quinta-feira, 1 de maio de 2014

DILMA FEZ CAMPANHA NA TELEVISÃO, E PARTIU PARA O ATAQUE CONTRA A OPOSIÇÃO

A presidente Dilma Rousseff usou a cadeia de rádio e televisão para fazer discurso eleitoral. Esta foi a quarta-feira em que a candidata Dilma Rousseff partiu para o ataque. Depois de começar o dia afirmando que "tocará em frente" sua campanha à reeleição mesmo se aliados desistirem de apoiá-la, Dilma usou a cadeia nacional de rádio e televisão para fazer um discurso em tom eleitoral, abordando pelo menos doze temas, numa mistura de anúncios de medidas, prestação de contas e ataque – sem citar nomes – "àqueles que defendem o quanto pior, melhor", numa retomada da retórica palanqueira do "nós contra eles" ensaiada em pronunciamentos anteriores. O pronunciamento, cujo pretexto era o Dia do Trabalho, foi feito num momento em que Dilma enfrenta a pior crise do seu governo, às voltas com a abertura de uma CPI no Congresso Nacional para investigar a Petrobras. Em sua fala, ela acusou – sempre sem dizer a quem estava se referindo – de "utilizar problemas, mesmo que graves, para tentar destruir a imagem" da estatal petroleira. "Não transigirei, de nenhuma maneira, em combater qualquer tipo de malfeito ou atos de corrupção, sejam eles cometidos por quem quer que seja. Mas igualmente não vou ouvir calada a campanha negativa dos que, para tirar proveito político, não hesitam em ferir a imagem dessa empresa que o trabalhador brasileiro construiu com tanta luta, suor e lágrimas", disse, exortando o trabalho de órgãos de fiscalização do governo e da Polícia Federal: "O que envergonha um país não é apurar, investigar e mostrar. O que pode envergonhar um país é não combater a corrupção, é varrer tudo para baixo do tapete. O Brasil já passou por isso no passado e os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia, a covardia ou a conivência". O discurso no rádio e na TV também foi redigido para tentar responder às pesquisas de intenções de voto e avaliação do seu governo, sucessivamente em queda livre. Uma das constatações das sondagens dos institutos de pesquisas é que o brasileiro afirma que buscará mudança nas urnas neste ano. "Nosso governo tem o signo da mudança e, junto com vocês, vamos continuar fazendo todas as mudanças que forem necessárias para melhorar a vida dos brasileiros", disse: "Continuar com as mudanças significa também continuar lutando contra todo tipo de dificuldades e incompreensões, porque mudar não é fácil, e um governo de mudança encontra todo tipo de adversários, que querem manter seus privilégios e as injustiças do passado, mas nós não nos intimidamos". Dilma também fez dois anúncios: disse que assinou uma Medida Provisória corrigindo a tabela do Imposto de Renda – coincidentemente, hoje é o último dia para o contribuinte entregar sua declaração à Receita Federal – e reajustará em 10% o valor do Bolsa Família. "Em alguns períodos do ano, sei que tem ocorrido aumentos localizados de preço, em especial dos alimentos. E esses aumentos causam incômodo às famílias, mas são temporários e, na maioria das vezes, motivados por fatores climáticos. Posso garantir a vocês que a inflação continuará rigorosamente sob controle, mas não podemos aceitar o uso político da inflação por aqueles que defendem 'o quanto pior, melhor'. Temos credibilidade política para dizer isso. Nos últimos 11 anos, tivemos o mais longo período de inflação baixa da história brasileira". De fato, entre 2003 e 2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está, em média, abaixo do que foi apurado nos onze anos imediatamente anteriores — afinal, o Plano Real e seus pilares foram implementados a partir de 1994, período em que a inflação ultrapassava 1 000% ao ano. Eliminar uma doença econômica que afligiu o País durante décadas consumiu anos da administração de Fernando Henrique Cardoso. Com a chegada do governo Lula e a manutenção da política fiscal desenhada pelo time de Fernando Henrique Cardoso, o IPCA conseguiu se manter, durante três anos, abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano. Contudo, desde a chegada de Dilma ao Planalto, o índice se manteve mais próximo do teto da meta, de 6,5%, passando a mensagem ao mercado de que os 4,5% deixaram de ser o porcentual perseguido pela equipe econômica. Em 2014, economistas consultados pelo Banco Central já prevêem que o IPCA terminará acima da meta. Para tentar frear a disparada dos preços, o governo Dilma lançou mão de expedientes nada ortodoxos, proibindo o aumento do preço da gasolina e forçando a redução do preço da energia. O preço pago pelo País é caro e a Petrobras é o maior exemplo disso: a estatal passa por situação financeira delicada, com endividamento acima de 200 milhões de reais. "Meu governo também será sempre o governo do crescimento com estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração correta das contas públicas", disse ela. Não é bem assim – A presidente não só fez uma afirmação incorreta, como também ignorou todas as consequências decorrentes justamente do aumento da gastança pública. Exemplo disso é o rebaixamento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. A agência relatou a deterioração fiscal como fator preponderante para o rebaixamento. O resultado primário divulgado pelo Tesouro Nacional nesta quarta-feira resume bem a situação: a economia do governo para pagar os juros da dívida em março deste ano é a mais baixa desde junho de 2009 — período em que o mundo assimilava o impacto de uma crise financeira sem precedentes. Hoje, não há a desculpa da crise. Mas os indicadores estão convergindo cada vez mais para os parâmetros daquele ano, quando a economia brasileira teve contração de 0,6%. No acumulado de 2013, o Brasil teve o pior superávit primário dos últimos 12 anos. Sobre a conta de luz, ela disse no dircurso que a tarifa teve a maior redução da história: "A seca baixou o nível dos reservatórios e tivemos de acionar as termoelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imaginem se nós não tivéssemos baixado as tarifas de energia em 2013. Os investimentos que fizemos em geração e transmissão de energia permitem hoje ao Brasil superar as dificuldades momentâneas, mantendo a política de tarifas baixas". Não é bem assim — A redução de cerca de 20% na conta de luz anunciada no final de 2012 já começa a ser revertida por meio dos reajustes tarifários autorizados pelo governo às distribuidoras. Desde o início de abril, reajustes de mais de 15% foram anunciados para os consumidores das elétricas Celpe, Cemig, Coelce, AES Sul,  Coelba, Cemat e CPFL Paulista. A presidente reclamou dos gastos com as termelétricas e disse que o custo seria maior para a população se ela não interferisse no setor para reduzir as tarifas. Neste caso, os fatos foram ligeiramente destorcidos. Afinal, parte da necessidade de uso das térmicas se deve ao fato de o governo ter antecipado o fim dos contratos com as empresas do setor como forma de permitir o corte na conta de luz. A antecipação forçada não contou com a adesão de todas as empresas. As que não ‘fecharam’ com o governo, deixaram de fornecer ao sistema — o que aumentou a necessidade de uso das térmicas. E quem paga essa conta é consumidor, por meio de reajustes anuais, e o contribuinte — afinal, parte da conta das termelétricas é bancada pelo Tesouro. Na área de mobilidade urbana ela disse no discurso: "O pacto pela mobilidade urbana está investindo 143 bilhões de reais, o que permite a implantação de metrôs, veículos leves sobre trilhos, monotrilhos, BRTs, corredores de ônibus e trens urbanos. Com isso, estamos melhorando o sistema viário e o transporte coletivo público nas cidades brasileiras". Ora, também não é bem assim – A presidente exaltou o total de investimento do seu governo, porém, a rubrica específica de mobilidade urbana do PAC 2 aponta que somente 2% das 253 obras previstas saíram do papel.

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