelo preparo. O que o Olívio fez? Um governo para os deles. O PT tem esta característica, ou tu é dele ou não é dele. Do susto do Britto para o Olívio, ainda pegou Rigotto, que dormiu deputado federal e acordou governador. No meu ponto de vista, um homem de boas relações, mas que fez um governo fraquíssimo. Nós elegemos uma mulher preparadíssima que governou com o pé?. Aquilo que sabíamos que ia ter que ser feito, ela pedalou tudo. Por que não reelegem os governadores? O governo da Yeda Crusius, que foi muito bom em termos gerenciais, penalizou todo um grupo partidário, que envolvia PMDB, PTB, PP, PSDB, DEM. Destruiu tudo, nós ficamos sem rumo nenhum. O Tarso Genro, que usou a maquina, para descaracterizar todo mundo, ganhou o governo no primeiro turno. Naquele contexto, o Fogaça tava apagado, a Yeda ninguém queria ver. Tarso assume o governo e faz, no meu ponto de vista, o governo mais incoerente da historia do Rio Grande do Sul. O governo do Olívio ao menos foi coerente, ele prometeu trabalhar para o MST e para os dele, e esqueceu do resto. Não estou dizendo que seja certo, mas não foi incoerente. Já o Tarso Genro, tudo o que dizia antes que tinha que ser feito, não faz. Vai passear na Europa, assistir filme. Dizer que vai buscar investimento em Paris..... ora..... Ele volta e vai andar de ônibus pelo Rio Grande do Sul. Talvez vá encontrar as estradas esburacadas, a falta de valorização dos professores, a catástrofe da saúde, e é capaz de nós, os eleitores gaúchos acharmos isso tudo legal. Agora, na hora da votação do projeto dos royalties do pré-sal, aí eu não vi o Tarso Genro em Brasília. E, antes eu vi Tarso Genro no Rio de Janeiro dizer que o apoio ao Rio de Janeiro era mais importante. Sobre o Código Florestal.... eu não ouvi a palavra dele. Das questões da agricultura tu não vê o Tarso Genro se manifestando, a não ser fazendo discurso, dizendo que vai ajudar, e não levar nada à Brasília. Este é o cenário, estamos quebrados.
Videversus – Podemos esperar, então, que Jerônimo Goergen, no governo do Rio Grande do Sul, em 2018, vai resolver a grave crise do Estado?
Jerônimo Goergen – Não se imagine que eu, governador, chegarei ao Palácio Piratini e, na base da caneta, vá resolver tudo. Mas, precisamos ter um projeto claro de gerenciamento, podendo partir do modelo da Yeda Crusius, que é interessante. Mas, resolveremos na política. É preciso termos alguém que sente com as figuras representativas do Estado e pergunte o que tem que ser feito. Veja um exemplo: estávamos discutindo telefonia e luz elétrica. A OAB comprou a tese da telefonia, mas na luz elétrica nós fomos liderados por São Paulo. Este perfil político nosso acaba fazendo que nós tenhamos uma política mole aqui no Rio Grande do Sul. Vai durante a campanha e briga, mas na hora de fazer um bom debate não tem....
Videversus – Como fica o PP para 2014?
Jerônimo Goergen - O PP em 2014... O PP neste meio tempo teve um nome que não veio do meio político. Veio da televisão, assim como o Lasier Martins virá também. Nós, políticos, estamos deixando de nos posicionar, estamos buscando gente de outras áreas. A nossa postura política não convence o gaúcho de que nós podemos ir para algum lugar, então temos que buscar jornalista, atriz de televisão, etc... Nesse cenário, a Ana Amélia é, sim, uma candidata competitiva. Neste cenário que estamos vivendo hoje, de eleger governante no desespero, nós estamos levando cada vez mais despreparo para o governo do nosso Estado, e os problemas acabam não sendo solucionados.
Videversus – E o Brasil está vivendo mesmo uma maravilha que dispense a existência de uma oposição atuante?
