terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ASSIM NÃO, "JORNAL NACIONAL"! OU: O COITADISMO CRIMINOSO NUM POSTO DE GASOLINA OU NUMA FAZENDA EM MINAS GERAIS....

Assim não, “Jornal Nacional”! Ou: O coitadismo criminoso num posto de gasolina ou numa fazenda em Minas…

Vejam isto.
Já me acusaram de ser um defensor incondicional da TV Globo. Deve ser porque me oponho àquilo que os pterodáctilos chamam “controle social da mídia”, que é o outro nome da censura. Outro dia me enviaram um texto de um Zé Mané me acusando de tentar, calculem, levar a Globo para a direita. Quem sou eu?! E que se note: seja para elogiar, seja para criticar, não escrevo imaginando se este ou aquele vão me ler. Eu escrevo apenas para dois leitores, plagiando Gil Vicente: um leitor chamado “Ninguém” e outro leitor chamado “Todo Mundo”. Mas volto ao ponto: nem elogio nem critico a Globo por princípio. Quando gosto, aplaudo; quando não gosto, critico. Oponho-me ao controle social da mídia não por causa dos Marinhos. Eu me oponho ao controle social da mídia por causa dos Azevedos — uma gente bem mais mixuruca e vira-lata, mas em cujo cérebro também se realizam algumas sinapses. Adiante.
Hoje é crítica. O Jornal Nacional precisa tomar mais cuidado. Vi duas notícias, em sequência, editadas ambas de maneira um tanto perigosa. “Segundo qual critério, Reinaldo Azevedo?” Serve o do Estado de Direito?
Na primeira, um bando de vândalos, de bandidos, de vagabundos — assim os chamo eu, não a Globo —, é flagrado por câmeras depredando, saqueando e assaltando hipermercado e um posto de gasolina e espancando funcionários. O vídeo acima, como está claro, não é o da reportagem do JN.  Na saída, um deles, acreditem!, aciona a bomba de gasolina, derrama combustível no chão e risca um palito de fósforo. Felizmente, não acendeu. Imaginem quantas vítimas poderia ter feito se tivesse sido bem-sucedido. Ele só tentou porque sabia das consequências. É um monstro! É um canalha! É um assassino em massa em potencial.
Até aí, bem. Não havia sinais de simpatia do JN com os marginais, é claro! Mas aí começa a trilha perigosa. O JN informou: “Segundo a Polícia Militar, os jovens estavam revoltados com a suspensão de um baile que promoviam na rua”.
Bem, aqui vai a minha primeira observação, dirigida ao governo de São Paulo, muito especialmente ao comando da Polícia Militar. Quem quer que tenha passado essa suposta informação à reportagem da Globo tem de ser severamente advertido. TRATA-DE SE UMA MENTIRA. GENTE QUE FAZ O QUE SE VÊ NA REPORTAGEM É BANDIDA. Ninguém assalta porque está revoltado. Assalta porque é assaltante. Ninguém tenta explodir um posto de gasolina porque quer fazer baile. Quem age desse modo quer matar pessoas, além de causar um grande dano.
Em seguida, o JN gruda a seguinte informação à notícia:“O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse hoje que vai fornecer mais espaços para o lazer dos jovens em São Paulo. Ele quer levar iluminação pública para os 300 clubes de comunidades que funcionariam como praças públicas e que poderiam receber festas à noite, desde que não atrapalhem a vizinhança”.
Como é bacana este Haddad. Além da iluminação, espero que ele dote também os clubes de tratamento acústico. Ou o prefeito imagina um batidão de funk sem… “atrapalhar a vizinhança”? Pois é… Ainda que, de modo explícito, o JN não tenha justificado a ação dos criminosos, na sublinha fica a suspeita de que, NÃO FOSSE A PROIBIÇÃO DO BAILE, TALVEZ ELES NÃO HOUVESSEM ATACADO O POSTO. Não dá!
Imaginem, agora, se todos os funkeiros — ou que outro gosto tenham — que forem contrariados resolverem, digamos, reagir… Ao associar a fala de Haddad a uma notícia como essa, o JN, queira ou não, cria uma correlação entre os fatos, e fica parecendo que mandar um posto de gasolina para os ares é uma das consequências possíveis quando se proíbe um baile ou quando não existem as tais “opções de lazer”. Aqueles canalhas precisam é de cadeia, não de lazer.
O segundo caso
