quinta-feira, 9 de maio de 2013

Diplomatas brasileiros perseguiram exilados políticos


A ditadura militar utilizou os serviços diplomáticos do Brasil no Exterior para vigiar, perseguir e eliminar asilados e refugiados políticos brasileiros. Funcionários do Centro de Informações (CIEx) do Ministério das Relações Exteriores atuavam em conjunto com os adidos militares sediados nas embaixadas. Ajudavam a identificar e a esquadrinhar as atividades de brasileiros que haviam sido banidos ou deixado o País para escapar de perseguições políticas. Documentos divulgados nesta quinta-feira pelo procurador Claudio Fonteles, da Comissão Nacional da Verdade, confirmam essa participação dos diplomatas na caça aos refugiados, especialmente nos países vizinhos da América Latina. "O Estado Ditatorial militar subverte, por completo, a razão de ser dos relevantes serviços diplomáticos, transformando-os na longa manus da espionagem sobre os seus próprios nacionais, para aprisioná-los e eliminá-los", disse Fonteles. As conclusões de Fonteles estão baseadas sobretudo na documentação sobre o caso do desaparecido político Edmur Péricles Camargo. Ele foi preso em 17 de junho 1971 pelos órgãos da repressão argentina, durante uma viagem do Chile para o Uruguai. Em uma escala do vôo, em Buenos Aires, ele foi detido no aeroporto e entregue a agentes policiais brasileiros. No dia seguinte um avião Força Aérea Brasileira (FAB) pousou no aeroporto de Ezeiza com a missão de trazê-lo de volta para o Brasil. Nunca mais foi visto. Por meio de documentos obtidos nos arquivos do Exército, Fonteles observa: a prisão de Edmur Péricles Camargo é mais uma prova das ações da Operação Condor, que uniu órgãos de repressão política de países da região sul do continente para perseguir e eliminar dissidentes políticos; ela só foi possível com a participação de agentes do Itamaraty em Buenos Aires e Montevidéu. Os documentos contêm detalhes da operação. Revelam que foi apreendida com Edmur Péricles Camargo uma carta do almirante Cândido Aragão, militar dissidente do golpe militar, endereçada ao ex-presidente João Goulart, que se encontrava no Uruguai. Ele pedia ajuda para o refugiado, que estava doente e precisava de cuidados médicos. Edmur Péricles Camargo fazia parte do contingente de 70 brasileiros que foram trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado em 1970 por terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária, comandada por Carlos Lamarca. Edmur Péricles Camargo era um antigo militanrte comunista. Na década de 60 foi transferido pelo PCB para o Rio Grande do Sul. Na época ele confidenciou ao jornalista Marcos Faerman e sua noiva, estudante de engenharia, que dirigentes do PCB o tratavam como um escravo, obrigando-no a lustrar seus sapatos e de suas mulheres. Assim eram os comunistas.

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