quarta-feira, 23 de julho de 2014

ABSURDO! SANTA CASA DE SÃO PAULO SUSPENDE ATENDIMENTO DO PRONTO-SOCORRO ALEGANDO FALTA DE RECURSOS; PRIMEIRA PROVIDÊNCIA É DESTITUIR O ADMINISTRADOR

Eu não entendo nada de hospital, mas entendo um pouco de lógica. Não entendo muita coisa sobre o preço dos procedimentos médicos, mas sei, por exemplo, que a tabela do SUS é ridiculamente baixa e não cobre o custo das instituições conveniadas. Dito isso, mando ver: a Santa Casa de São Paulo só parou de receber, do dia para a noite, pacientes no pronto-socorro em razão de um problema de gestão. É isso mesmo! Lamento escrever o que segue, mas a minha dúvida a respeito é zero: o sr. Kalil Rocha Abdalla, provedor da Santa Casa, em seu terceiro mandato, tem de ser destituído. Por que afirmo isso sem nem mesmo examinar as contas do hospital? Porque não se faz o que ele fez. Está usando a saúde dos pobres no que parece ser um braço de ferro com autoridades municipais, estaduais e federais de saúde. Um hospital, quando é bem administrado, sabe com pelo menos seis meses de antecedência se está ou não para fechar as portas do seu pronto-socorro. Logo, que o sr. Abdalla tivesse convocado uma coletiva há dois meses, há um que fosse, e anunciasse: “Se eu não tiver dinheiro, suspenderei o atendimento no pronto-socorro no dia X”. Fazer como fez, lamento dizer, é demagogia — e das mais perigosas, porque lida com vidas alheias.

Que ele não seja o rei da gestão, dá para ter certeza. Em seu terceiro mandato, há seis anos no comando do hospital, ele gerencia um orçamento R$ 1,5 bilhão, mas a entidade deve R$ 350 milhões. Quando ele chegou ao comando, a dívida era de apenas R$ 70 milhões. Há algo de profundamente errado nessa trajetória — e tem, sim, a ver com gestão. É claro que as três esferas de governo se mobilizam agora para “salvar” a Santa Casa. Que o façam! Mas me parece que ela tem de ser salva, também, da gestão de Abdalla. É lamentável, chega a ser asqueroso, que uma entidade desse porte suspenda o atendimento a pacientes sem um prévio aviso à sociedade — sim! À sociedade.
Digamos que este senhor estivesse andando de gabinete em gabinete em busca de dinheiro. Digamos que só tivesse ouvido “não” e “promessas”… Ora, que trouxesse, então, a questão a público precocemente, antes de optar por essa ação que só atenta contra os interesses dos mais pobres. A situação da Santa Casa me comove; a de Abdalla, não.
Vai entrar certamente mais dinheiro público na instituição. Acho, no entanto, que não se pode dar um tostão sem que se proceda a uma rigorosa auditoria nas contas. Atenção! Não estou aqui a levantar a suspeita de malversação dolosa de recursos, não. Não que eu saiba. Mas que há má administração culposa, há, sim. Ou uma pantomima macabra como essa não teria acontecido.
Vocês não sabem como fico aqui a me coçar para jogar a responsabilidade nas esferas políticas — e certamente elas têm sua parcela de culpa. A gestão federal da saúde, em particular, é uma calamidade. E isso é praticamente consenso. Mas não vou cair no truque do sr. Abdalla, não! Isso jamais deveria ter acontecido.
Que o Poder Público, nas três esferas, preste a devida assistência à Santa Casa e que Abdalla seja destituído do seu cargo. A menos que tenha reivindicado um terceiro mandato com o intuito de fechar o pronto-socorro só para provar uma tese. Não é preciso ser especialista em custos hospitalares para saber que algo está profundamente errado nessa história — e não é só falta de repasse de recursos. Este senhor perdeu a condição de comandar um hospital desse porte. Ele foi eleito para que isso não acontecesse. Se aconteceu, ninguém precisa dele. Por Reinaldo Azevedo

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