Após
intervalo de uma hora para o almoço, o julgamento do Massacre do Carandiru foi
retomado por volta das 15 horas desta segunda-feira. Pela acusação, o
ex-detento Marco Antônio de Moura foi o primeiro a falar. Pelo menos mais duas
pessoas convocadas pela promotoria deveriam ser ouvidas nesta segunda-feira,
entre elas, Luiz Alexandre Freitas, detento à época do massacre, e o perito
Osvaldo Negrini, autor do principal laudo sobre a morte dos presos. A primeira
testemunha a depor foi Antônio Carlos Dias, ex-presidiário sobrevivente do episódio.
Ele relatou as circunstâncias em que os policiais militares invadiram o
presídio e como abordaram os presos. "Se olhasse na cara do policial, eles
atiravam. Eu presenciei isso. Não lembro do rosto de nenhum porque sai da cela
olhando para o chão", declarou. Ele apontou também que alguns presos foram
mortos mesmo após o retorno às celas. “Quando retornamos (depois de recolhidos
no pátio) havia muitos policiais nos andares. Os presos foram recrutados para
carregar os corpos. Vi uma dessas pessoas ser morta", relatou ao ser
perguntado pelo juiz José Augusto Nardy Marzagão, que preside o júri no Fórum
Barra da Funda. Fernando Pereira da Silva é o promotor responsável pelo caso. Pela
defesa, somente uma testemunha havia comparecido até o intervalo. Lélces André
Pires de Moraes, que trabalhava no presídio na época, foi indicado pela
advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende os policiais. Também foi convocado
o governador da época, Luiz Antônio Fleury Filho, e o então secretário de
Segurança Pública, Pedro Franco de Campos. Três desembargadores que eram juízes
criminais quando ocorreu o massacre também foram chamados. Nesta fase serão
julgados os policiais que atuaram no segundo pavimento do Carandiru. Eles
respondem por 15 acusações de homicídio qualificado. A previsão é que o júri
dure até dez dias. Serão julgados: Ronaldo Ribeiro dos Santos, Aércio Dornelas
Santos, Wlandekis Antonio Candido Silva, Roberto Alberto da Silva, Antonio Luiz
Aparecido Marangoni, Joel Cantilio Dias, Pedro Paulo de Oliveira Marques,
Gervásio Pereira dos Santos Filho, Marcos Antonio de Medeiros, Paulo Estevão de
Melo, Haroldo Wilson de Mello, Roberto Yoshio Yoshikado, Fernando Trindade,
Salvador Sarnelli, Elder Tarabori, Antonio Mauro Scarpa, Marcelo José de Lira,
Roberto do Carmo Filho, Zaqueu Teixeira, Osvaldo Papa, Sidnei Serafim dos
Anjos, Eduardo Espósito, Maurício Marchese Rodrigues, Marcos Ricardo Poloniato,
Argemiro Cândido e Reinaldo Henrique de Oliveira. O maior massacre ocorrido no
sistema carcerário brasileiro ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111
detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante a invasão policial para
reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do Presídio do Carandiru.
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