quarta-feira, 21 de agosto de 2013

PATRIOTA MUDA RADICALMENTE DE TOM E DIZ QUE MAL-ESTAR COM REINO UNIDO ESTÁ SUPERADO. NÃO ME DIGA!

Ai, ai que gente engraçada, pitoresca mesmo, não é? Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, estava falando grosso até ontem. A turma politicamente correta e os petralhas, no geral, babavam de satisfação. Voz quase isolada, ou isolada mesmo, afirmei aqui que o governo do Reino Unido havia apenas cumprido a lei ao reter o brasileiro David Miranda, marido do jornalista americano Glenn Greenwald, que se impôs a missão, parece, de destruir o império americano — ou algo assim… E justo na hora em que este começa a recuperar a sua força, não é mesmo? Mas Glenn não abre mão e sua vocação messiânica. Pois é… Da braveza de terça à lhaneza de quarta, não houve escala. O ministro das Relações Exteriores deu o episódio por superado, afirmou que está tudo certo, que nada afeta as boas relações entre os dois países e coisa e tal. Ah, bom! Achei que ou o governo britânico se desculpava ou o Brasil ameaçava sapatear sobre as próprias vestes. Patriota pode fazer “el saludo a la bandera” petista — afinal, também é um servidor da causa —, mas não é burro. O tom mudou radicalmente porque ele sabe que:

a: Edward Snowden roubou documentos secretos do governo americano;
b: David Miranda transportava em arquivos eletrônicos parte desses documentos roubados;
c: o brasileiro foi detido com base numa legislação que está em vigor naquele país;
d: foi oferecida a Miranda a devida assistência jurídica durante a sua retenção;
e: Greenwald é um jornalista americano que mora no Brasil e trabalha para o Guardian. Nem mesmo é correspondente daquele jornal neste país;
f: o Brasil está servindo como base de operação de uma causa;
g: enviar um brasileiro para transportar documentos roubados corresponde a, na prática, tentar meter o Brasil num imbróglio internacional. O fato de ele ser marido de Greenwald não muda nada;
h: levar as relações do Brasil com o Reino Unido a um estremecimento por conta de questões que não lhe dizem respeito é um despropósito;
i: “Como não dizem respeito? Consta que o Brasil também era espionado!” Essa é outra questão, distinta do roubo de documentos ou da traição de um técnico que trabalhava para a CIA.
Em suma: a política externa do Brasil não tem de se deixar pautar por agentes secretos que decidem desertar e por práticas jornalísticas heterodoxas que pretendem atribuir a ações criminosas um caráter heroico. Os vagabundos que me atacaram porque sustentei que não havia nada de excepcional nessa história deveriam agora voltar suas baterias contra Patriota. Aquele que agora diz que tudo está superado. Tudo o quê? Resposta: nada! Muito barulho por nada. Daí que Patriota dá tudo por superado sem nem receber um pedido de desculpas. Desculpas, diga-se, que seriam mesmo indevidas. Por Reinaldo Azevedo

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