quinta-feira, 9 de maio de 2013

Depois da entrevista de Zachia, agora RBS entrevista Mattos'Alem, um dos presos da Operação Concutare


Servidor da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) suspeito de integrar esquema de venda de licenças ambientais fraudadas, Mattos'Alem Roxo negou na tarde desta quarta-feira qualquer participação em irregularidades. Ele ocupava um cargo na diretoria técnica da fundação quando foi preso pela Polícia Federal no dia 29 de abril, na Operação Concutare. O servidor foi solto em 3 de maio. Mattos'Alem Roxo concedeu entrevista ao jornalista Daniel Scola no programa Gaúcha Repórter, da Rádio Gaúcha. Ele afirmou que, na diretoria técnica, não tinha envolvimento com a concessão de licenças ambientais e que sua principal função era servir como um canal de contato entre a Fepam e os empresários interessados na liberação de licenças para empreendimentos. A seguir, leia a entrevista.
Rádio Gaúcha — A PF aponta o senhor como integrante de um esquema de liberação de licenças ambientais. Qual sua posição?
Mattos'Alem Roxo — Tem uma confusão em relação a isso. Tenho um cargo na diretoria técnica para fazer o atendimento, fora do licenciamento ambiental. Não trabalho diretamente com emissão de licenciamentos. Trabalho no atendimento ao público e no esclarecimento aos empreendimentos que estão com problema.
Rádio Gaúcha — Qual era sua função?
Mattos'Alem — Estávamos ali para tentar resolver problemas de vários processos que ficam truncados dentro do sistema da Fepam. São processos mais antigos, que têm algum problema para resolver. Estávamos na diretoria técnica para resolver problemas técnicos. Na minha função de servidor público, é meu dever esclarecer todos os problemas para que o empreendedor consiga dar andamento ao empreendimento e ao licenciamento ambiental encaminhado ao setor competente dentro da Fepam.
Rádio Gaúcha — A PF diz que o senhor era participante de um esquema e conseguiu o aval da Justiça para a prisão temporária do senhor. O que tem a dizer sobre isso?
Mattos'Alem — Expliquei tudo para a PF. Houve explicação para todos os questionamentos do delegado. Houve uma confusão em relação a minha atuação e estou plenamente confiante de que a situação será esclarecida. Não vendi licenças e não fazia licenças ambientais. Apenas orientava os empreendedores para que eles tivessem melhor celeridade para dar andamento ao seu procedimento. Era essa minha função na diretoria técnica.
Rádio Gaúcha — Qual a relação do senhor com o Instituto Biosenso, do ex-secretário Berfran Rosado, que, segundo a PF, está no centro do esquema de corrupção?
Mattos'Alem — Não tenho relação nenhuma com o Instituto Biosenso. É apenas mais um empreendedor que nos procurou e que teve nossa ajuda, com a mesma presteza que dedicamos a todos os outros.
Rádio Gaúcha — Eles ofereceram propina para agilizar a liberação de licenças?
Mattos'Alem — Dentro da minha atribuição, nunca houve. Não tenho participação direta na liberação de licenças ambientais.
Rádio Gaúcha — Nem para ajudar na tramitação de um processo dentro da Fepam?
Mattos'Alem — Ele nem poderia me ofertar isso. O que a gente faz é o esclarecimento dos problemas e das dificuldades encontradas na tramitação e, depois, o encaminhamento do caso para o técnico competente, na divisão que está fazendo o licenciamento.
Rádio Gaúcha — Em algum momento, o senhor suspeitou da existência de um esquema de liberação de licenças, mesmo sem seu conhecimento?
Mattos'Alem — Não notei. Mas, por causa do sigilo que existe, vou me reservar de fazer comentários sobre isso. Há diligências sendo feitas, e pessoas serão ouvidas. Mas onde eu estava nunca percebi qualquer situação que me levasse a pensar desta forma.
Rádio Gaúcha — Nas investigações, veio à tona que o senhor teria atuado junto à ex-presidente da Fepam e ao ex-presidente da Fepam Carlos Niedersberg para agilizar a liberação de licenças. O senhor foi orientado pelo ex-presidente da Fepam para favorecer alguém?
Mattos'Alem — Muito poucas vezes conversei com o presidente. Na verdade, desde maio de 2011, quando pedi afastamento do meu cargo, estava completamente afastado da questão do licenciamento ambiental. Não tinha ingerência sobre isso e tampouco me reunia com a cúpula. Não tenho contato com políticos. Na verdade, eu estava na geladeira na Fepam.
