Preso e
hospitalizado na noite de sexta-feira, Dzhokhar Tsarnaev, americano de origem
chechena, deverá perder seu direito de manter-se calado e de ter advogado a seu
lado durante os interrogatórios. Sob a pressão de veteranos senadores, o
governo de Barack Obama resistia até este sábado a declará-lo como “combatente
inimigo”, tratamento usado especialmente para acusados de terrorismo depois dos
ataques de 11 de setembro de 2001 e banido em 2009. Dzhokhar Tsarnaev rendeu-se
ao final de 22 horas de perseguição policial pelas ruas de Cambridge e de
Watertown, cidades do subúrbio de Boston. Estava escondido em um barco
estacionado em um reboque no quintal de uma casa. Seu irmão Tamerlan, de 26
anos, havia morrido em violento confronto com a polícia na noite anterior. Em
circunstâncias normais, Dzhokhar ouviria as acusações de um juiz ainda no
sábado. Mas estava internado, recuperando-se de ferimentos graves. A
qualificação de Dzhokhar como “combatente inimigo” reacende uma controvérsia
nos Estados Unidos, que a aplicou na década passada aos suspeitos de
envolvimento com a organização terrorista Al-Qaeda. Se essa opção vier a
prevalecer, ele será submetido a uma corte militar, como acontece aos detidos
em Guantánamo. Embora Obama tenha identificado claramente Dzhokhar como
“terrorista” em seus pronunciamentos sobre a tragédia de Boston, setores da
Casa Branca resistem à aplicação do termo “combatente inimigo” e defendem que o
caso seja tratado como uma exceção de segurança pública. A razão dessa cautela
está no fato de Dzhokhar ser um cidadão americano, mesmo que há apenas sete
meses. Como caso de exceção de segurança pública, ele responderia a um tribunal
federal, em vez de submeter-se a uma corte estadual. “A minha jornada está
começando”, adiantou-se Carmen Ortiz, promotora federal em Boston. As
investigações em curso deverão indicar os rumos do processo judicial. Se for
comprovado que os irmãos Tsarnaev receberam apoio de organizações extremistas
do Exterior, será mais difícil para o governo Obama evitar que Dzhokhar seja
qualificado como “combatente inimigo”. O senador republicano John McCain,
candidato derrotado por Obama em 2008 e ex-prisioneiro de guerra no Vietnã,
insistiu que esse não é um caso comum e defendeu essa qualificação. Para seu
colega Lindsey Graham, também da oposição, a tragédia provou que o campo de
batalha do terrorismo não está exclusivamente no Exterior, mas também nos
Estados Unidos. “O país é um campo de batalha porque os terroristas pensam
assim”, disse Graham: “A última coisa que nós podemos fazer é ler para esse
suspeito os seus direitos de permanecer calado. Espero que o governo pelo menos
considere manter o suspeito como combatente inimigo para propósitos de
inteligência". O FBI prosseguiu neste sábado com as investigações sobre o
atentado, especialmente sobre as possíveis conexões domésticas ou com
organizações terroristas dos irmãos Tsarnaev. Na casa deles, em uma tranquila
vizinhança de estudantes e trabalhadores em Cambrige, a polícia encontrou
“significativa quantidade” de explosivos caseiros. Alguns desses artefatos
haviam sido atirados por eles contra a polícia durante a perseguição.
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