segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MARINA SILVA E A RESPOSTA SIMPLES, CLARA, CERTA, MAS DE OUTRO MUNDO

O jornalista americano H.L. Mencken dizia que, para todo problema complexo, há sempre uma solução clara, simples e errada. A frase é muito boa, à altura do seu brilho. Mas talvez se possa dizer algo mais. E se, para alguns problemas complexos, existirem, por exemplo, soluções claras, simples, certas, porém inexequíveis? Pensem um pouquinho: essa segunda possibilidade consegue ser um tantinho mais pessimista do que aquela aventada por Mencken. “Mas uma resposta inexequível é uma resposta?” No terreno das hipóteses, é. Se, no entanto, inexistirem condições materiais de executá-la, então é nada. Marina Silva participou nesta segunda, por videoconferência, do “Exame Fórum 2013 – Como Aumentar a Nossa Produtividade” (veja programação), promovido pela revista Exame, editada pela Abril. Falou logo depois do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República. Segundo a ex-senadora, que tenta tornar viável o “não-partido” Rede, “fóruns como esse são possibilitadores de um debate, mas não apenas cada um fazendo diagnóstico e apresentando um amontoado de propostas. Dsso somos capazes todos. Estamos precisando de um novo acordo político, que não seja nas bases da situação pela situação e da oposição pela oposição.”

Como discordar de certas evidências? Há coisas que já não mais dividem; apenas unem. É fato que a Terra é redonda, por exemplo, e que gira em torno do Sol, não o contrário. Assim, é provável que Marina esteja certa ao dizer que um “novo acordo político” nos faria bem. Mas o que é um “novo acordo político”? Não tenho a menor ideia, ela não tem, ninguém tem. Apelando apenas à lógica elementar, sou tentado a achar que, se fosse fácil, já teria sido feito. Marina é uma eficiente criadora de palavras e categorias. A questão é saber a que servem. Afirmou: “Todo mundo se compromete com a reforma e depois a única reforma que faz é a do compromisso que tinha feito. É por isso que o sociólogo não foi capaz de fazer a reforma politica, o operário não foi capaz de fazer a trabalhista.” Tá. Se o “sociólogo” não fez uma coisa, e o “operário” não fez a outra, teria, então, chegado a hora da… da o quê? Que categoria Marina criou para si mesma? Se diz que nem “sociólogo” nem “operário” conseguiram fazer isso e aquilo, é evidente que está a sugerir que a respectiva condição de cada um criou embaraços. Mas quais? Marina sabe que alguma resposta precisa ser dada, e ela ensaia: “As promessas que são feitas poderiam ser cumpridas, mas, como se repetem a cada quatro anos, é bom ficarmos atentos para pensar em como fazer isso na forma de um acordo, em que cada um que esteja à frente do processo governamental tenha de seguir essa ações.” “Acordo”? Qual acordo? Estamos falando, de novo, daquela velha tese do “pacto social” — ou que nome tenha? A dificuldade dessa ideia reside no fato de que o objetivo a ser alcançado costuma ser condição para a sua realização, entenderam? Para que se chegue a uma solução que contemple as respectivas demandas das partes envolvidas, é preciso que as partes envolvidas concordem de antemão com a definição da agenda. E a coisa começa a girar em falso. Não espero que uma liderança política dê uma receita pronta de como arrumar o Brasil ou algo assim. Mas me parece que é preciso cobrar um pouco mais de precisão do diagnóstico. Não entendi o que Marina quis dizer. Também acho que o mundo fica melhor com pessoas de boa-vontade. Mas, com isso, dá para fundar uma boa, virtuosa e necessária igreja. Em política, quer dizer o quê? Por Reinaldo Azevedo

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