Rádio Gaúcha — O senhor respondia a uma sindicância, aberta em 2011, para investigar suspeitas em licenças ambientais, em uma denúncia feita em Capão da Canoa. O senhor, na verdade, foi promovido depois disso, não?
Mattos'Alem — Não. Eu acho que não. Muito pelo contrário. Pedi a minha sindicância e meu afastamento em maio de 2011. Na época, no Litoral Norte, nós desenvolvemos um trabalho bastante interessante na aplicação de todos os preceitos e no desenvolvimento de gestão ambiental, no tratamento de esgoto e em várias outras questões, que vieram a melhorar a situação. Você pode notar hoje no Litoral Norte que há vários avanços na questão do saneamento ambiental, que é muito importante. Isso ocorre no tratamento de esgoto, por exemplo. Há também os planos de manejo de dunas. Quem me conhece, sabe dessas questões.
Rádio Gaúcha — Mas são questões que estão sendo investigadas pelo MP por irregularidades.
Mattos'Alem — Compete ao Ministério Público fazer esses esclarecimentos. Estamos à disposição do MP e vamos responder a todas as questões que forem necessárias. Ainda estou aguardando para ser ouvido pelo MP.
Rádio Gaúcha — Se o senhor não participou do esquema, quem estaria envolvido com isso?
Mattos'Alem — Não posso te afirmar. Houve uma confusão nesta questão. Tenho a convicção do que é ser um servidor público. Um servidor público tem de prestar um bom serviço para a comunidade. Não sei dizer o que está acontecendo em relação a isso. O que está acontecendo é uma confusão de valores. Como prestador de serviço público, tenho de prestar um bom serviço a todos que me procuram na Fepam, seja o Zé da Ilha, o prefeito ou a Polícia Federal. Todos foram atendidos com toda a minha colaboração e presteza.
Rádio Gaúcha — O que o senhor pretende fazer a partir de agora?
Mattos'Alem — Não sei o que vou fazer. Estou me colocando à disposição da PF. Acredito no trabalho que está sendo feito, e acho que essa questão será esclarecida. Se houver culpados, eles terão de pagar. Mas tenho certeza do papel que tive nesta questão. Tenho certeza que, se for voltar ao serviço público, vou prestar meu trabalho como sempre prestei, com dedicação.
Rádio Gaúcha — O senhor imaginava ficar preso no Presídio Central?
Mattos'Alem — Não imaginava. É uma experiência surreal. Eu estava com muito medo. Muito medo porque minha família ficou longe de mim. Além disso, estava indo para um local que tinha toda uma situação colocada pela sociedade. Mas houve surpresas. Fui muito bem tratado pelas pessoas lá dentro. Coisas que tu não imaginas. Eu pensava que não iria sobreviver ao primeiro dia, mas tive um ombro amigo, pessoas que me aconselharam, pessoas que fizeram com que eu conseguisse pensar mais na minha família e acreditar que tudo isso iria terminar.
Rádio Gaúcha — O senhor disse que foi maltratado lá dentro?
Mattos'Alem — Jamais. Fui muito bem tratado pelas pessoas. Não interessa o crime, lá todos se ajudam para enfrentar uma situação adversa, a falta de liberdade. É uma experiência surreal. Ninguém pode imaginar.
Rádio Gaúcha — A função do senhor era atuar junto à diretoria técnica da Fepam?
Mattos'Alem — Exatamente.
Rádio Gaúcha — Antes o senhor trabalhava no Litoral, em uma situação específica. E logo após a sindicância e a investigação do MP, o senhor veio para uma função-chave, na diretoria técnica. O senhor não considera isso uma promoção?
Mattos'Alem — Não considero uma promoção. Me tiraram das ruas. Quero estar na rua resolvendo problemas, junto com a Polícia Federal, a Brigada Militar, o Ministério Público. Essa é minha função. Para mim, foi um castigo estar ali. Foi muito doloroso não poder fazer a parte prática e técnica. Sou geólogo, um técnico com uma experiência muito grande. Não sou um técnico de ficar sentado em escritório dando explicação sobre processos. Para mim, foi uma penalização. Eu estava sofrendo. Já houve possibilidades de eu pedir afastamento do meu cargo e fui persuadido. Até porque eu achava que ali na frente poderia haver a possibilidade de eu voltar ao trabalho prático e prestar meus serviços de geólogo.
Fica evidente que há um movimento orquestrado, comandado por especialistas em situação de crise e gestores de imagem, junto com advogados, para livrar a cara dos acusados nas investigações, e limpar a área ambiental. Como esses profissionais custam muito caro, quem está pagando esse trabalho de limpeza de imagens públicas?

Nenhum comentário: