terça-feira, 27 de novembro de 2012

Operação de “marquetingue”: João Santana e o Lula candidato em São Paulo


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Já tratei do assunto aqui há alguns meses. A maioria de vocês certamente sabe que o marqueteiro João Santana concedeu uma entrevista à Folha, publicada nesta segunda-feira. A conversa termina, como quem não quer nada, com a defesa da candidatura de Lula ao governo de São Paulo, tendo Gabriel Chalita (PMDB) como vice. Chega a ser curioso o modo como se fez… É como se Santana tivesse, sei lá, tropeçado na ponta virada de um tapete e dito: “Opa, quase caí…”; como se a possibilidade tivesse surgido do inesperado, do incidental. Evidentemente não é assim que as coisas funcionam no mundo “marquetingue”. As operações obedecem a um planejamento, têm um calendário, uma escala, um plano, essas coisas… A fala de Santana foi tudo, menos um tropeção na ponta virada de um tapete. Foi concedida com o único propósito de lançar o balão de ensaio e analisar as reações. Até porque, a se dar crédito à literalidade das palavras, ele estava a anunciar ali que aquele era o seu gosto, mas que Lula é radicalmente contra. Logo, seria a não-notícia. E por que a Folha daria uma “não-notícia” em manchete? Desde quando as opiniões sem futuro de um marqueteiro são manchete de jornal? Já informei aqui há vários meses que há correntes no PT que realmente querem Lula candidato ao governo. Não pensem que o propósito é só liquidar o PSDB — também é. Mas nem é o mais importante, já que os petistas não dão mais muita bola à oposição e hoje se ocupam mesmo é de suas divisões internas. O lulismo quer uma forma de confrontar — NA SEARA DO PRÓPRIO PETISMO — o governo Dilma. Há várias alas da legenda descontentes com a presidente, o que não a torna necessariamente um exemplo de administração, é bom dizer. Dou um exemplo de uma: a turma que quer censurar a imprensa, por exemplo, acha que a gestão Dilma não é sanguinolenta o bastante. Assim, os petistas que defendem o “projeto Lula” são os mesmos que o queriam candidato à Presidência em 2014, mas que sabem que o projeto é impossível. A presidente não vai abrir mão da reeleição. Não estou dizendo que a coisa vai necessariamente acontecer, entendam. O ponto é outro. É evidente que Santana fez o que fez em combinação com Lula. É uma forma de desorientar a seara inimiga, de impedir que o governador Geraldo Alckmin consolide alianças definitivas, de pôr, desde já, a sucessão em São Paulo em pauta. Aliás, já está. Dois dias antes, a própria Folha havia informado que pesquisa Datafolha apontava a queda de popularidade do governador por causa do surto de violência em São Paulo. Já escrevi muito a respeito e demonstrei que se trata de antecipação de campanha eleitoral. Lula será candidato ao governo de São Paulo? Hoje, o “não” é uma resposta mais provável, mas não é impossível. A cúpula do PT avalia que a “operação desgasta-Alckmin”, por conta da violência, foi uma das mais bem-sucedidas da história do partido. Acredita que pode vencer a disputa com outros nomes. A possibilidade de Lula entrar na disputa será definida pelos confrontos internos do petismo. Se os lulistas considerarem que há a chance de o partido “perder o seu rumo” num eventual novo mandato da presidente, então o Apedeuta pode tentar, sim. A fala de Santana busca criar confusão no terreno adversário, mas também é um recado de Lula ao próprio governo Dilma.

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