terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

14 ANOS SEM MARCOS FAERMAN

Marcos Faerman, legenda do jornalismo

No dia 12 de fevereiro de 1999 caía uma chuvinha fina. Era uma sexta-feira, início de carnaval. E parecia que todos os brasileiros estavam seguindo para o litoral. Pelo fim da tarde saí de carro de Porto Alegre, com minhas filhas e minha neta. Nunca tinha visto tanto carro junto na estrada. Mas, estava feliz, no toca-fitas cantava Withney Houston. Quando cheguei a Capão da Canoa, cerca de 21 horas, chuviscava. Fui até a casa do meu pai para pegar a chave da minha casa. Quando desci do carro, ele veio ao meu encontro no gramado e me disse: "Tenho uma notícia ruim para ti". Eu fiquei paralisado. Minha cabeça funcionou como um turbilhão. E a primeira coisa que pensei, foi; "É o Marcão?" Ele me respondeu: "Sim, o Marcão faleceu ao fim da tarde em São Paulo". Marcos Faerman, um dos mais brilhantes jornalistas de toda a história da imprensa no Brasil, tinha falecido. Ele era meu cunhado, mas, mais do que isso, um irmão. Tive a tarefa de ligar e comunicar, em Porto Alegre, para seu irmão, o falecimento do Marcão. Também pedi que ele verificasse a disponibilidade de passagens em vôos para São Paulo, que ligaria pouco depois para saber. Liguei, e não havia lugar disponível em nenhum vôo para o sábado. Então tomei a decisão: voltaria de Capão da Canoa a Porto Alegre, para pegar meu cunhado, e seguiríamos de carro a São Paulo, para o funeral do Marcão. Fiz isso. Por volta de 1 hora da madrugada, do dia 13 de fevereiro de 1999, lá estávamos nós na estrada em direção a São Paulo. Foi uma viagem complicada. Até Florianópolis peguei um trânsito infernal. De Florianópolis a Curitiba, trânsito pesado em sentido oposto. Isso em uma BR 101 que estava toda ela em construção. Por volta das 16 horas começaram a ligar de São Paulo, porque a administração do Cemitério de Vila Alpina queria encerrar o velório e proceder à cremação do corpo. Eu insisti para que esperassem, que já estávamos chegando. Em um estrada já vazia, andei em alta velocidade. Ao entrar em São Paulo, cidade onde vivi 16 anos, na qual morei em um casa junto com meu cunhado no bairro de Vila Mariana, contratei um motorista de táxi junto à entrada do Minhocão, na Praça da Consolação, para me guiar até o cemitério de Vila Alpina. Foi o suficiente para chegar até lá, ouvir uma oração rezação pelo rabino Henri Sobel, e fim. Marcão tinha partido. Não há dúvida de que a eternidade existe. Se a gente, quase todos os dias, está pensando em alguém que se foi há 14 anos, em pequenos detalhes de uma vida convivida, nas reportagens e matérias que ele escreveu, nos livros que ele lia e recomendava, uma infinidade de coisas, então é porque ele continua vivo, de uma maneira diferente. Neste 12 de fevereiro de 1999, estou me lembrando de cenas de 1969, quando ele aceitou um convite de Ari Carvalho, então dono da Zero Hora, licenciou-se do Jornal da Tarde por três meses e conduziu a tarefa de formar uma equipe para produzir a edição dominical do jornal, em formato standard, colorida, para combater o Correio do Povo que era rei dos domingos. Marcão decretou: não queria ninguém viciado no seu projeto, queria trabalhar somente com gente que nunca tinha feito jornal antes. E foi aí que ele me chamou. E me mandou fazer a primeira matéria, uma entrevista com Breno, ex-jogador de futebol, que tinha brilhado no filme "Orfeu do Carnaval", e morava em Novo Hamburgo. Precisei reescrever cinco vezes aquele texto, até que a matéria ficou pronta. Quando entrei na redação pela primeira vez, uma sala vazia no prédio recém inaugurado da Zero Hora, na Avenida Ipiranga, envidraçada, da qual se via a grande máquina impressora rotativa lá no subsolo, mobiliada apenas com uma mesa e cadeiras de rodinhas, com as quais fazíamos corridas, Marcão me entregou uma gramática portuguesa e me disse: "Tens uma semana para estudar tudo. Jornalista não pode escrever mal". E também me colocou nas mãos dois livros de crônicas de Ernest Hermingway para que eu lesse e estudasse o que é o jornalismo, o jornalista em ação. Eu já lia muito, desde os 11 anos, mas as lições do Marcão foram fundamentais. Anos mais tarde, ele me repassou um livro básico, que havia acabado de ler, de Jorge Semprun, "A biografia de Federico Sanchez". E na nossa jovem redação lá estavam também os refugiados Zé Rodrix e sua namorada, Hildegard Angel. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, tinha pedido a Ari de Carvalho que acolhesse a filha, porque o filho, Stuart Angel, tinha sido morto sob tortura na base aérea do Galeão, amarrado junto ao cano de escapamento de um jipe e arrastado pela pista de concreto. Marcão foi sempre assim, absolutamente despojado e totalmente generoso. Clique aqui e leia a excelente biografia de Marcão Faerman escrita pela jornalista Isabel Vieira

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