quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PARABÉNS, PRESIDENTE DILMA! VALOR DE MERCADO DAS ELÉTRICAS RECUOU 27% DESTE CORTE NA CONTA DE LUZ

Em período de turbulência no setor elétrico devido à falta de chuvas e ao atraso de projetos, não só o consumidor está insatisfeito, mas também o investidor têm motivos para queixas. Um levantamento feito pela consultoria Economatica a pedido do site de VEJA mostrou que as companhias do setor elétrico com ações listadas na BM&FBovespa já perderam 27,3% do seu valor de mercado, em média, desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou mudanças no setor. Em setembro de 2012, por meio de medida provisória, o governo impôs a antecipação da renovação dos contratos com as companhias elétricas com vencimento em 2017. As que não aceitaram as novas condições, que previam tarifas mais baixas ao consumidor, não renovaram as concessões e receberam indenizações da União. De lá pra cá, o valor de mercado das geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia mingou de 201,3 bilhões para 146,3 bilhões de reais.

Entre as 28 empresas avaliadas, 22 tiveram perdas. As exceções foram: Equatorial Energia, cujo valor em bolsa subiu 132,2%, para 4,26 bilhões de reais; Cemar (52,5%; 2,42 bilhões); Renova (51,5%; 3,31 bilhões); Energisa (51,2%; 3,42 bilhões); e Tractebel (1,5%; 22,71 bilhões). No mesmo período (de 6 de setembro de 2012 a 11 de fevereiro de 2014), o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou 15%.
Consideradas boas pagadoras de dividendos, as empresas do setor elétrico sempre foram o porto seguro do investidor na bolsa. O setor costumava ser um dos favoritos do investidor conservador, que mira o longo prazo, e também dos fundos de pensão e previdência privada. Exemplo disso é a Cemig, de Minas Gerais, que pagou 3,3 bilhões de reais em dividendos aos acionistas em 2013 (referentes ao exercício de 2012), o equivalente a 1,87 real por ação. Além disso, foram pagos 1,99 real por ação em juros sobre o capital próprio. Para se ter uma ideia, a Petrobras pagou apenas 93 centavos por ação (o equivalente a 5,236 bilhões de reais) no mesmo período. Os dividendos correspondem à remuneração de 25% do lucro líquido das companhias entre seus acionistas.
Por se tratar de um setor de políticas estáveis desde o período das privatizações, na década de 1990, as mudanças levadas à cabo pelo governo da presidente Dilma foram muito mal assimiladas tanto pelo investidor brasileiro quanto pelo mercado externo. Foi a partir daí que uma onda de desconfiança e descrença em relação ao Brasil se formou — e se consolidou no ano seguinte.
Perdedoras
Justamente as empresas privadas que não aceitaram renovar seus contratos com o governo mediante os novos termos foram algumas das que mais se desvalorizaram na bolsa. Juntas, Cemig, Cesp e Copel tiveram queda média de 37,24% em seu valor de setembro de 2012 até o dia 11. No caso da Cemig, houve recuo de 41% no período, passando de 28,42 bilhões de reais para 16,76 bilhões. Cesp e Copel valiam há um ano e meio 10,04 bilhões e 9,22 bilhões de reais, respectivamente. Hoje, as duas companhias amargam quedas de 29,2% 34,2%, cada.
A estatal Eletrobras, que não teve escolha a não ser cumprir as ordens de Brasília, também viu seu valor de mercado despencar de maneira impressionante — mais de 58% no período. A queda já era esperada devido à inércia da empresa em relação às mudanças regulatórias. Seu ônus é similar ao da Petrobras quando se trata de ter de se submeter a decisões de Estado, mesmo quando a empresa é de capital misto. Os investidores, nesse caso, saíram perdendo. O valor de mercado passou de 19,22 bilhões de reais para 8,01 bilhões de reais, recuo de 58,28%. Apenas em 2012, a Eletrobras perdeu quase 10 bilhões de reais em valor de mercado.
Desde então, as dificuldades de investimento da companhia se mostram cada vez mais são evidentes e cogita-se, inclusive, a venda de seus ativos de distribuição para poder direcionar esforços a seus maiores mercados: geração e transmissão. Na sexta-feira passada, a Eletrobras venceu, junto com a chinesa State Grid, o leilão de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte (Pará), com desconto de 38% na receita anual permitida (RAP) — sua oferta foi de 434 milhões de reais.
Outras perdedoras do setor foram prejudicadas não só pelo contexto regulatório, mas também por problemas — ou turbilhões, em alguns casos — de ordem interna. A Eneva Energia, ex-MPX, é o caso mais emblemático. Ao mesmo tempo em que o setor elétrico enfrentava uma crise de confiança, o grupo EBX, fundado por Eike Batista, era desmantelado. Assim, o valor de mercado de seu braço de energia elétrica despencou 73,34% entre 6 de setembro de 2012 até o fechamento de terça-feira, passando de 69,85 bilhões para 18,61 bilhões de reais. Apenas em 2013, a queda somava 67,31%.
Já a Rede Energia enfrentou problemas financeiros nos últimos dois anos, que culminou em intervenção estatal e um pedido de recuperação judicial. Estão sob gestão do governo oito empresas do grupo, tais como Cemat (Centrais Elétricas Mato-Grossenses), a Celtins (Companhia Elétrica do Estado do Tocantins), Enersul (Empresa Energética do Mato Grosso do Sul), Companhia Força e Luz do Oeste (CFLO), Caiuá D (distribuidora), Empresa Elétrica Bragantina (EEB), Vale do Paranapanema e Companhia Nacional de Energia Elétrica (CNEE). Apenas em 2013, seu valor em bolsa caiu 43,58%. Por Reinaldo Azevedo

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