domingo, 27 de janeiro de 2013

Donos de taxis, os "barões das placas" transformam Porto Alegre em um inferno


O morador de Porto Alegre é refém de taxistas que decidem quando e onde os carros estarão disponíveis para a população. Parte da frota, que deveria prestar um serviço público, acaba atendendo apenas a interesses privados. Taxistas preferem permanecer estacionados a trafegar em busca de passageiros em Porto Alegre. Há quatro situações que explicam a ausência dos tradicionais carros vermelhos em determinados momentos do dia e, sobretudo, em pontos extremos de Porto Alegre. Os dois principais motivos estão intimamente relacionados: a presença dos "Barões das Placas", homens que administram, através de procurações, até 30 táxis, dos quais são na verdade os verdadeiros donos; e a criação do sistema de cobrança baseado no quilômetro rodado. Imposto por donos de veículos a seus motoristas auxiliares, o pagamento pelo quilômetro percorrido (sem levar em consideração o taxímetro) inibe a busca de clientes. Criada na década de 90, mas disseminada nos últimos cinco anos com o fortalecimento dos "Barões das Placas", a cobrança pela quilometragem tem efeito direto na vida dos usuários de táxis. É que o valor a ser desembolsado pelo funcionário do veículo varia entre R$ 1,30 e R$ 1,50 por quilômetro percorrido. O problema ganha dimensão porque a frota permanece nas mãos de auxiliares durante 65% do dia. Em média, cada motorista roda 200 quilômetros por dia. Então um "Barão da Placa" embolsa cerca de R$ 300,00 mesmo que o seu auxiliar tenha circulado metade dessa distância com carro vazio em busca de cliente. Então, ninguém mais busca passageiro nas ruas. Como consequência, grandes eventos realizados em bairros extremos deixaram de ser atraentes para os taxistas. Isso é o que explica a falta de táxis ao fim de jogos e espetáculos, por exemplo, na Arena da OAS. A conta é a seguinte: o deslocamento do Largo Glênio Peres à Fiergs, na Zona Norte, pode custar até R$ 45,00 ao motorista contratado pelo "Barão da Placa", dono do carro. Mesmo que tenha a sorte de apanhar um passageiro que o traga de volta ao ponto de origem, ele receberá R$ 42,6 pela corrida. Ou seja, depois de quase uma hora de trabalho, o motorista ainda poderá sair no prejuízo. A outra causa da carência de táxis está relacionada à troca de turno, a lavagem do veículo e o acerto de contas entre donos de táxis e auxiliares. Isso é feito em as horas mais movimentadas do dia, entre as 16h30min e as 18h30min. O horário escolhido pelos "Barões das Placas" leva em consideração razões privadas, desconsiderando o interesse público. Dessa forma, eles evitam que seus funcionários fiquem presos em engarrafamentos. Como mais de 80% da frota usa GNV, o período da troca está até sendo antecipado para as 16 horas, mas há poucos postos e, nesse horário, todos ficam lotados. A prefeitura de Porto Alegre congelou as "transferências" de permissões de exploração do serviço, na verdade uma comercialização de placas, o que esfriou, mas não extinguiu esse mercado que movimentada R$ 120 milhões por ano. O negócio é o seguinte: essas permissões deviam ser todas extintas, e licitadas as autorizações para operação de táxi em Porto Alegre, com apenas um carro por motorista.

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