sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Esquema era para pagar dívida de campanha, diz delator do caso Sanasa


O delator do caso Sanasa (escândalo de corrupção da prefeitura de Campinas, em São Paulo), Luiz Castrillon de Aquino declarou em juízo, nesta sexta-feira, que o suposto esquema de direcionamento de licitações, fraudes em contratos públicos e pagamentos de propina foi montado para pagamento de dívidas de campanha e era liderado pela ex-primeira-dama Rosely Santos. Primeiro dos 22 réus dos processo a ser ouvido pela Justiça, Aquino afirmou que em todos os contratos da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento havia cobrança de contribuições que variavam de 5% a 10% do faturamento das empresas. "Os desvios foram praticamente desde o começo. Ficou claro que deveria se ter uma forma de resgate financeiro para que se pagasse uma dívida de campanha. Nesse caso, fomos cooptados pela Dra. Rosely. O que se queria é que em todos os contratos da Sanasa tivessem um retorno, e isso é impossível", afirmou Aquino em seu depoimento. Aquino, que foi presidente da Sanasa durante o governo do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT), de 2005 a 2008, é um dos 22 denunciados no caso e depôs sob o benefício da delação premiada. Além dele, são réus a ex-primeira-dama, o vice-prefeito cassado Demétrio Villagra (PT), os ex-secretários da prefeitura Carlos Henrique Pinto e Francisco de Lagos e o ex-diretor de Planejamento Ricardo Cândia, além de outros dirigentes da Sanasa e empresários. Todos negam o esquema. Segundo o delator, grandes empresas, como a Camargo Corrêa e a Constran, pagaram propina para o esquema, valores que eram lançados na contabilidade da Sanasa como "pequenos". Os representantes dessas empresas, réus no processo, negam irregularidades. "O dinheiro ficava comigo dois ou três dias e eu, pessoalmente, levava para a Dra. Rosely, onde se contavam as cabeças dos maços de R$ 5 mil. Entreguei para ela no escritório, na prefeitura, em seu gabinete e na casa dela", afirmou Aquino. Segundo ele, o então prefeito Dr. Hélio nunca presenciou os pagamentos. Ele citou ainda pagamentos de valores em dinheiro em cafés, restaurantes da cidade e no banheiro de um shopping. Questionado pelo Ministério Público, Aquino afirmou que os pagamentos eram feitos conforme as datas de faturamento das empresas contratadas, mas que mensalmente era feita a divisão de um "mensalinho" entre os envolvidos: "Nós tínhamos o mensalinho. Era uma participação mensal na Sanasa". Segundo o delator, as "contribuições" feitas pelas empresas eram obtidas após o direcionamento das licitações com "concorrências trabalhadas". "Trabalhar a concorrência é colocar certos artifícios que propiciam que uma empresa ganhe ou que ela arregimente outras empresas para participar junto, sabendo que ela vai ganhar", explicou. O julgamento acontece um ano após ser deflagrada a operação do caso Sanasa, que levou 11 pessoas para a cadeia e que culminou com a cassação do prefeito Hélio e de seu vice Villagra, em 2011. Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que investigou e denunciou o esquema, os acusados podem ter desviado até R$ 30 milhões com as fraudes de contratos da Sanasa.

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