sexta-feira, 8 de novembro de 2013

DESESPERADO COM QUEDA BRUTAL DE POPULARIDADE, HADDAD TENTA SUAS ESPERTEZAS. AGORA, INVESTE NO BINÔMIO CORRUPÇÃO-IPTU. SERÁ QUE VAI FUNCIONAR?

O populismo é uma porcaria porque, entre outros malefícios, usa boas causas com finalidades escusas; transforma o desejo de justiça e correção da maioria, que é moral, em sede justiceira. É o que está fazendo Fernando Haddad, prefeito de São Paulo — de forma que não parece ser exatamente prudente nem mesmo para a sua administração. Mas isso é lá com ele. Nunca dou conselho para políticos. Deixo essa tarefa para colunistas mais inteligentes do que eu.

A Prefeitura de São Paulo tem uma Controladoria-Geral do Município. Nas democracias, as controladorias, ainda que geralmente subordinadas ao Executivo, gozam de independência. Não fazem nem política nem terror. É justamente o contrário do que faz o prefeito. A operação de caça aos fiscais corruptos — em si, tudo indica, necessária — foi pensada sob medida para enfrentar a reação certamente negativa que sobreviria ao reajuste do IPTU. As democracias investigam ladroagem e punem ladrões. Os aparatos político-policialescos transformam essa ação em instrumento de perseguição a adversários.
Mais: um prefeito não sai dando “dicas” do que a Controladoria está investigando — até para não atrapalhar a apuração dos fatos. Como o órgão certamente não tem ainda a exata dimensão do esquema, evita-se antecipar o resultado para que não haja, entre outras coisas, sumiço de eventuais provas. Ocorre que Haddad está desesperado. O PT está pegando no seu pé. Ele está sendo chamado de atabalhoado e egoísta pelo partido; não estaria pensando na candidatura de Alexandre Padilha. Aí ele fez o quê?
Decidiu dobrar a dose do remédio para ver se acaba com os efeitos colaterais. Enfiou ainda mais o pé na jaca do populismo. Nesta sexta, anunciou que a Controladoria detectou que o esquema corrupto pode ter interferido também na arrecadação do IPTU e no cadastro da dívida ativa. A Folha registra a sua fala:“Há denúncias de mudança cadastral no IPTU para que as pessoas paguem menos. Neste há participação de parte do grupo preso. Há também indícios de fraude na dívida ativa, com mudança de registro de divida ativa para beneficiar devedores”. O moralizador foi além: “Tem muito trabalho para pouca gente, mas tem que ser feito. Vamos passar a limpo todo o trabalho na Prefeitura”.
O “homem novo” na Prefeitura de São Paulo tem, finalmente, um norte, uma direção: submeter administrações anteriores a uma razia político-administrativa. É o que lhe restou. Se Dilma se segurou com alta popularidade na condição de faxineira, por que não ele?
Ocorre que…
Ocorre que Haddad quer enfiar a faca nas costas — ou melhor: no bolso — de boa parte dos paulistanos, com um reajuste brutal do IPTU. A decisão está hoje na Justiça, dependente da cassação ou não de uma liminar, que tornou sem efeito a sessão da Câmara que aprovou o imposto e a sanção da lei, que, em si, já foi ilegal porque a primeira liminar estava em vigência.
Muito bem! Ao lançar, NESTE MOMENTO, dúvidas sobre a justeza na cobrança do IPTU (e noto que a Controladoria ainda não apresentou o resultado do seu trabalho); ao afirmar que existe um esquema para beneficiar pagadores; ao meter o imposto que hoje causa forte reação de indignação na cidade no meio da sujeirada dos fiscais, o que espera Haddad? Que os paulistanos se conformem com o aumento escorchante? Que digam assim: “Ah, agora estou feliz com esse carnê absurdo; afinal, Haddad, o Moralista, já limpou a Prefeitura de todos os ratos”.
Tipicamente petista
Esse mesmo Haddad que sai fazendo acusações ao léu defende com unhas e dentes o petista Antonio Donato, secretário de governo. Nesse caso, ele nem acha que precisa haver apuração. A ex-amante de um dos fiscais presos diz ao telefone, em tom de ameaça, que vai contar que Donato era beneficiário do esquema. Em depoimento ao Ministério Público, Paula Sayuri Nagamati, amiga de Ronilson Rodrigues, considerado o chefe da turma, diz que este lhe contara que a turma da pesada financiara a campanha de Donato. Sabem o que fez a prefeitura petista? Demitiu Paula, que exercia um cargo de confiança. Sabem quem assinou a demissão? Donato! O que há de verdade nisso? Não se sabe. O que é fato? Já havia denúncias contra Ronilson. Mesmo assim, o auditor fiscal virou diretor da SPTrans, uma empresa com orçamento de R$ 6 bilhões. Quem mandou nomear? Donato! Quem diz que foi Donato? O secretário, também petista, Jilmar Tatto, que é seu chefe.
Essa sequência é prova de culpa? Não! Quando menos, ela indica a necessidade de uma investigação. Mas quê… Haddad, o que antecipa o conteúdo de uma apuração em curso da Controladoria, também se comporta como juiz. No caso do petista, ele absolve por princípio. Já os não petistas são todos suspeitos.
Encerro
Haddad transforma o que poderia ser uma ação legítima e moralizadora numa operação politiqueira. Precisa recuperar prestígio a qualquer custo. Decidiu juntar a estratégia da “herança maldita”, a inventada por Lula, com a da “faxineira exemplar”, criada por Dilma. Vamos ver se, assim, o paulistano se conforma com o assalto a seu bolso e se sobe a popularidade do rapaz.  Alexandre Padilha conta com isso. Por Reinaldo Azevedo

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