domingo, 3 de março de 2013

Eduardo Campos e a quadratura do círculo. Ou: Acordo feito com Lula sempre teve um preço. E ele sempre cobrou, como o “Coisa Ruim”


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Eu já disse que vejo bom bons olhos a eventual candidatura de Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, à Presidência da República. Não porque tenha simpatia por seu pensamento ou seja admirador de sua obra política. Não poderia ser mais transparente nos meus motivos: considero que o racha do condomínio liderado pelo PT é fator que concorre, embora não determine, para a eventual derrota do partido, embora isso seja difícil, reconheço. Resta evidente que a multiplicação de candidaturas dificulta a vitória de Dilma no primeiro turno. Tanto melhor, dada essa lógica, se um dos postulantes tem potencial para arrancar votos do mesmo campo ideológico do petismo. Assim, torço para Campos ser candidato. Aí aquela corja financiada por estatais se assanha: “Tá vendo como a candidatura de Campos interessa à direita? O Reinaldo Azevedo confessa!” Pois é… Antes fosse! Só se, agora, eu virei “a” direita brasileira, né ? O que, na esfera econômica, poderia ser “a direita” está comprada pelo governo. Setores que já foram identificados com a direita política estão na base petista. Os “direitistas” brasileiros gostam mesmo é de mamar nas tetas do BNDES ou foram cevados pelos muitos anos em que Lula lhes pagou o “Bolsa Juro”, que é Bolsa Família dos bilionários. Não existe direita digna desse nome no Brasil. Este País não consegue dar à luz liberais autênticos. Há até “inteliquituais” que sustentam que liberalismo não é coisa para País pobre, como se o Estado estivesse na raiz da riqueza dos países desenvolvidos…  Os que chegaram a sonhar com essa condição não resistiram a uma saleta no Palácio do Planalto ou a dois ou três telefonemas dos Supremos Mandatários. Logo caíram de joelhos. Lembro-me de Odorico Paraguaçu, personagem de Dias Gomes de “O Bem Amado”, que exigia que Dirceu Borboleta o ajudasse a colocar o paletó a cada vez que o governador telefonava… A candidatura de Campos, embora eu não aposte muito que vá se viabilizar, interessa é à democracia. Ocorre que… Ocorre que não dá para fazer de conta que não existe, de fato, uma contradição insanável na sua ambição, que Luiz Inácio Apedeuta (mas nunca burro!) da Silva sabe explorar com absoluta precisão. Campos é do campo — inevitável o trocadilho! — governista, ora essa! Mais do que isso! Ele é governo também, embora possa estar eventualmente insatisfeito com a fatia que lhe cabe no latifúndio. Se pretende concorrer com Dilma Rousseff, está a dizer que algo não vai bem no governo, que erros estão sendo cometidos. O que não vai bem? Quais erros? Ele pretende nos contar isso só em 2014? Certo! Ele acha que é hora de transformar o País “num canteiro de obras”, que é preciso “unir” em vez de dividir, que ainda não é hora de tratar de eleições. Tá! Posso até concordar em parte, especialmente com a condenável antecipação do calendário eleitoral. Mas como é que Campos passou a ser considerado um postulante à Presidência? Não sejamos ingênuos, não é? O governador tem hoje uma assessoria que consegue pautar a imprensa. Ele, mais do que outros, antecipou o tal calendário… Em Fortaleza, o Apedeuta afirmou que não vai barrar a candidatura de ninguém e coisa e tal, mas que seria conveniente que o PT e PSB seguissem unidos, sem rompimento… Ora, em algum momento, Campos terá de dizer: “Não posso mais seguir com o PT!” Se Lula percebeu que ele poderia, eventualmente, fazer isso só em 2014, resolveu jogar: “Então é já! Decida-se!”. Há, é inescapável, uma quadratura do círculo na pretensão de Campos, embora, reitero, eu a veja com simpatia, digamos assim, estrutural. Caso não rompa já com o governo, ele só tem um alternativa para se apresentar ao eleitorado: “Eu sou o melhor nome para levar adiante o projeto de poder que aí está.” Alguém dirá: “Mas quem lhe disse que é o mesmo, Reinaldo?” Não é? Então qual é? “Ah, isso será dito mais pra frente…” Sei. Enquanto isso, o PSB segue com o PT? Não faz sentido! Eu até gostaria que isso rendesse, sabem? Mas vejo uma impossibilidade também conceitual, teórica. Uma das grandes dificuldades das oposições no confronto com o PT tem sido criar valores alternativos. Ao contrário: não só não criam como acabam, muitas vezes, referendando os dos adversários. Campos, por óbvio, padece dessa mesma falha, com a dificuldade adicional de estar no governo. Fico cá a imaginá-lo num eventual debate mais azedo com o petismo, a dizer que o governo pecou nisso e naquilo. Alguém, e tenderá a ser o eleitor, vai lhe fazer a pergunta óbvia: “E por que o senhor estava lá?” Jornalistas conversam com muita gente. Conheço bons interlocutores de Campos. Dizem que, até onde percebem, a sua candidatura é para valer. Ele realmente não estaria disposto a abrir mão da disputa. Não teria disposição para ocupar uma vaga no Senado (eleger-se-ia com os pés nas costas), à espera de 2018,  porque considera que a Casa é um cemitério de candidaturas. Fala em possibilidade de vitória, mas ninguém acredita que ele acredite nisso. Acham mesmo que ele avalia que 2014 é o ano de se tornar uma figura de alcance nacional, de olho na disputa seguinte, quando não estarão no páreo nem Lula nem Dilma. Seja como for, Campos precisa dizer um pouco mais do que vem dizendo. Ciro Gomes já sonhou com a possibilidade de ser o candidato do bloco liderado pelo PT. Percebeu que a tarefa era impossível. Aliás, em 2010, Lula recorreu a Campos para esmagar as pretensões de Ciro. Em 2012, recorre a Ciro para esmagar as pretensões de Campos para 2014. Ora, meus queridos, nessas coisas, não há mágica. Recorrendo a uma metáfora já clássica, Lula é como o demônio, não é? Dá ao vivente certas coisas que ele anseia, mas também lhe cobra um preço. Não é fácil dar um truque no caramulhão, assim, sem mais nem menos. Reitero: eu até posso torcer por isso, mas não consigo fazer de conta que estamos diante de um processo endossado pela lógica dos fatos. Não estamos. É claro que é uma estupidez Lula antecipar o calendário eleitoral (também para que o governo e seu partido se livrem da avalanche de más notícias). Mas o Babalorixá de Banânia está apenas sendo lógico quando, com outras palavras, pergunta a Campos de que lado ele esta. “Ah, estou do lado do Brasil…” Não dá! Isso é apenas retórica. Não posso fazer nada, leitores! O meu realismo me obriga a escrever, às vezes, contra as minhas próprias esperanças. É claro que eu poderia encerrar convidando Campos a abandonar a barca petista. Mas tenho senso de ridículo.

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