terça-feira, 1 de julho de 2014

KASSAB DIZ QUE MANTÉM CANDIDATURA, ORA, E POR QUE NÃO MANTERIA? TESE DO "PADRINHO" E "AFILHADO" É RIDÍCULA E NÃO SE SUSTENTA NOS FATOS

Os sites noticiosos informam que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) manterá a sua candidatura ao Senado. E se pretende emprestar a isso certo caráter de surpresa, uma vez que o tucano José Serra vai disputar a mesma vaga, mas pela coligação que apóia a candidatura de Geraldo Alckmin. Kassab, como é sabido, rompeu as conversações que mantinha com o PSDB e aderiu à candidatura do peemedebista Paulo Skaf — uma solução, convenham, mais coerente com a sua escolha nacional, já que é um aliado de primeira hora da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição.

Cada um escreva o que quiser, com mais apreço à realidade ou menos, a de agora e a do passado recente. Sempre que leio que Serra é o “padrinho político” de Kassab, lembro de convocar os fatos. Em 2008, quando o agora presidente do PSD disputou a Prefeitura de São Paulo — o que lhe valia legalmente como reeleição, já que ocupara o lugar de Serra em 2006, que se elegeu então governador —, contou com o apoio informal do tucano, que também deu suporte à candidatura de Geraldo Alckmin. Será que era possível fazer algo diferente? É evidente que não! Mas atenção! Quem elegeu Kassab foram os eleitores, não Serra. E eles o fizeram por uma expressiva maioria: 60,72% contra 39,28% para a petista Marta Suplicy.
Quando, na Prefeitura, Kassab começou a articular seu novo partido, os especuladores saíram a campo: Serra estaria por trás daquela movimentação. Não tardou, como ficou evidente, para que o PSD fosse atraído para a órbita do governo federal — na verdade, do PT. A aproximação resistiu mesmo à feroz campanha que o partido fez contra a gestão Kassab em 2012. Embora os ataques se concentrassem na figura de Serra, o trabalho que estava sob ataque era o do então prefeito. Nem bem as urnas haviam se fechado, ele posava para fotos ao lado de Fernando Haddad. E foi o primeiro partido a declarar lealdade a Dilma.
Serra é “padrinho político”? Será que os jornalistas leram o que pensa o tucano sobre o governo que Kassab quer ver reeleito? Acho que não! Será que atentaram para o massacre a que foi submetido o ex-governador em 2012 e, incrivelmente, nos dias subsequentes? Ainda hoje, é um dos alvos principais da Al Qaeda Eletrônica.
De novo, desta feita, quando Kassab rompeu as conversas com os tucanos e se mudou para a candidatura Skaf — em consonância, reitero, com a sua opção nacional —, surgiu a conversa de que ali estava “mais uma obra de Serra”, que teria decidido se candidatar ao Senado, recuado para, de novo, mudar de idéia. Bem, as coisas não aconteceram desse modo. Trata-se de mera versão sem fatos. Serra tinha, e com razão, uma precondição para se candidatar ao Senado: a unidade dos partidos que apóiam a candidatura Alckmin. Por exigência legal, a legenda que decidisse lançar seu próprio nome ao posto teria de sair também da coligação que disputa o governo. Acabou acontecendo, por exemplo, com o PTB: Campos Machado insiste em lançar a própria mulher e deixou a frente.
Ora, essa costura não tinha sido feita ainda. Satisfeita a condição necessária, o ex-governador atendeu à vontade de amplos setores do partido, de Aécio Neves e, por óbvio, de Alckmin e decidiu entrar na disputa. Por que o nome que surge como o favorito — não entre os tucanos, mas entre os postulantes de todas as legendas — ficaria fora da disputa?
Amizade pessoal não é relação de apadrinhamento político. Um padrinho endossa — ou tem poder de veto sobre — as escolhas de seu afilhado. Alguém realmente acha que Serra endossa o fato de o partido de Kassab estar na base de apoio da presidente Dilma e de ter sido o primeiro partido a anunciar essa escolha — antes mesmo de o PT fazê-lo? Um afilhado político, por seu turno, não tem existência própria sem as bênçãos do padrinho. E, tudo indica, Kassab conquistou o seu lugar, independentemente das escolhas de Serra — e isso ocorreu de modo claro em 2008, quando os eleitores lhe deram a cadeira de prefeito. Não foi Serra.
E, se evidência faltasse de que não há operação conjunta, ela surge agora. “Ah, talvez Kassab não tivesse se candidatado se soubesse que Serra disputaria". É, talvez. Mas se candidatou. Logo, não sabia. Logo, há de se concluir que esta seria uma estranha relação de padrinho e afilhado, não é mesmo? Aliás, ambos têm, agora, uma excelente oportunidade de demonstrar que as teorias conspiratórias não passavam de conspirações dos teóricos do nada. Por Reinaldo Azevedo

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