terça-feira, 2 de abril de 2013

Aguardo que entusiastas da elevação de juros expliquem por que a elevação de 0,25 ponto na Selic baixaria a inflação. Tenham ousadia teórica, senhores!


Do jornalista Reinaldo Azevedo - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, participou de uma audiência pública no Senado e demonstrou grande preocupação com a inflação. Deu a entender — e não falava aos senadores, mas ao “merrrcado” — que o Banco Central vai elevar a taxa de juros para combater a escalada de preços. Tentava corrigir, assim, a bobagem dita por Dilma Rousseff na reunião dos Brics na semana passada. Segundo a presidente — depois ela tentou culpar a imprensa por uma síntese supostamente errada de sua fala —, ela não prejudicaria o crescimento econômico em nome do combate à inflação. Como esses termos não são permutáveis, ninguém entendeu direito o que quis dizer a soberana. Restou apenas a impressão de… tolerância com a inflação. No Senado, Tombini tentou demonstrar o contrário. Hoje, já se dava como certo nos mercados (pronuncia-se “merrrcadoshshsh”) que, em maio, o Banco Central elevará a Selic em 0,25%, fixando a taxa em 7,5% ao ano. Quando um governo não sabe direito para onde vai e quando perde o pé da situação, a medida proposta pelos lobbies mais influentes se confunde com a melhor saída. No caso da inflação, os “merrrcadoshshsh” têm papel relevante. Como se diz por lá, o governo tem de saber regular as “expectativas” (pronuncia-se “eshshshshpectativas”). A produção industrial brasileira teve a maior queda de um mês para outro (fevereiro em relação a janeiro) desde dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacional: 2,5%. O número praticamente anula o avanço de 2,6% registrado em janeiro ante dezembro. Na comparação com fevereiro do ano passado, a queda é de 3,2%. Não sou economista, como é sabido. Não me apresento nem mesmo como um estudioso da área — dedico parte do meu tempo à leitura de teoria política, gostem ou não do que escrevo. Mas tenho certo apreço pela lógica. Se esta começa a ser estranha às escolhas feitas por políticos e também por economistas, então estamos com problema. Se alguém conseguir escrever um texto explicando por que um aumento de 0,25% na taxa de juros contribuirá para baixar a inflação renitente, sairemos todos ganhando: a) porque será, certamente, uma inovação na teoria econômica; b) porque demonstrará que a economia é infensa à lógica. Países que crescem acima de sua capacidade geram pressão inflacionária. É uma síntese brevíssima de uma operação complexa. Pergunto: é o caso do Brasil? A inflação foi se insinuando na economia ao longo do ano passado, e o País cresceu 1%, abaixo de países ricos que entraram em crise. Ah, não! Na minha ignorância específica, não estou afirmando que juros são irrelevantes para baixar a inflação. De jeito nenhum! Mas não é nunca será com 0,25%.  Dêem logo uma pancada de 3 ou 4 pontos, mandem o paciente para o UTI, e se vai conseguir baixar a temperatura. Ainda que os juros cheguem a 8,5% no fim do ano, como defendem alguns, não há a menor razão, tudo o mais constante, para a inflação recuar. E INSISTO QUE GOSTARIA DE LER UM TEXTO DEMONSTRANDO POR QUE ELA RECUARIA. A elevação da taxa só atende, reitero, ao lobby mais influente. Como o governo não tem resposta nenhuma e não pode passar a impressão de que é tolerante com a inflação, então escolhe a resposta mais fácil. Bom para quem negocia com títulos públicos. Só. “Pô, o Reinaldo se diz liberal, mas não gosta da receita clássica dos liberais.” Eu cansei é desse tipo de bobagem. A elevação de juros não é “receita de liberais”. É uma resposta adequada quando um país precisa desacelerar o crescimento, conter a febre de consumo, adequar a produção à real capacidade do país. Nada disso está em curso no Brasil. Ou está? Elevar juros, no atual quadro, não é resposta “de liberais”. É resposta dos espertos — ou dos “eshshshperrrtos” influentes. “Se a inflação recuar, quero ver o que você vai dizer". Se acontecer, continuarei a esperar um texto teórico explicando por que terá sido em razão da elevação dos juros. Alguma explicação certamente haverá, mas não essa. Fica aqui o desafio.

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