quarta-feira, 23 de abril de 2014

PRESERVAR LAGO DE HIDRELÉTRICA COLOCA EM RISCO ABASTECIMENTO DE PIRAPORA, EM MINAS GERAIS

O município de Pirapora, em Minas Gerais, passa por uma situação singular - pode ter o abastecimento de água prejudicado para que o lago da hidrelétrica de Três Marias não seque antes das chuvas do próximo verão. A usina é da Cemig, mas quem coordena o volume de água na barragem é o Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão responsável pela gestão do sistema elétrico nacional. "Nossa situação não faz o menor sentido", diz Esmeraldo Ferreira Santos", diretor-presidente do Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto de Pirapora: "A prioridade do uso da água é o abastecimento humano". O município precisa construir a toque de caixa um novo sistema de captação de água. O atual, que se abastece no rio São Francisco, há cerca de 50 anos, só funciona quando o volume de água do Velho Chico corre acima de 250 metros cúbicos por segundo (m³/s). Esse volume pode ser regulado pelas comportas da hidrelétrica de Três Marias, a 120 km rio acima da cidade. Por determinação do ONS, esse volume deve cair para 150 m³/s a partir de 1º de junho, mas o município diz não ter como cumprir o prazo. O ONS, por sua vez, declarou à prefeitura que precisa tomar a providência para preservar o lago da hidrelétrica. Barragens de hidrelétricas são como caixas de água. Numa ponta entra a água de um rio. Na outra, a água desce pelas turbinas, gerando energia, retornando ao rio. O nível do lago varia de acordo com volume que entra e o volume que sai. Segundo simulações apresentadas pelo ONS à prefeitura de Pirapora, sem a redução, no fim do mês de setembro (mais precisamente dia 25), o lago de Três Marias estará completamente seco. Se o volume for reduzido, o lago terá de 5,5% a 6% de água em novembro, quando começam as chuvas de verão. Segundo especialistas, a barragem de Três Marias vive uma situação complicada. A quantidade de água do São Francisco que entra é hoje menor do que a quantidade que sai na outra ponta. A forma como o processo foi conduzido – é isso que mais incomoda a prefeitura de Pirapora, em Minas Gerais, na discussão sobre a redução no volume de água que será liberado da barragem de Três Marias para o rio São Francisco. "Nos avisaram em cima da hora, numa reunião há 30 dias", diz Esmerado Ferreira Santos, diretor-presidente do Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto de Pirapora: "Eles tinham que nos manter informados, mas do jeito que fizeram foi como dizer: se vira, vai lá e faz". Segundo Santos, o município precisa de R$ 2,4 milhões em investimentos e de 60 a 90 dias para instalar um novo sistema de captação, com bombas, para puxar a água quando ocorrer a redução no volume de água dos atuais 250 metros cúbicos por segundo (m3/s) para 150 m3/s, como determinou o Operador Nacional do Sistema (ONS). O tamanho da redução proposta pelo ONS causou estranhamento por uma razão simples: "Em 2001, por causa do racionamento, um momento difícil, ficou estabelecido que o volume mínimo seria 300 m3/s e nunca pensamos que pudesse cair abaixo disso, mas o ONS avisou que baixaria para 250 m3/s", diz Santos. O lago de Três Marias é vital para o setor elétrico. Pode suprir uma cidade com 850 mil habitantes. Mas está com 18% da capacidade. Se baixar mais, não apenas pode deixar de gerar a energia esperada, como afetar o abastecimento em dezenas de municípios junto ao São Francisco.

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