domingo, 2 de fevereiro de 2014

PARTIDARIZAÇÃO, IDEOLOGIZAÇÃO, PETIZAÇÃO E MAIS CRISE ENTRE DELEGADOS E AGENTES QUASE PARALISAM OS TRABALHOS DA POLÍCIA FEDERAL, UMA POLÍCIA POLÍTICA DO PT

Em um movimento sem precedente na história da Polícia Federal, agentes, escrivães e papiloscopistas estão se rebelando contra o domínio dos delegados sobre a estrutura da instituição. Esses delegados, em grande parte, são alinhados com o PT e transformaram o órgão em uma espécie de KGB do PT. Na guerra por cargos, salários e reforma da polícia, agentes estão se recusando abertamente a cumprir ordens de delegado para situações que vão do simples ato de dirigir um carro em uma operação até a produzir "relatórios de inteligência" de grandes investigações criminais. Os atos de resistência contra o que chamam de feudo dos bacharéis vão além dos limites de uma simples rixa de corporações. Os embates entre os grupos racharam os pilares da disciplina em alguns setores e já estão afetando o número e a qualidade das operações de combate à corrupção. O clima é tão pesado que, em alguns casos, policiais das categorias litigantes mal trocam cumprimentos. As pequenas rebeliões, que se multiplicam em várias direções, podem complicar parte do esquema de segurança da Copa e repercutir até mesmo nas eleições presidenciais em outubro deste ano. Com a policia conflagrada, a presidente Dilma Rousseff teria dificuldade de apresentar a instituição como modelo de luta contra os desvios de verbas da administração pública como aconteceu durante as campanhas eleitorais de 2006 e 2010. A tensão entre delegados e agentes se estende também ao Instituto Nacional de Criminalística (INC). Peritos também reclamam do exclusivismo dos delegados. "As coisas estão se agravando. Delegados não cedem em ponto nenhum. Não vejo luz no fim do túnel", afirma um experiente perito. As disputas de agentes, escrivães e papiloscopistas contra delegados são antigas, mas se tornaram ainda mais acirradas depois da fracassada greve dos policiais federais em 2012. Depois de 72 parados, agentes, escrivães e papiloscopistas voltaram ao trabalho sem os reajustes salariais reivindicados, mas decididos a esticar a corda até o limite da força. A partir de então, começaram a pipocar País afora os atos de desobediência explícita. No Distrito Federal, um agente disse "não" quando a delegada Andreia Albuquerque, que estava à frente da Operação Miquéas, pediu um relatório analítico sobre escutas e movimentação financeira dos investigados. O agente disse que repassaria os dados brutos a Andreia. Caberia à delegada, e não a ele, fazer os cruzamentos de informações e extrair as devidas conclusões sobre as supostas ligações de políticos com um famoso doleiro local. Para se proteger contra eventuais punições, o agente se escudou na portaria 523/89, que estabelece as atribuições dos policiais. Na visão da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), a portaria não inclui entre as tarefas de um agente a análise crítica de uma investigação. Pelo entendimento deles, se não está na lei, a ordem do delegado perderia a eficácia. Na verdade, delegados federais, além de terem tornado a Polícia Federal em uma polícia política do PT, tornaram-se também uma espécie de marajás no serviço público, aburguesaram-se e jogam todas as tarefas para os policiais subalternos. Em São Paulo, um dos atos de resistência teve desfecho trágico. Um grupo de 20 policiais de Ribeirão Preto e Bauru, especializados em ações contra o narcotráfico, se recusou a participar da interceptação de um avião que, depois de sair do Paraguai, pousaria numa fazenda em Bocaina carregado de armas e cocaína. Os policiais cruzaram os braços com o argumento de que não tinham fuzis potentes, visores noturnos e carros blindados para enfrentar os criminosos, conforme determina as normas de segurança. A partir dali, um delegado recrutou às pressas agentes de outras cidades e correu até o local onde do desembarque das drogas. Segundo um dos agentes que se recusaram a participar da ação, os colegas foram surpreendidos pelos bandidos. Os criminosos fugiram com o carregamento de cocaína em um carro e, na troca de tiros, mataram um agente federal. "Enquanto nós vamos lá na linha de frente contra os criminosos, os delegados ficam nos gabinetes, aguardando os resultados para darem entrevista. A revolta é geral", afirma um dos agentes que disseram "não" a ordem de interceptar o carregamento de cocaína. Em Minas Gerais, agentes do serviço de inteligência suspenderam a análise de escutas telefônica da Operação Esopo, sobre supostos desvios de dinheiro de ongs financiadas pelo Ministério do Trabalho. Depois do episódio, os chefes locais fizeram um convênio com as polícias Civil e Militar para cobrir serviços rejeitados pelos agentes federais. Segundo relatório divulgado recentemente pela Fenapef e não contestado pela direção-geral, o número de indiciamentos em investigações sobre peculato, concussão, emprego irregular de verba pública, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha caiu 86% em relação a 2007, quando a Polícia Federal estava no auge das grandes operações de combate à corrupção. Para alguns policiais, o declínio é irreversível. Os agentes reivindicam 100% de reajuste salarial, ocupação de cargos estratégicos e a criação de uma carreira única dentro da Polícia Federal aos moldes do FBI. Um agente em início de carreira ganha salário de R$ 7,5 mil, menos da metade dos vencimentos de um delegado principiante, que recebe R$ 15.374,64 por mês. Eles se sentem ultrajados ainda porque viram salários de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) dobrar nos últimos anos. A Fenapef afirma ainda que os delegados ocupam 95% dos cargos estratégicos de chefia em detrimento de agentes, escrivães, papiloscopistas e até de peritos. A polícia tem aproximadamente 1.700 delegados, com cerca de 1.200 deles em cargos de chefia. Ou seja, perfeitos burocratas, pilotos de cadeiras de rodinha. Os agentes citam como exemplo a Coordenação Geral de Tecnologia da Informação, chefiada por um delegado e não por um especialista em informática. "Por que tem que ser delegado a ocupar cargos de chefia se isto não está na lei", afirma o vice-presidente da Fenapef, Luís Boudens? Ora, porque isso rende FGs polpudas para os delegados, e incorporações salariais que irão até o fim da vida. O presidente da Associação Nacional dos Delegados Federais (ADPF), Marcos Leôncio Ribeiro, confirma que é forte a tensão entre agentes e delegados. Segundo ele, essas desavenças são antigas mas, agora, estão "potencializadas".

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