domingo, 9 de fevereiro de 2014

MÉDICA CUBANA QUE DESERTOU AFIRMA QUE QUEREM DESMORALIZÁ-LA

Há uma semana, a médica cubana Ramona Matos Rodriguez, de 51 anos, fugiu da cidade de Pacajá (PA), onde estava desde outubro trabalhando em um posto de saúde, e viajou para Brasília. Saiu de casa cedo, levando apenas uma pequena mala com roupas e toda a documentação necessária para comprovar o que o governo brasileiro sempre escondeu: o contrato diferenciado firmado com profissionais de Cuba para ingressarem no programa Mais Médicos, futura bandeira eleitoral de Dilma Rousseff. Enquanto todos os profissionais recebem 10.000 reais por mês, os cubanos têm salário de 400 dólares, cerca de 1.000 reais. Segundo ela, há uma promessa de que outros 600 dólares seriam depositados em uma conta bancária em Havana – o que Ramona diz não acreditar. Não demorou para ela ser alvo de ataques dos defensores do programa governista. O mais exaltado – e grosseiro – foi o descarado deputado federal José Geraldo (PT-PA), que subiu à tribuna para acusar a médica de abusar do álcool e "levar um homem estranho" para casa. “Querem me desmoralizar para tirar o foco das denúncias do Mais Médicos”, disse Ramona. “Em Pacajá, não tinha liberdade para sair na rua", completou. Ramona diz que poderá aceitar a proposta de trabalho feita pela Associação Médica Brasileira, onde conseguiu retirar a carteira de trabalho: "Eu vi as notícias que falaram sobre isso, mas até agora nada me foi dito. Eu penso em aceitar, claro, até porque estou esperando a resposta do Comitê Nacional para os Refugiados sobre o pedido de refúgio e isso pode durar vários meses. Também estou esperando resposta da Embaixada Americana sobre pedido de asilo político, que foi o primeiro que fiz quando cheguei a Brasília, e isso demora de três a quatro meses. Neste tempo, preciso trabalhar, custear as minhas coisas e por isso eu quis tirar a carteira de trabalho, para poder viver. Na associação, eu me sentiria mais respaldada e, como não posso ser médica aqui, gostaria de conseguir um trabalho na área da saúde". Ela diz que sua vida sofreu uma guinada muito grande: "É uma mudança radical. Em Pacajá, no Pará, eu não podia fazer o que estou fazendo aqui, que é me expressar livremente. Não podia dizer o que sentia ou o que pensava nem com as duas médicas cubanas que moravam comigo, porque elas poderiam relatar ao nosso superior. Também não tinha liberdade para sair na rua ou ir para qualquer lugar. Tinha de pedir permissão para um médico cubano que era um coordenador do programa. A minha vida em Pacajá era de trabalho, eu trabalhava com muitos pacientes, era a única médica do posto de saúde, e gostava muito. Aqui estou tranquila porque estou protegida, mas estou muito ansiosa por tudo o que está acontecendo. Não consigo dormir. De noite fico muito nervosa, durmo no máximo quatro horas". Ela diz que nunca pediu para sair à noite em Pacajá porque sabia que seus supervisores cubanos não permitiriam: "Eu nunca pedi porque sabia que não iam autorizar. Não tinha liberdade de pedir. As cubanas que moravam comigo diziam que se eu quisesse ir para algum lugar, deveria informá-las para que pedissem ao nosso coordenador. Não sei qual a relação entre as médicas e o coordenador, não me interessava, mas não tinha boa relação com elas". Ramona diz que sente por sua filha, que está em Habana: " Aqui em Brasília tenho falado com ela todos os dias, de uma a duas vezes. Ela me disse que a minha irmã que morava na minha casa foi desalojada pela polícia e pelo Partido Comunista. Minha casa era do Estado, eu sabia que isso iria acontecer. Minha filha mora em outro lugar e conta que eles a visitam todos os dias, perguntam se sabia que eu desistiria do programa. Ela responde que não sabia nada, o que é verdade. Ela está com medo. Até agora não aconteceu nada com ela. Mas é algo psicológico... Quando uma pessoa bate à sua porta todos os dias e te faz muitas perguntas.... Temo por minha filha. Ela está se formando na faculdade, também em medicina. Ela tem de fazer trabalhos, provas, e temo que qualquer coisa que ela faça tomem seu diploma ou atrapalhem sua formação".

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