terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tensão política, baixaria, o livro de Marco Antônio Villa e os nazistóides do dinheiro público


Do jornalista Reinaldo Azevedo - A tensão política cresce vertiginosamente, e olhem que o PT ainda está longe do que imagina ser o cenário ideal para a realização do seu projeto. Na mesma proporção, cresce a baixaria na rede estimulada pelos amigos do regime, todos financiados por estatais: no alvo, a imprensa independente, os ministros do Supremo que atendem à instituição, não ao partido, qualquer força viva que se mova e que não reze segundo a cartilha. Goebbels não tinha a Internet. Por isso apelava aos grandes comícios, ao rádio, à panfletagem. Hoje os fascistas contam com essa facilidade. Mas aqueles foram vencidos com os instrumentos que havia à época. E estes também serão. Um dia essa história será contada direitinho. Já começou. Estive ontem na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, para o lançamento do livro “Mensalão”, de Marco Antônio Villa. Aconteceu o esperado: a livraria estava lotada. Entre os admiradores da independência intelectual de Villa, havia muitos jovens. Brasil afora, há muita gente que consegue enxergar além das brumas da propaganda encomiástica e da rede criminosa na Internet. Na livraria, fui abordado por vários leitores. As pessoas querem conversar, expressar a sua indignação, manifestar até mesmo seu apoio pessoal. Não se trata de defender este ou aquele; não se trata de satanizar este ou aquele — isso é o que “eles” fazem com a gente. Trata-se, sim, de não se deixar intimidar pelas hostes criminosas, que usam recursos do estado para defender um partido político; pior do que isso: esses recursos são empregados para defender aqueles que cometeram crimes, já sentenciados pelo STF. E como eles se justificam? Alegam que representam a maioria. Mussolini e Hitler representavam também a maioria. “Então maioria é coisa de tiranos, Reinaldo?” Que bobagem! Isso só quer dizer que a maioria, por si, não faz a democracia. O livro de Villa está em primeiro lugar na lista dos “Mais Vendidos”, na categoria “Não-Ficção”, da Livraria Cultura. Ao contrário do que se diz por aí, há, sim, muita gente interessada em saber o que se passou e o que passa no país. Eles fiquem com a baixaria, revelando, de verdade, quem são. Nós ficaremos com os fatos. Os que perfilam com a calúnia, com a injúria e com a difamação fazem também uma escolha moral.  O que vi ontem na livraria é um país vivo, que não desistiu. É possível que boa parte daquelas pessoas pertença a uma categoria talvez única no mundo democrático: eleitores em busca de um partido — o comezinho é haver partidos em busca de eleitores. Seja como for, o país respira. Por óbvio, é quando os regimes se sentem ameaçados que eles se tornam mais violentos. A violência, entre nós, é, por enquanto, retórica. Mas os sites e blogs que estão sob o comando do “Partido” liberam comentários que são verdadeiras aberrações morais: contra ministros do Supremo, contra políticos de oposição, contra a imprensa independente. Não são raros — e eu mesmo recebo centenas destes por dia; é que não os publico — que anunciam que vão “pegar de porrada” seus desafetos, “arrebentar-lhes a cara”, entre outras grosserias que evoluem para o mais asqueroso baixo calão. A exemplo do que faziam as hordas fascistas, eles também sustentam que estão apenas se defendendo da “mídia golpista”. É impressionante a similaridade entre o que dizem e fazem e o discurso de Goebbels, na primeira grande concentração promovida pelos nazistas depois da ascensão de Hitler à Chancelaria. Há só uma diferença, mas nem sempre: Goebbels prometia apelar à violência para combater o que chamava a conspiração da imprensa judaica; por aqui, falam da tal “imprensa de direita” ou “golpista” — mas há, sim, uma corrente razoável que aproveita para acusar a “infiltração sionista” no jornalismo brasileiro… Não! Eles não têm limites, e todos os instrumentos lhes parecem válidos. Já falei a respeito deste discurso, mas reproduzo um trecho mesmo assim. É uma fala de Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933. Hitler estava no poder havia apenas 11 dias (havia sido declarado chanceler no dia 30 de janeiro). Intelectuais como Gertrude Stein e Bernard Shaw ainda o viam como um benfeitor. Ela chegou a sugerir que  o facínora ganhasse o Prêmio Nobel da Paz. Vamos à fala de Goebbels: “Há alguns anos, não falávamos da boca pra fora quando dizíamos que vocês, judeus, são nossos professores e que só queremos ser seus alunos e aprender com vocês. Além disso, é preciso esclarecer que aquilo que esses senhores conseguiram no terreno da política de propaganda durante os últimos 14 anos foi realmente uma porcaria. Apesar de eles controlarem os meios de comunicação, tudo o que conseguiram fazer foi encobrir os escândalos parlamentares, que eram inúteis para formar uma nova base política. (…) O Movimento Nacional-Socialista vai mostrar como eles realmente deveriam ter lidado com isso, ou seja, quando se faz um bom governo, uma boa propaganda é consequência. Uma coisa segue a outra. Um bom governo sem propaganda dificilmente se sai melhor do que uma boa propaganda sem um bom governo. Um tem que complementar o outro. Se hoje a imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!”  Concluindo - Não estou, é evidente, afirmando que o Brasil é a Alemanha de 1933. Estou chamando a atenção de vocês para a similaridade de pensamento, de visão de mundo, de modo de abordar a divergência. Enquanto alguns intelectuais do miolo mole (e é claro que havia os safados) viam em Hitler uma alma genial, ele preparava as Leis de Nuremberg, definidas no 7º Congresso do Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores — o partido nazista de 1935. E ali estava todo o horror que se seguiu. Antes como agora, aos democratas cabe resistir. O que vi na Cultura ontem com “Mensalão” (o livro) e o que tenho constatado Brasil afora com “O País dos Petralhas II” é que há gente disposta a tanto.

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