sexta-feira, 15 de março de 2013

Crescimento do IDH no Brasil reduz ritmo, mostra Pnud


O economista Edmar Bacha, um dos criadores do Plano Real, lançou o termo Belíndia para definir a condição heterodoxa do Brasil nos anos 1970: a riqueza da Bélgica misturada à condição social da Índia. Passadas mais de quatro décadas, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, divulgado nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), trouxe novamente essa alegoria à cena. Durante a década de 2000, a média de crescimento anual do IDH brasileiro era de 0,82%. Ao estender essa curva para o intervalo de 2000 a 2012, o ritmo de crescimento anual desacelerou para 0,73%. Trata-se de uma redução no ritmo de expansão semelhante à que ocorre nos países com os melhores indicadores socioeconômicos, como a Noruega, líder do ranking, ou a própria Bélgica. O fato curioso é que o Brasil está bem longe de gozar do mesmo patamar de qualidade de vida que tais nações. Prova disso é que o País se aferra à desconcertante 85ª colocação no ranking, marca semelhante à verificada no levantamento de 2011. No estudo composto por 187 países, o IDH do Brasil ficou em 0,730 em 2012, está no meio do caminho entre a Bélgica, na 16ª colocação, com IDH de 0,897, e a Índia, na 136º posição, com IDH de 0,554. O indicador varia de 0 a 1 e a qualidade de vida é maior quanto mais alto o número dessa escala. No ano passado, o Brasil aparecia na 84ª colocação, mas a ONU revisou os dados, o que fez o País perder uma posição no relatório referente a 2011. A metodologia do Pnud tem sido revista anualmente desde 2010, o que tem modificado os resultados anteriores, e tornado difícil fazer comparações anuais. Há dois anos, o Brasil aparecia classificado como na 73ª posição, mas a revisão reclassificou o País no 85º lugar. A explicação é a busca de dados mais confiáveis que permitam um maior nível de detalhamento da economia, da educação, da saúde, do meio-ambiente, entre outros dados comparativos. No ano passado, Portugal foi o país que mais perdeu posições em 12 meses, caiu da 40ª para a 43ª posição. O maior crescimento foi da Líbia, que pulou 23 posições para a 64ª colocação, à frente do Brasil. A explicação do Pnud é a atualização do Fundo Monetário Internacional (FMI) da estimativa de crescimento da economia líbia nos últimos dois anos. O ranking dos 10 primeiros não sofreu alteração, com Noruega, Austrália e Estados Unidos nas três principais colocações. Neste ano, o Pnud trouxe dois indicadores experimentais para mostrar o desenvolvimento dos países de forma mais ampla. O primeiro observa a disparidade entre os gêneros. O Brasil aparece também na 85ª posição, com 0,447 entre as condições de igualdade para homens e mulheres. Nesse caso, quanto mais próximo de zero, menores são as diferenças entre os sexos. A Holanda é a primeira colocada, com  0,045, seguida pela Suécia, com 0,055. Por falta de dados, alguns países não têm índice nenhum. O segundo indicador tenta capturar as privações da população com saúde, educação e padrão de vida. Um dos dados mais importantes é o da população que vive abaixo da linha da pobreza, medida com a renda diária de 1,25 dólar de paridade do poder de compra (PPP, um indicador que mostra quanto uma mesma quantia pode comprar em cada país). Uma das prioridades globais é a erradicação da pobreza e da  fome, ponto que leva destaque nas metas estabelecidas pela ONU em 1990, que apontam oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Reduzir pela metade a proporção de pessoas vivendo com menos do que esse valor até 2015 era um dos objetivos. No ano passado, com  três anos de antecedência, ele foi cumprido. As Nações Unidas creditam o sucesso a Brasil, China e Índia, os países mais populosos. Brasileiros e chineses reduziram de 17,2% para 6,1% e de 60,2% para 13,1%, respectivamente, o nível de pobreza nos últimos sete anos. O Brasil está, ao lado de Índia e China, entre os países que vão liderar o desenvolvimento humano nos próximos anos. A situação brasileira, especificamente, foi elogiada pelas Nações Unidas pelos cuidados com a economia nos últimos 20 anos, sobretudo o controle da inflação e a liberalização do comércio. A educação também foi citada, devido aos financiamentos educacionais que beneficiaram jovens de diferentes regiões do país. O programa Bolsa Escola serviu de exemplo para outros países da América Latina, como o México. E as políticas públicas de saúde ajudaram a melhorar o acesso da população mais carente aos tratamentos médicos. Mas, mesmo com todos os avanços e elogios da ONU, o país ainda está numa posição intermediária e bem distante de conquistar um alto nível de qualidade de vida. A continuar nesse ritmo, o País será alcançado, e ultrapassado rapidamente por seus correlatos, Índia e China.

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