Vamos lá. Um grupo de 18 pessoas que se dizem quilombolas invadiu uma fazenda no norte de Minas, entre os municípios de Verdelândia e São João da Ponte. No domingo, outro grupo, este de 11 pessoas encapuzadas, entrou na fazenda, agrediu e expulsou os invasores. Consta que dois deles foram feridos a bala.
É óbvio, é ululante, é claro como a luz de um dia ensolarado que eu não apoio reações dessa natureza. Mas é preciso comentar certos aspectos tortos da reportagem do JN. O grupo que atacou os ditos “quilombolas” foi chamado de “bando” e de “criminosos”‘. Ok. Nada a opor. Era um bando. Eram criminosos. Mas pergunto ao JN: e os invasores eram o quê? Pombas da paz? Destaco um trecho da fala da repórter:“No sábado, um grupo de quilombolas de comunidades vizinhas entrou na fazenda. Eles dizem que era uma ação para reivindicar a desapropriação da área. Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que pode entrar em processo de reforma agrária”.
Um dos invasores da fazenda, o quilombola branco, tratado pelo JN só como vítima
Um dos invasores da fazenda, o quilombola branco, tratado pelo JN só como vítima
Ualá! Então vamos ver. Eu adorei o emprego do verbo “entrar”. Observem, então, que os sedizentes quilombolas “entraram” na fazenda, tá? Não foi invasão. Durante os protestos de junho, por exemplo, alguns black blocs e outros dinossauros também queriam “entrar” na Globo do Rio e de São Paulo, entenderam? A segurança foi reforçada. E se eles forçassem a “entrada”? Vai saber… Tenho certas ortodoxias: uma delas é achar que propriedade, rural ou urbana — seja uma fazenda ou uma emissora de TV —, não pode ser invadida… Ooops! Corrijo-me: o proprietário deve ter o direito de impedir a “entrada” de quem não foi convidado.
Volto ao texto. A “entrada”, então, segundo os quilombolas era “uma ação para reivindicar a desapropriação da área”. Ah, entendi. Informa mais a repórter:“Para o Incra, a fazenda está incluída em uma relação de imóveis que podem entrar em processo de reforma agrária”. Certo! Trata-se de propriedade privada, e o Incra acha que a terra deva servir à reforma agrária. Mas fica claro que não há nem mesmo uma ação de desapropriação em curso, nada!
Vale dizer: um bando resolveu tirar outro bando de uma fazenda. Foi isso o que aconteceu. E o fez da pior maneira. Sim, ações dessa natureza devem ser vivamente desestimuladas e punidas. Mas é preciso que também os invasores arquem com as consequências legais de seus atos, não é mesmo?
Ao fim da reportagem, há o depoimento de um dos “quilombolas” agredidos. O homem é mais branco do que eu antes das três semanas de sol do fim de dezembro e início de janeiro — e olhem que isso não é assim tão fácil, hehe… Tenho certas ortodoxias, que me desculpe a neoantropologia… Quilombola, creio, tem de ser negro, não? A ideia não é tomá-los como uma chamada “comunidade tradicional” — hoje em dia, isso costuma ser pura mistificação —, formada por descendentes de negros que foram escravizados? Para que essa “tradicionalidade” (sim, a palavra existe!) se mantenha, entendo, os descendentes de escravos teriam de ter conservado vínculos, tradições etc. Se não é assim, Tio Rei é índio e vai invadir todo o Litoral Norte de São Paulo…
Não! Definitivamente, eu não apoio a ação daqueles que entraram na fazenda para retirar de lá os invasores — e não os “entrantes”. Mas eu também não apoio a invasão e acho que as coisas têm de ser chamadas pelo nome que elas têm.
Sei, sei… Hoje em dia, para não cair na boca de sapo da difamação das redes sociais, a gente tem de ser simpático a invasores de terra, do MST ou quilombolas, ou de compreender que, em certas circunstâncias, certas comunidades acabam reagindo mal à falta de opções de lazer e saem por aí explodindo postos de gasolina. Ainda que reverente a essas canalhices, a imprensa segue sendo alvo da bandidagem ideológica.
Não! Não é a minha praia. Não vou fazer isso. Não condescendo com isso. E, adicionalmente, acho que quilombola tem de ser negro. #prontofalei. Por Reinaldo Azevedo

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