Com
o câncer de Hugo Chávez transformado em ativo eleitoral, seu partido venceu as
eleições, no ano passado, em 20 dos 23 departamentos — ou Estados. E muitos
previram vida eterna para o regime. Erro. Nem para Chávez nem para o chavismo. Fui
ver o resultado das eleições deste domingo nos 23 Estados mais o Distrito
Capital — 24 ao todo. Há alguns dados interessantes, que indicam que o chavismo
não sobreviverá a Chávez. Vamos ver.
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Nicolás Maduro venceu em 16 departamentos, incluindo o Distrito Capital;
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Henrique Capriles ganhou em apenas 8;
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embora tenha vencido no dobro de departamentos, o candidato bolivariano
conseguiu, no país, 1,58 ponto de diferença em relação a seu adversário;
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isso indica o óbvio: Capriles venceu nos Estados mais populosos, e Maduro, nos
menos;
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há apenas nove estados com mais de um milhão de habitantes na Venezuela;
destes, Capriles venceu em seis: Zulia, Táchira, Lara, Miranda, Anzoátegui e
Bolivar. Só perdeu no Distrito Capital, Aragua e Carabobo.
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A Venezuela tem perto de 30 milhões de habitantes; pelo menos 5,3 milhões estão
no chamado Distrito Capital, que inclui a capital propriamente, Caracas (três
milhões).
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Muito bem: nessa massa eleitoral, a diferença em favor de Maduro foi superior à
média nacional: 51,32% a 48,19% — 3,13 pontos. Está longe de ser uma distância
convincente;
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Se a oposição diminuir a diferença no Distrito Capital, chegar mais perto em
Aragua (54,05% a 45,6%), com 1,7 milhão de habitantes, e virar o jogo, ainda
que por margem estreita, em Carabobo (50,04% a 49,36%), com 2,3 milhões de
habitantes, o chavismo já era;
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os programas assistencialistas do governo são mais agressivos na Grande
Caracas, que também concentra as milícias bolivarianas armadas. Mesmo assim, a
diferença em favor do chavismo é pequena;
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o melhor resultado de Maduro se deu em Portuguesa (65,19% a 34,51%), com 873
mil habitantes;
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o melhor resultado de Capriles está em Táchira (62,95% a 36,91%), com 1,18
milhão de habitantes.
Os
dados apontam para uma hipótese: ainda que os números estejam certos e que não
tenha havido roubo em sentido clássico (as eleições já são fraudadas em sua
própria natureza), o chavismo, já moribundo, vai se sustentar por algum tempo
nos grotões mentais do país — incluindo os de miséria e ignorância, controlados
por milícias, na Grande Caracas. Mas dificilmente resistirá, para glória do bom
senso. Mesmo com toda a máquina de propaganda, mesmo com as oposições reduzidas
ao silêncio, em apenas 3 dos 16 estados em que Maduro venceu, a oposição ficou
abaixo dos 40%; em seis deles, ficou acima dos 45%. A oposição venceu em seis
dos nove estados com mais de um milhão de habitantes; neste grupo, é fato,
Maduro obteve pouco mais de 47% dos votos em cinco. Mas jamais se pode perder
de vista a questão essencial, de base: estamos falando de um povo que tenta
vencer uma ditadura pela via eleitoral; estamos falando de um governo que cassa
o direito à livre expressão do que, certamente, a esta altura, já é a maioria
do país. Insisto: houvesse igualdade na disputa, o que vai aqui seria, se não
descabido, um tanto duvidoso. Mas não há. Os que votaram em Capriles, dado o
contexto, escolheram a resistência.De resto, Maduro não é Chávez, e o estoque
de feitiçarias populistas do governo chegou ao fim. Por Reinaldo Azevedo
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