É… VEJA teve acesso às 120 páginas do
relatório final elaborado por técnicos do Planalto sobre a atuação de Rosemary
Noronha, a amiga íntima que Luiz Inácio Lula da Silva mantinha no escritório da
Presidência da República de São Paulo. Ela está inquieta e ameaça explodir.
Acha que foi abandonada pelos antigos amigos. Para se defender no processo
administrativo, Rosemary fez um rol de testemunhas de defesa que, tudo indica,
já embute uma espécie de ameaça: Gilberto Carvalho, secretário-geral da
Presidência e ex-chefe de gabinete de Lula, e Erenice Guerra, ex-ministra da
Casa Civil e ex-braço direito da presidente Dilma, encabeçam a lista. Completam
o rol Beto Vasconcelos, atual número 2 da Casa Civil, e Ricardo Oliveira,
ex-vice-presidente do Banco do Brasil e um assíduo visitante do gabinete que
ela chefiava na avenida Paulista. São apenas os primeiros nomes, segundo a
estratégia montada pela ex-secretária. Rosemary parece dizer algo assim: “Esses
aí sabem o que eu fazia…”. Leiam trechos da reportagem de Robson Bonin.
*
(…) O resultado da investigação é um
manual de como proceder para fraudar e trapacear no comando de um cargo público
quando seu ocupante priva da intimidade do presidente da República. Sob o
comando da Casa Civil da Presidência, os técnicos rastrearam anormalidades na
evolução patrimonial de Rosemary Noronha e recomendaram que ela seja
investigada por suspeita de enriquecimento ilícito. Um processo administrativo
já foi aberto na Controladoria Geral da União.
(…) A sindicância destoa da tradição
dos governos petistas de amenizar os pecados de companheiros pilhados em
falcatruas. Dedicado exclusivamente aos feitos da poderosa chefe de gabinete, o
calhamaço de 120 páginas produzido pela sindicância é severo com a
ex-secretária. Mostra que Rosemary encontrou diferentes formas de desvirtuar as
funções do cargo. Ela pedia favores ao “PR ” — como costumava se referir a Lula
em suas mensagens — com frequência. Era grosseira e arrogante com seus
subalternos. Ao mesmo tempo, servia com presteza aos poderosos, sempre interessada
em obter vantagens pessoais — um fim de semana em um resort ou um cruzeiro de
navio, por exemplo. Rosemary adorava mordomias. Usava o carro oficial para ir
ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos. O
motorista era seu contínuo de luxo. Rodava São Paulo a bordo do sedã
presidencial entregando cartas e pacotes, fazendo depósitos bancários e
realizando compras. Como uma rainha impiedosa, ela espezinhava seus
subordinados.
(…) Como chefe de estado - Mensagens
inéditas reunidas no relatório da investigação mostram que a ex-secretária foi
recebida com honras de chefe de estado na embaixada brasileira em Roma. Todas
as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. Rose temia ter problemas
com a imigração no desembarque em Roma. O embaixador José Viegas enviou-lhe uma
carta oficial que poderia ser apresentada em caso de algum imprevisto. Rose não
conhecia a Itália. O embaixador colocou o motorista oficial à sua disposição.
Rose não tinha hotel. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo
Pamphili — e ela não ocuparia um quarto qualquer. Na mensagem, o embaixador
brasileiro saudou a ida de Rose com um benvenuti!, em seguida desejou-lhe buon
viaggio e avisou que ela ficaria hospedada com o marido no “quarto vermelho”.
Quarto vermelho?! Como o Itamaraty desconhece esse tipo de denominação,
acredita-se que “quarto vermelho” fosse um código para identificar os aposentos
relacionados ao chefe — assim como normalmente se diz “telefone vermelho”,
“botão vermelho”, “sala vermelha”…
(…) Pode explodir - Rosemary Noronha
está magoada e ameaça um revide em grande estilo. Sentindo-se desamparada pelos
velhos companheiros que deixaram correr solta a investigação que pode levá-la
mais uma vez às barras da Justiça, agora por enriquecimento ilícito, a ex-chefe
do gabinete presidencial em São Paulo ameaça contar seus segredos e implicar
gente graúda do partido e do governo. Se não for apenas mais um jogo de
chantagem típico dos escândalos do universo petista, Rose poderá enfim dar uma
grande contribuição ao país. Pelo menos até aqui, a ameaça da amiga dileta de
Lula faz-se acompanhar de lances concretos — tão concretos que têm preocupado
enormemente a cúpula partidária.
O
mais emblemático deles é a troca da banca responsável por sua defesa. Rose, que
vinha sendo defendida por advogados ligados ao PT, acaba de contratar um
escritório que durante anos prestou serviços a tucanos. O Medina Osório
Advogados, banca com sede em Porto Alegre e filial no Rio de Janeiro, trabalhou
para o PSDB nacional e foi responsável pela defesa de tucanos em vários
processos, como os enfrentados pela ex-governadora gaúcha Yeda Crusius. Os
novos advogados foram contratados para defendê-la no processo administrativo em
que ela é acusada de usar e abusar da estrutura da Presidência da República em
benefício próprio — justamente o motivo da mágoa que Rose guarda de seus
antigos amigos (…). Por Reinaldo Azevedo
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