quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

PT fará festa comemorando os 10 anos de poder. Ou: Oposição precisa mais de Chacrinha do que de Maquiavel: “Quem não se comunica se trumbica”


Do jornalista Reinaldo Azevedo - O PT vai realizar um ato em São Paulo, no próximo dia 20, para comemorar os 10 anos do partido no poder. Os convites já começaram a ser distribuídos. Os petistas devem contar com pelo menos mil convidados, numa festa que contará com as presenças da presidente Dilma Rousseff e, claro!, de Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, o Apedeuta dará início a uma série de viagens Brasil afora para, como se diz por lá, “defender o seu legado”. Prestem atenção a esta fala de Paulo Frateschi, secretário de Organização do partido: “O objetivo é construir uma narrativa própria do PT, juntamente com seus militantes, sobre a chegada à Presidência da República”. Vamos ver. Exceção feita ao ano do mensalão (2005), que foi uma crise política gerada pelo banditismo, o partido enfrenta o seu momento mais difícil no poder. A economia brasileira cresce pouco e mal; o Ministério da Fazenda tem recorrido cada vez mais à contabilidade criativa para fechar as contas públicas; a inflação insiste em ficar fora da meta; a taxa de investimento está bem abaixo do desejável; está em curso — e constatá-lo não depende de ideologia, mas de reconhecimento dos números — um claro processo de desindustrialização; as interferências do governo na economia não têm surtido os efeitos esperados. Essa é a narrativa, vamos dizer assim, ditada pelos fatos. Mas, atenção!, partidos e organizações políticas podem e devem “construir uma narrativa própria”, como diz Frateschi, para disputar a atenção e, eventualmente, o coração das pessoas. Pois é… Não é que, nesse particular ao menos, Reinaldo Azevedo e Paulo Frateschi concordam? Explico-me. No dia 3 de setembro do ano passado, escrevi aqui um post em que criticava o alheamento das oposições em relação ao julgamento do mensalão. Leiam trecho:
O Supremo Tribunal Federal está dizendo com todas as letras o que foi aquele imbróglio a que se chamou “mensalão” — e o nome poderia ser qualquer outro; isso é irrelevante. Ainda que todos os réus, doravante, fossem considerados inocentes — o que é improvável —, o mensalão (ou “roubalheira”, se alguns preferirem) já está comprovado de maneira acachapante. ESSA É A REALIDADE JURÍDICA, do mundo das leis. MAS É PRECISO QUE O EPISÓDIO SE TORNE TAMBÉM UMA REALIDADE POLÍTICA. Para tanto, alguém precisa se apossar dessa narrativa. OU POR OUTRA: FORÇAS POLÍTICAS TÊM DE FAZER DA VERDADE DOS AUTOS, DA VERDADE DOS FATOS, UMA VERDADE ATIVA, COM FACE POLÍTICA. Mas quê… Ninguém se oferece!
Ora, se inexistem forças políticas relevantes que deem o devido tratamento à verdade que vai se tornando clara no tribunal, há o risco, por incrível que pareça, de a farsa petista deitar sua sombra sobre os fatos.
Voltei
Como se vê, eu e o dirigente petista empregamos até o mesmo vocabulário, embora com entendimentos certamente opostos do que foi o mensalão. Frateschi quer que o PT permaneça no poder eternidade afora; eu acho bom para a democracia que o partido seja derrotado já em 2014. O fato é que os petistas se organizam para, então, contar a sua versão da história, o que, no ambiente democrático, é legítimo. A DISPUTA POLÍTICA, NO FIM DAS CONTAS, É MESMO UMA DISPUTA ENTRE NARRATIVAS. É nesse sentido mais profundo que as oposições, na esfera federal, não têm feito política, entenderam? Os petistas se tornaram, por incrível que pareça, os autores da própria história, mas também da história alheia. Não duvidem: nesse encontro do dia 20, que vai acontecer num hotel em São Paulo, não se falará do mensalão a não ser para negá-lo — e ainda de  modo oblíquo. Os mensaleiros estarão lá, recebidos como heróis, e as forças da “reação” e da “direita” serão, uma vez mais, esconjuradas. A militância será conclamada a reagir àqueles que supostamente pretendem destruir o partido e coisa e tal, enquanto as “grandes conquistas” dos dez anos de governo serão exaltadas. Assim se faz política. E é bom deixar claro: o PT não está no poder por causa da vocação para a delinquência de alguns de seus líderes. Isso é bobagem. A rigor, a sem-vergonhice seria desnecessária para tanto. Ocorre que eles não conseguem se livrar de certos atavismos. O partido chegou ao topo e lá se mantém porque, no que concerne à disputa (não é uma avaliação de conteúdo), faz a coisa certa — tanto quanto as oposições insistem nas erradas. Na sexta que antecedeu o Carnaval, escrevi aqui sobre a atuação das oposições em Brasília. Elas tinham antecipado o feriadão, e não havia sobrado vivalma em Brasília que pudesse ao menos puxar a orelha do governo pela disparada da inflação em janeiro. Convenham. Os que se opõem ao PT podem até se dispensar de ler Maquiavel. Mas não podem ignorar o Chacrinha: “Quem não se comunica se trumbica”.

Nenhum comentário: