terça-feira, 22 de outubro de 2013

DILMA FEZ NESTA SEGUNDA-FEIRA O PRIMEIRO DISCURSO DA CAMPANHA ELEITORAL DE 2014

A presidente Dilma Rousseff usou a rede nacional de rádio e TV para fazer um pronunciamento sobre o leilão do campo de Libra. É evidente que é um despropósito. Qual era a matéria urgente que ela tinha a comunicar? Que tipo de serviço prestou que a imprensa já não tivesse prestado? Esclareceu o quê? Tratou-se de uma fala escancaradamente eleitoreira, em desacordo, de resto, com os fatos e com doses estupendas de sonho.

Os especialistas no Brasil e a própria imprensa internacional tiveram de reconhecer o que salta aos olhos: o leilão, com um único consórcio, não foi bem-sucedido. Algumas das gigantes simplesmente não se interessaram, e a partilha saiu pelo mínimo estabelecido: 41,65% do excedente ficam com a União. Já se falou muitas coisas das petroleiras gigantes, menos que não sabem ganhar dinheiro. Se Libra fosse mesmo essa oportunidade de ouro, é evidente que a concorrência teria sido acirrada. Não foi. Já se falou aqui e em toda parte dos motivos. Assim, prestemos um pouco de atenção ao discurso da presidente (íntegra aqui).
Dilma começou chamando o leilão por aquilo que ele não foi: “um sucesso”. Ah, bom: então agora a gente começa a entender a razão do pronunciamento. A presidente queria falar aquilo que a imprensa séria não diria mesmo. Leilão a que comparece um único consórcio, no qual a Petrobras é obrigada a aumentar a sua participação de 30% para 40% — ou nada feito! — não é, obviamente, bem-sucedido. A coisa foi toda atrapalhada. Os tucanos poderiam, por exemplo, apontar os erros. Em vez disso, já ouço vozes aqui e ali: “Estão vendo? Eles fizeram como nós… Eles também privatizam…”. Acabam, sem querer, vendo um sucesso onde houve um mico.
Dilma contou com muitos bilhões de ovos na barriga da galinha. Não! Dilma contou mais de um trilhão! No momento mais entusiasmado da sua fala, mandou brasa:
“Nos próximos 35 anos, Libra pagará os seguintes valores ao Estado brasileiro: primeiro, R$ 270 bilhões em royalties; segundo, R$ 736 bilhões a título de excedente em óleo sob o regime de partilha; terceiro, R$ 15 bilhões, pagos como bônus de assinatura do contrato. Isso alcança um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito: mais de R$ 1 trilhão.”
A presidente sabe exatamente quanto petróleo tem em Libra, conhece o ritmo da exploração — o resto do mundo não conta —, sabe qual será o valor do barril, sabe quanto será investido. O importante era ultrapassar o número mágico de R$ 1 trilhão. Multiplicados os pães, que é a parte mais difícil, distribuir é fácil: R$ 736 bilhões para saúde e educação e R$ 368 bilhões para o combate à pobreza etc. e tal. A conta aqui já chegou a R$ 1,104 trilhão.
Estamos em plena campanha eleitoral. No passado, os candidatos faziam propostas para os quatro ou cinco anos seguintes. Dilma chegou à metade do século praticamente — 2048. Lula se encarregará, na campanha, de fazer anúncios para a outra metade.
A presidente afirmou ainda: “Pelos resultados do leilão, 85% de toda a renda a ser produzida no Campo de Libra vão pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isso é bem diferente de privatização”. Não entendi a conta. O consórcio repassará 41,65% do excedente para a União; os outros 58,35% ficam com ele. Dessa sobra, a Petrobras tem direito a 40% (23,34%). União mais Petrobras terão 64,99%. Talvez dados novos que venham à luz expliquem como chegar aos 85%.
E a presidente encerrou, depois de anunciar o futuro glorioso: “Que Deus continue abençoando o Brasil!”.
O discurso de Dilma abriu a campanha eleitoral de 2014. Contra lei, é claro! Por Reinaldo Azevedo

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