segunda-feira, 16 de setembro de 2013

MANO CAETANO - SOCIALISMO DA VIERA SOUTO ENQUANTO "A TERRA FICA ESFAIMANDO"

Há pessoas com peninha de Caetano? Deixem de bobagem. Ele está por baixo e conta comigo e com Olavo de Carvalho para aparecer um pouco, atrair as plateias mais ou menos esquerdizadas, em particular a turma anti-Sérgio Cabral no Rio (que reúne todos os “vermelhos” do Leblon, de Copacabana e de Ipanema), e desfilar seu charme supostamente consciente em verso & prosa e alguma rima. O Brasil inventou, como já cravei há mais de 20 anos, o burguês do capital alheio, que é a vigarice sindical que se adona do estado para satisfazer corporações. E conta também com os socialistas dos bens alheios — um grupo muito influente entre “artistas’. A maioria não saberia distinguir Lênin ou Gramsci de uma taça de champanhe, financiada pela Lei Rouanet. É o socialismo da Vieira Souto, com vista para o mar, enquanto, como diria um poeta baiano — mas do século XVII —, “a terra fica esfaimando”. Não tenho paciência pra isso, não! Alguns leitores indagaram o que quis dizer num post de domingo quando afirmei isto:

“Ele [Caetano] é só um ‘velho baiano’. Eu sou só um maduro dois-correguense. Isso quer dizer que Caetano está por baixo, e eu, por cima. Bahia tropicalista é categoria de pensamento no Brasil. O interior de São Paulo que tem catiretê é categoria econômica. Ninguém liga. Só na hora de fazer as contas. Escrevo no celular. Cuido de Caetano à noite. O catiretê vela pela balança comercial. Caetano zela por metáforas que, durante um tempo, pensava-se, nos fariam mais inteligentes.”
Explico. Quem se define como “só um velho baiano” é ele próprio. Fiz uma ironia — um terreno sempre perigoso em nossas letras, mesmo as da crônica jornalística, eu sei. Mas não resisto. Só quis dizer que não recepciono, como diriam os ministros do STF, a autodepreciação fingida de quem, no fim das contas, quer mesmo é imunidade. Ao se dizer “só um velho baiano”, Caetano pede compreensão com a sua irresponsabilidade, com o seu miolo mole. Resolveu pôr a sua assinatura nos atos fascistoides dos black blocs e depois vem com esse muxoxo choramingas: “Poxa, mas eu sou só um velhinho inimputável…”. De resto, por que a referência à origem? Muito bem! Se ele pode se dizer um “baiano” ao explicar por que cobre a cara, eu posso me dizer um “paulista” ao explicar por que não cubro? “O que o cateretê (ou “catira”) tem a ver com isso? O mesmo que o tropicalismo tem a ver com as tolices de Caetano — nada! Citei a cultura caipira do interior de São Paulo porque as “cigarras” do Brasil costumam odiar o trabalho das formiguinhas, não é mesmo? Foi só uma homenagem ao Brasil que produz — em São Paulo e em qualquer parte — e tem de prestar satisfações a quem não produz porcaria nenhuma. Um país em que os que geram riqueza têm de se subordinar aos caprichos de quem gera sentenças de igualdade está condenado a ser mixuruca. “Famoso blog de direita”? O que sabe Caetano sobre direita e esquerda, justamente ele que diz “ler os dois lados” para, então, se situar no centro? Trata-se de uma tolice formidável. Até porque o Brasil — e o mundo —, definitivamente, não se esgota em “dois lados”. E não é raro que determinados eventos possam ter, hoje ou na Alemanha da década de 30, apenas um lado moralmente aceitável. Caetano está bravinho porque demonstrei que condescender com a violência — ou, na prática, estimulá-la, ainda que diga o contrário — se situa no campo das escolhas inaceitáveis, a menos que se opte pela tática do terror, que, entendo eu, está fora da política. Eu estou me lixando se ele me considera de direita ou não — já escrevi centenas de textos a respeito. Já demonstrei por que um dos desastres da política brasileira é não haver um partido conservador forte, que seja alternativa de poder, como há em todas as democracias dignas desse nome. Por aqui, todo mundo é de centro-esquerda: Lula, Paulo Maluf, Marina, Dilma, Aécio Neves… Se Gêngis Khan ressuscitasse e decidisse disputar uma vaguinha no establishment brasileiro, não teria dúvida em se dizer de centro-esquerda. O curioso é que a sociologia que essa gente diz adotar ou que serviria de substrato a suas elucubrações aponta justamente essa trapaça como fonte de muitos dos nossos desatinos — penso especialmente em “Raízes do Brasil” e “Os Donos do Poder”, de Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, respectivamente. Quando um filósofo ou um jornalista, fora do aparato do estado, participam do debate público cobrando clareza e distinção — e distinguindo, por sua vez, alhos de bugalhos —, então lá vem um aiatolá do “pensamento alternativo” (qual???) a usar a notoriedade conquistada com seus trinados para fazer o trabalho de demonização. O mais antigo e persistente trabalho ideológico e propagandístico da esquerda consistiu e consiste em transformar seus crimes em novos umbrais da humanidade. É assim desde a revolução bolchevique de 1917. Intelectuais os mais variados se tornaram meros justificadores do assassinato em massa, da brutalidade transformadora, da violência redentora: na URSS, na China, em Cuba, no Vietnã… Escolham aí. Com o fim do império soviético, as simpatias se voltaram para as lideranças islâmicas antiocidentais. Os nossos pensadores adoram odiar a liberdade que lhes garante o direito de pensar. Quando me dou conta da quantidade de absurdos que um Michel Foucault escreveu sobre a revolução iraniana, chego a ficar de estômago embrulhado. Gays, como ele próprio, eram enforcados em guindastes em praças públicas — e ele, não obstante, via palpitações verdadeiramente eróticas nos fanáticos de Khomeini. Esse Caetano que tenha mais cuidado ao lidar com as ideias — se pretende mesmo continuar nesse terreno. Paulo Francis está morto há 16 anos. Evocá-lo, hoje, como ele fez, deve ser visto como um pedido de desculpas? Francis vivo, o então “só um quase-jovem baiano” respondeu a uma crítica cultural chamando o outro de “bicha amarga” e “boneca travada” — e olhem que o jornalista, então, teceu elogios ao artista Caetano Veloso, criticando apenas, como chamou, seu ser totêmico. Enquanto Caetano não se desculpar, a sua imagem fantasiado de black bloc segue sendo uma aceitação tácita de uma tática e um convite a uma forma de ação. Num célebre e então muito bem colocado discurso num festival, em 1968, o cantor baiano reagiu à boçalidade da plateia, que o impedia de catar “É proibido proibir”. Disse que aquela gente não se distinguia em nada dos brucutus fascistoides que haviam invadido a peça “Roda Viva” e espancado os atores. E não eram se distinguiam mesmo. O que se fez daquele Caetano? “Isso foi em outro país, e aquele rapaz morreu”, para lembrar as palavras finais do artigo de Francis. Por Reinaldo Azevedo

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