Jerônimo Goergen - Eu penso que o Brasil vive uma crise econômica muito maior do que o governo transmite. Só não é tão grave porque nós produzimos alimentos. O mundo preciso do perfil do que nós produzimos. Nós aumentamos o consumo interno, e o mundo compra o que nós temos para vender. E ai vem uma desorganização do governo, faltou ração aqui para dar para os porcos e paras galinhas. Faltou o grão, mas o Brasil preferiu mandar embora para segurar esta crise. Segura a crise, sim, mas promovendo a quebra da Petrobras, e promovendo a falta de comida para os bichos, e com o consumo interno que nós temos aqui melhorando. Isso não se sustentará por muito tempo, pois não tendo gestão no Brasil, nós temos um custo publico enorme, e este custo não significa que tenha resultado para o cidadão. Temos uma máquina pública que não consegue atender a demanda da sociedade, que é quem paga esta máquina, que aumenta seu custo para que tenha resultado efetivo. Veja o erro do pré-sal.... nós vamos usar uma riqueza que poderia resolver o problema da educação, resolver o problema da segurança, e que vai virar dinheiro para cobrir o rombo que o Estado brasileiro tira da mão dos municípios. Não vai ter nenhum resultado.
Videversus – Quer dizer que as expectativas de mudança são escassas?
Jerônimo Goergen - Se nós continuarmos elegendo pessoas como eu citei aqui, a crise no Rio Grande do Sul não terá saída. O Brasil não tem gestão e não tem visão estratégica. Até pouco tempo nós ouvíamos dizer que éramos autossuficientes em petróleo, mas importamos 15% do diesel que nós consumimos. Ai o Lula e a Dilma criaram o biodiesel. As usinas cresceram, 5% de mistura, com ganho ambiental, com agregação de valores, e o governo hoje não sabe se quer manter o programa de biodiesel. Então, dinheiro investido foi jogado foram em coisas que não foram tocadas adiante. O Brasil acaba, por falta de planejamento, gastando mais e gastando mal. Ai entra a necessidade da gestão.
Videversus – Não é um paradoxo, que um Estado tão rico como o Rio Grande do Sul, viva em uma situação de tão grave crise?
Jerônimo Goergen - O Rio Grande do Sul é riquíssimo, está sentado, por exemplo, sobre uma grande Petrobras, que são as imensas reservas de carvão. E do carvão pode se produzir a gasolina, o óleo diesel, o querosene de aviação, o gás e mais 27 subprodutos para a indústria petroquímica. E tudo isso com um grau de pureza maior do que o apurado no refino do petróleo. Mas, eu prefiro que não mexam nisso, se não tiver uma estratégia definida para tratar desse tema. Se for para mexerem mal no que pode ser nossa redenção, então que deixem como está. O Brasil hoje é comandado desta forma. No Rio Grande do Sul o governo liderou alguma discussão em relação ao tema do carvão? Nunca. Nós temos muita coisa para fazer. Somos um Estado que se diz rico, mas tem 80 municípios sem ligação por asfalto. Ninguém segura o Brasil, no entanto a forma como nós conduzimos a vida do País sai muito caro. Poderíamos alcançar nossos objetivos muito mais rápido, gastando menos, se tivéssemos planejamento. Na política nacional, na reforma que vai acontecer ou não, precisamos retomar o idealismo.
Videversus – Para isso, não seria necessário devolver auto-estima aos brasileiros?
Jerônimo Goergen - O Brasil perdeu, ou talvez nunca teve, uma autoestima, pelo perfil da nossa colonização. O Brasil precisa se enxergar como gente grande, como gente de futuro, ter um pouco mais de orgulho daquilo que nós podemos construir e isto vai gerar uma indignação com os erros dos políticos, dos juízes, dos jornalistas, de todos nós. E é esta indignação, que a Argentina demonstra ter, e que nós, pelo efeito econômico, não temos neste momento, que vai transformando o País em uma sociedade submissa, onde projetos políticos, projetos eleitoreiros, projetos ideológicos, ganham espaço, se alimentam da coisa publica que é paga pelo próprio cidadão.

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