domingo, 26 de janeiro de 2014

ADVOGADA DIZ QUE A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE VAI SURPREENDER A TODOS

A Comissão Nacional da Verdade vai surpreender a todos, disse na sexta-feira a advogada Rosa Cardoso, que integra o colegiado, ao final de audiência pública no Arquivo Nacional. Na audiência, foram ouvidas vítimas de torturas e testemunhas de mortes ocorridas na Vila Militar de Deodoro, na época da ditadura, entre 1969 e 1973. De acordo com a advogada, a comissão começou "recolhida, voltada pra si própria, para seu umbigo", mas, com a participação da sociedade e dos militantes, mudou sua postura. "E mudará bem mais”, disse ela. Rosa Cardoso pediu atenção aos trabalhos e disse que todos vão se surpreender com o relatório final, que deve ser elaborado no fim deste ano, quando a discussão será ainda mais aberta, com participação da sociedade. A advogada lamentou, porém, que a maioria dos violadores de direitos humanos durante a ditadura militar não compareça às audiências e lembrou que muitos já morreram, visto que os casos investigados aconteceram há cerca de 50 anos. Na parte da manhã de sexta-feira, um dos convocados para a audiência, o médico aposentado do Exército Hargreaves Figueiredo Rocha, de 82 anos, negou participação na necrópsia do preso político Severino Viana Colou, que, segundo depoimentos, foi torturado e morto pela Polícia do Exército em 1969. Rosa Cardoso considerou polêmica a declaração do médico de que o documento é uma fraude e duvidosa a afirmação dele de que nunca colaborou com os torturadores. "Vamos tentar ver se há outros laudos assinados por ele ou se este é um laudo isolado e rever as rubricas e ver se identificamos ali uma rubrica dele", disse ela. Dois agentes do regime militar foram convocados para depor, mas não compareceram. O presidente da comissão estadual do Rio de Janeiro, o advogado petista Wadih Damous, classificou de covarde a atitude daqueles que torturaram no passado e hoje se esquivam dos depoimentos. “Os que combateram a ditadura não se envergonham do que fizeram, mostram sua cara e fazem questão de vir contar suas histórias. E os valentões que torturaram, mataram e desapareceram [com pessoas], esses se escondem como ratos, não aparecem e, quando vêm, não abrem a boca”, disse o advogado petista. Além dos obstáculos causados pela falta de testemunho dos acusados, Damous criticou a falta de uma postura mais rígida por parte do Estado brasileiro em relação aos chefes militares. “Sinto-me envergonhado defronte de um argentino e um chileno, quando me indagam se algum torturador foi punido no Brasil e tenho que responder: nenhum. E sem ter a certeza de que um dia o serão”, afirmou. Por acaso ele queria também para o Brasil os 30 mil mortos da Argentina? É ridículo que um advogado queira que depoentes deponham justo contra si mesmo.

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