segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O MÉTODO DE SEMPRE - VEJA DENUNCIA DIVULGAÇÃO DE DOSSIÊ APÓCRIFO PELO PETISTA GAÚCHO MAURO HAUSCHILD CONTRA O TAMBÉM PETISTA CARLOS GABAS, E O ALCAGUETE DA DITADURA LULA PASSA A MÃO POR CIMA

O secretário executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas, é um técnico respeitado no governo. Servidor de carreira do INSS há 28 anos, ele conhece como poucos os meandros do sistema previdenciário. Seu currículo acadêmico reúne algumas das mais importantes instituições do Brasil e do exterior. Gabas também é um quadro orgânico do PT. Ligado a Lula e a outros petistas históricos, ele já foi ministro da Previdência e hoje ostenta o prestígio de ser um dos auxiliares mais próximos da presidente Dilma Rousseff. A forma discreta de transitar nos assuntos do poder fez com que ele se tornasse no fim do ano passado um forte candidato a assumir a chefia da Casa Civil da Presidência, um dos cargos mais importantes e cobiçados da Esplanada. A possível ascensão, no entanto, chamou a atenção de desafetos, e Gabas passou a sentir na pele uma das mais constrangedoras situações que uma figura pública pode enfrentar: uma saraivada de acusações sobre sua vida pessoal e profissional difundida através de dossiês anônimos que chegam pelos Correios e se espalham pela internet. Materializado em uma carta anônima de quatro páginas, o dossiê foi enviado ao Palácio do Planalto, ao Ministério da Previdência e a uma série de órgãos estratégicos do governo. Gabas só ficou sabendo do papelório, postado por um remetente fictício de São Paulo, quando o documento parou sobre a mesa do ministro Garibaldi Alves, em 19 de dezembro de 2013. A partir desse dia, o secretário passou a reunir documentos sobre sua movimentação financeira e a de seus familiares, declarações de imposto de renda, extratos bancários e até escrituras de imóveis para desqualificar as acusações. Quando terminou, juntou o calhamaço de documentos e entregou ao ministro Garibaldi com uma carta na qual rebatia treze acusações. Ciente de que o ataque tinha como objetivo abalar sua credibilidade junto a Dilma, o secretário foi ao Planalto e repetiu as explicações ao chefe de gabinete da presidente, Giles Azevedo. "Fui vítima de uma sórdida e criminosa campanha de difamação. E o diabo é que há coisas que não tem nem como responder. É tudo tão absurdo", disse o secretário. Depois de prestar esclarecimentos aos superiores, Carlos Gabas decidiu tentar descobrir a origem do dossiê. Consultou amigos dentro do governo, companheiros de PT. E acha que descobriu. Um ministro próximo contou-lhe que quem estava distribuindo o material apócrifo em Brasília era o ex-presidente do INSS, Mauro Hauschild. A informação ampliou o campo de visão do secretário. O dossiê teria sido motivado por uma briga mais antiga. Gabas foi um dos defensores da demissão do colega em 2012. Hauschild deixou o cargo em meio a criticas por ter abandonado o órgão para participar de campanhas em seu Estado, o Rio Grande do Sul. Outro ponto de atrito que justificaria os ataques a Gabas seriam as relações de Hauschild com seus desafetos. A ação teria a colaboração de amigos da ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha. No fim de 2012, a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha especializada em vender facilidades no governo. Comandado pelo petista Paulo Vieira, o bando mantinha relações próximas com Hauschild e tinha em Rosemary Noronha uma das mais animadas colaboradoras. Segundo Gabas contou a colegas de ministério, a quadrilha tentou de todas as formas cooptá-lo. Com esse objetivo, certa vez, a própria Rosemary procurou Gabas para saber "o que ele tinha contra Paulo Vieira" e para sondar se existiria alguma possibilidade de "aproximar os dois". O secretário diz que foi justamente por se recusar a participar das traficâncias da quadrilha que passou a ser alvo de dossiês como o distribuído recentemente no governo. Procurado por VEJA na semana passada, Carlos Gabas informou que vai adotar todas as medidas para punir os responsáveis pelo dossiê apócrifo: "Vou acionar criminalmente todo mundo que estiver envolvido nisso. Quero a indenização mais alta que for possível. Só estou esperando passar esse processo da reforma ministerial, que me pôs em evidência". Questionado sobre o caso, Mauro Hauschild afirmou que nada teve a ver com o dossiê: "Sempre tivemos uma relação de muita cordialidade, respeito e bastante profissionalismo. Não conheço nenhum detalhe da vida pessoal do Gabas e jamais procurei algum tipo de informação de quem quer que seja". Hauschild se diz vítima de uma intriga no governo. Há duas semanas, Gabas reuniu-se com Lula para discutir seu futuro no governo. Na conversa, ouviu a confirmação de que Aloizio Mercadante seria escolhido para a Casa Civil. Lula pediu a ele que não ficasse chateado e aproveitou para convidá-lo a trabalhar na equipe de campanha da presidente. O respaldo foi o sinal de que a tentativa dos inimigos de macular sua imagem não havia dado certo. A prática de fazer dossiês para atacar desafetos políticos, de tão rotineira, tornou-se ao longo dos anos um método de fazer política da ala de petistas aloprados — que não poupa nem os aliados.

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